Zaidan contesta superávit fiscal da Argentina com "receita do Milei"

Comentarista da Rádio Bandeirantes disse que governo Milei "fechou o socorro social" em meio a uma recessão econômica

Da Redação

O comentarista Claudio Zaidan analisou no programa Bandeirantes Acontece, na Rádio Bandeirantes, o anúncio do governo da Argentina do terceiro superávit mensal consecutivo, o primeiro trimestral desde 2008. Em pronunciamento à nação, o presidente Javier Milei disse que o excedente fiscal financeiro foi de cerca de 275 bilhões de pesos em março. Zaidan explicou o que os países precisam fazer para ter mais receitas do que despesas e qual foi a estratégia argentina. 

"Superávit é sempre bom, né? Todo mundo gosta de ter superávit. Ninguém quer ficar endividado, quer ter déficit, quer ficar no vermelho. Agora, o Estado tem duas maneiras de conseguir superávit, e aqui estamos falando de superávit nominal, que inclui o pagamento de juros. Aumentar a arrecadação, porque a economia cresceu de tal maneira que o governo passou a obter uma arrecadação que consegue deixá-lo, pelo menos operacionalmente, em superávit. Ele arrecada mais do que gasta. Ou então, se você não aumenta a arrecadação, você tem de reduzir drasticamente as despesas. Ou reduzir de uma maneira suficiente para obter superávit", explica.  

Zaidan disse que, para o governo Milei conseguir o superávit, ele cortou gastos que prejudicam as províncias e as populações mais pobres. "O que ele fez na Argentina? A arrecadação caiu. A arrecadação caiu porque a Argentina está em recessão. Então, ele obteve superávit fechando o cofre. E muita gente fala: 'Que maravilha, é isso que tem de ser feito'. Só que ele fechou o cofre para restaurantes populares, para programas de distribuição de comida. O próprio Milei tem dito que há hoje alguns milhões de argentinos passando fome, 57% da população em linha de pobreza, 15% atirado à miséria. E você fecha o socorro social, o socorro público, o socorro do Estado a essas pessoas?", perguntou.

O corte nos gastos, segundo Zaidan, terá consequências graves nas políticas públicas das cidades argentinas. "Ele (Milei) simplesmente fechou as transferências para as províncias, mas são obrigações constitucionais, tanto que isso já chegou ao Judiciário. E você afeta o quê? Policiamento. A Argentina está mergulhada em crime. Há cidades argentinas importantes, como Rosário, onde o crime organizado manda e desmanda. E aí você corta dinheiro das províncias? Isso afeta educação pública, saúde, segurança, esse é o preço".

Zaidan ainda aponta que, ao mesmo tempo em que cortou gastos básicos, o governo argentino teve gastos excessivos em outras áreas. "A única maneira saudável de você obter superávit é cortando despesas desnecessárias. Mas o senhor Milei acaba de anunciar mais de 300 milhões de dólares na compra de caças envelhecidos da Dinamarca. Isso porque a Argentina pediu a adesão à Otan, que é a Série B da Otan. Ou seja, você não é obrigado a entrar numa guerra porque um país da Otan foi atacado, mas você passa a ser obviamente um território que a Otan pode usar. Ele está transformando a Argentina em um protetorado dos Estados Unidos e ao mesmo tempo compra aviãozinho, mas não repassa dinheiro para as províncias e fecha restaurante popular. Essa é a receita do superávit do Milei".

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