Morre Zé Celso Martinez Corrêa, renomado diretor de teatro brasileiro

Sua partida deixa um vazio irreparável na cena teatral e artística brasileira

Gabriel Modesto

Morre Zé Celso Martinez Corrêa, renomado diretor de teatro brasileiro
Zé Celso
José Carlos Martinez/Instagram/Agência Brasil

Morre Zé Celso, renomado diretor de teatro brasileiro, nesta quinta-feira (06). O dramaturgo foi vítima de um incêndio causado por um aquecedor elétrico em seu próprio apartamento, em São Paulo, na terça-feira, dia 04, e foi internado após o incidente. A informação foi confirmada pelo Teatro Oficina, companhia fundada por Zé Celso em 1958.

"Tudo é tempo e contra-tempo! E o tempo é eterno. Eu sou uma forma vitoriosa do tempo. Nossa fênix acaba de partir pra morada do sol. Amor de muito. Amor sempre"

Zé teve muitas queimaduras no corpo e foi levado ao Hospital das Clínicas, onde passou por uma cirurgia e precisou ser entubado. O quadro de saúde se agravou e o diretor teve falência dos órgãos na manhã desta quinta-feira. 

O marido de Zé Celso, Marcelo Drummond, e os outros dois moradores do apartamento, Victor Rosa e Ricardo Bittencourt, estão estáveis e seguem em observação pela inalação de fumaça.

Quem foi Zé Celso?

Zé Celso Martinez Corrêa, conhecido como Zé Celso, foi um renomado diretor de teatro brasileiro. Nascido em 1937, na cidade de Araraquara, no estado de São Paulo, Zé foi uma figura icônica e influente na cena teatral brasileira.

Trajetória do ator e dramaturgo Zé Celso

Zé Celso deu início à sua carreira no final da década de 1950, escrevendo e encenando duas peças de sua autoria: "Vento Forte para Papagaio Subir" e "A Incubadeira". Sua influência artística ultrapassou os limites dos palcos e também se manifestou em obras cinematográficas, como "O Rei da Vela" e "25"

Ele foi o fundador e diretor do Teatro Oficina, um dos mais importantes e longevos grupos teatrais do Brasil. Ao longo de sua carreira, Zé Celso desenvolveu um estilo de encenação inovador, marcado pela experimentação, a fusão de diversas linguagens artísticas e um forte engajamento político.

Desde 1982, o Teatro Oficina é considerado patrimônio histórico, tendo sido projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi, responsável também pelo Museu de Arte de São Paulo (Masp).

Em 1964, Zé Celso apresentou a peça "Andorra", marcando sua transição do realismo para um teatro com uma postura mais crítica, influenciado pelo teatro épico do dramaturgo alemão Bertolt Brecht.

Durante esse período, Zé Celso viajou para a Europa com o objetivo de aprofundar seus estudos sobre Brecht. Após seu retorno, o diretor encenou a peça "Galileu Galilei", escrita pelo próprio Brecht, nos palcos do Teatro Oficina.

Improviso e provocação

O trabalho de Zé Celso é caracterizado por sua intensidade, teatralidade e ousadia. Suas encenações costumam abordar temas sociais, políticos e históricos, e ele é conhecido por sua abordagem provocativa e visceral. Suas peças muitas vezes envolvem a participação ativa do público, criando uma experiência teatral imersiva e transformadora.

No final da década de 1968, Zé Celso expandiu seus horizontes além do Teatro Oficina ao levar sua primeira peça para o Rio de Janeiro. Nessa ocasião, ele assumiu a direção do emblemático espetáculo "Roda Viva", escrito por Chico Buarque, imprimindo-lhe um tom provocativo.

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Zé Celso na remontagem de 'Roda viva', no Rio

Ao longo de seus trabalhos subsequentes, Zé Celso continuou a ampliar sua abordagem sensorial, estimulando os atores ao improviso e envolvendo a plateia de forma participativa. Suas iniciativas em transformar a relação entre o palco e a plateia culminaram no movimento conhecido como te-ato, que buscava redefinir os limites convencionais do teatro e promover uma experiência teatral mais interativa e envolvente.

Seu trabalho influenciou gerações de artistas e seu comprometimento com a liberdade artística e a resistência política é amplamente reconhecido. Zé Celso recebeu inúmeros prêmios e honrarias ao longo de sua carreira, incluindo o Prêmio Shell de Teatro e a Ordem do Mérito Cultural do Brasil. Recentemente ele foi anunciado como um dos integrantes da lista "50 Over 50 2023" da revista Forbes, na categoria cinema, teatro e televisão.

Casamento

Zé Celso, aos 86 anos, oficializou sua união com o ator Marcelo Drummond, de 60 anos, em uma cerimônia ecumênica-artística no Teatro Oficina, com performances das renomadas cantoras Daniela Mercury, Marina Lima e Mariana de Moraes. A atriz Leona Cavalli teve a honra de abençoar o casal durante a cerimônia. Zé Celso e Marcelo Drummond se conheceram em 1986 e passaram a viver juntos no mês seguinte.

José Celso e Marcelo Drummond

O casamento foi para garantir o futuro do Oficina. “Já somos marido e marido, casamos no civil. Agora falta casar perante o público”, disse Zé Celso.

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