25 anos do desabamento do Palace II: Relembre a tragédia

Oito pessoas morreram na época e 120 famílias ficaram desabrigadas; vítimas ainda esperam receber indenização

Júlia Zanon*

25 anos do desabamento do Palace II: Relembre a tragédia
Palace II desabando em 1998
Reprodução / Imagens de arquivo

No dia 22 de fevereiro de 1998 o prédio Palace II desabava na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. A tragédia deixou oito pessoas mortas e 120 pessoas desabrigadas. Vinte e cinco anos depois, as famílias das vítimas só receberam cerca de 40% da indenização total, de acordo com a Associação das Vítimas. Em 2021, o STJ decidiu que R$ 30 milhões seriam divididos entre as vítimas - dois anos depois da decisão, as famílias seguem esperando pelo dinheiro.

"A gente fica com a sensação de que a justiça não está sendo feita, a impunidade. Nós somos vítimas, mas até hoje a gente ainda não recebeu o valor devido da nossa indenização", disse Rosana Moreira, ex-moradora e integrante da Associação de Vítimas do Palace II.

A construtora responsável pela obra era a Sersan, do ex-vereador Sérgio Naya, que morreu em 2009. A morte dele dificultou ainda mais a quitação das dívidas às vítimas da tragédia.

Os R$ 30 milhões, que serão divididos entre as famílias, vieram de um leilão de um terreno de Brasília da mesma construtora. Mas, o valor representa apenas um terço da verba arrecadada.

"Em torno de 150 milhões é o debito dele hoje. R$ 30 milhões representa 20% desse valor. Tenho que procurar dentro de patrimônio dele (Sérgio Naya). Imóveis que estão no nome dele, pedir o juiz para levar ao leilão", disse Eduardo Lutz em 2022, na época, ele era advogado da Associação de vítimas do Palace II. Em nota, Lutz afirmou que não faz mais parte da Associação, mas que ainda trabalha a favor de 118 vítimas da tragédia.

Os bloqueios dos bens já acontecem desde 1998. Desde então, a justiça tenta levantar os valores devidos de indenização para quem tinha apartamento no Palace II.

Sérgio Naya chegou a ter a prisão decretada em 1999, mas a decisão foi revogada em seguida. A absolvição veio em maio de 2001, mas o empresário teve o mandato de deputado federal e o registro profissional de engenheiro cassados.

RELEMBRE A TRAGÉDIA

"Nós estávamos dormindo. Sentimos um terremoto forte, o prédio balançou bastante e nós acordamos se saber o que era. Pegamos uma roupa que estava disponível, documentos e descemos correndo pelas escadas", detalhou Sebastião Carvalho.

O farmacêutico morava com a esposa, a sogra e o filho na cobertura do edifício. Foram acordados de surpresa com o balanço do prédio, que parecia com um terremoto. No 15º andar, a sogra dele começou a passar mal e tiveram que parar.

"Na parada eu fui abrir uma porta corta fogo e eu vi o céu da barra, as estrelas, o mar da Barra. Chamei minha esposa e falei para ela que a lateral do prédio havia caído. No desespero eu chamei o elevador, ele veio e nós entramos de mãos dadas, rezando. Nós fizemos tudo errado. A gente sabia os procedimentos, mas entramos no elevador e foi a nossa salvação. Chegando em baixo, nós fomos retirados a força do elevador", continuou. A família foi a última a deixar o Palácio II, sem precisar de resgate.

Rosana Moreira contou também que precisou acordar sua mãe, depois que chegou em casa do trabalho.

"Eu botei minha maleta na porta de casa, nós pegamos umas roupas, minha mãe tinha um arquivo pequeno e pegou essas pastas com documentos. Peguei também a imagem de Nossa Senhora de Fátima, fiz o sinal de cruz e pedi para que nos protegesse, salvasse eu e minha mãe e as pessoas ao nosso redor."

Quando chegaram no pátio, ouviram o engenheiro da Defesa Civil avisar que o prédio iria cair.

"Quando ele terminou de falar, o prédio deu um estalo e caiu. Quando ele caiu fez-se um silêncio mortal. Todo mundo em silêncio. E logo depois veio o desespero das pessoas. Todo mundo começou a correr em direção ao portal. Um dos técnicos da defesa civil me puxou, senão eu teria sido pisoteada e talvez até morta", terminou a ex-moradora.

"Nosso sofrimento se alastra, se agrava e se avança 25 anos depois", concluiu também Sebastião.

A CONSTRUÇÃO

O edifício começou a ser construído em 1990 e tinha previsão para ser entregue em 1995. Mas teve diversos problemas no meio do caminho.

Segundo os moradores, em 1996 o edifício chegou a ser interditado pela Defesa Civil após ter morrido um operário ao cair no fosso do elevador que apresentava defeito. A construtora já havia sido processada quatro vezes em virtude da má construção do prédio, que não havia recebido o habite-se da prefeitura.

De acordo com a Defesa Civil, o prédio tinha graves defeitos de estrutura e acabamento. Depois do acidente, uma perícia foi feita no local. As últimas conclusões do laudo criminal constataram que o motivo foi uma falha no detalhamento da armação de dois pilares, e não pela utilização de material de má qualidade - anteriormente, se imaginava que a causa foi pela utilização de areia da praia na construção, o que já foi desmentido. A informação foi divulgada pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli - ICCE.

Em 2009, Sérgio Naya - dono da construtora Sersan, responsável pela obra - faleceu em Ilhéus, na Bahia, vítima de infarto. Os bens que possuía foram inventariados e divididos em herança, o que dificulta a quitação de dívidas.

A RECONSTRUÇÃO

Hoje, no mesmo terreno que abrigou o Palace II, a construtora Calçada lançou um novo imóvel. O Barra One veio com o objetivo de livrar o local do estigma da tragédia. O novo edifício tem 180 apartamentos e respeitou a arquitetura do Palace I. Para aumentar a identidade visual entre os dois edifícios, a Calçada modificou o revestimento da fachada do Joá entre outras benfeitorias, sem nenhum custo para os atuais moradores.

*Sob supervisão de Natashi Franco