2° fase da operação do MP contra corrupção e lavagem de dinheiro mira policiais

Agentes investigados são da Delegacia de Atendimento à Mulher; grupo recebe propina de donos de casas de prostituição

Karol Neves*

Policial civil preso agride cinegrafistas ao chegar à delegacia.  Reprodução
Policial civil preso agride cinegrafistas ao chegar à delegacia.
Reprodução

Nesta quinta-feira (01), o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) deflagrou a 2ª fase da Operação Fim da Linha, para combater crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro por conta da exploração de jogos de azar. O objetivo da ação é cumprir cinco mandados de prisão e sete de busca e apreensão contra integrantes de uma organização criminosa formada por policiais civis. Até o momento, quatro agentes já foram presos.

Alcino Luiz Costa Pereira, um dos policiais civis presos nesta manhã, agrediu pelo menos três cinegrafistas ao chegar à delegacia. Ele foi localizado em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e usava um carro oficial da 61ª DP (Caxias), que foi apreendido.

Em nota, o MPRJ afirmou que “os quatro presos na segunda fase da Operação Fim da Linha foram detidos sem algemas porque não apresentavam risco, já que, em nenhum momento, resistiram à prisão e à condução. O procedimento está em consonância com a Súmula Vinculante 11, do STF”. 

Inicialmente, a investigação foi instaurada para apurar crimes praticados por contraventores que exploram jogos de azar, após os agentes encontrarem um bingo clandestino que funcionava em Copacabana, na Zona Sul do Rio, com a permissão de policiais militares e civis. O MP, durante a investigação, identificou três grupos criminosos que utilizam diferentes modos de fraudar os resultados dos jogos, como: corrupção de policiais militares e civis e uso da violência para ganhar mais território. Os integrantes desses grupos foram alvo da 1ª fase da operação, que ocorreu na última terça-feira (29).

Além disso, foi identificada uma organização criminosa composta por policiais civis lotados na Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM), no Centro do Rio, a partir de 2020. Segundo o MP, o grupo se estruturou para viabilizar o esquema de corrupção, com cobrança de propina junto a proprietários de estabelecimentos de exploração de jogos de azar e casas de prostituição. Os agentes denunciados foram: Marcelo Flora Lemos, chamado de “Marcelão”, Alcino Luiz Costa Pereira, Alair do Rosário Ribeiro dos Santos Junior, conhecido como “Bambam” ou “Junior Bambam”, Pietro Conti Rodrigues e Bruno Montes da Silva, o “Brunão”.

ENTENDA A OPERAÇÃO

Na manhã de terça-feira (29), dez pessoas foram presas na Operação Fim da Linha, do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), que cumpre 26 mandados de prisão e 57 de busca e apreensão em uma ação contra bicheiros e policiais militares investigados por corrupção e lavagem de dinheiro. Entre os alvos de mandados de prisão na primeira fase da operação estavam os bicheiros Bernardo Bello e Marcelo Simões Mesqueu. O ex-secretário estadual de Polícia Militar, coronel Rogério Figueredo de Lacerda, também foi alvo de busca e apreensão.

Bernardo Bello foi preso em janeiro deste ano acusado de ordenar a morte do rival Alcebíades Garcia, conhecido como Bid. Segundo as investigações do Ministério Público do Rio, a morte de Bid foi motivada por uma disputa com Bello pelo controle dos pontos da contravenção na Zona Sul do Rio. Já Marcelo Simões Mesqueu, o Marcelo Cupim, teria arrendado de José Caruzzo Escafura, o Piruinha, as operações do jogo do bicho em parte da Zona Norte do Rio. De acordo com o MPRJ, os bicheiros fraudam os resultados dos jogos, corrompem policiais e disputam territórios com violência. Bello ainda está foragido.

A investigação começou após uma denúncia de que um bingo estaria funcionando em Copacabana, na Zona Sul do Rio, com permissão de policiais militares. Segundo o inquérito, há corrupção sistêmica de Batalhões da PM no esquema do jogo do bicho. Foram encontrados R$ 435 mil na casa de um agente da corporação que também é investigado pelo MP.

Em nota, a Secretaria de Estado de Polícia Militar afirmou que “não compactua com desvios de conduta e cometimento de crimes praticados por seus integrantes, punindo com rigor os envolvidos”.

Um dos operadores do esquema cita, em conversas interceptadas pela justiça, reuniões marcadas com policiais que receberiam propina para deixar o jogo continuar.

"Tá vendo aqui. Tá ligando para o tal do Rômulo, tá marcando com Figueiredo! Tá mexendo, ela tá de lá mexendo. "Ela (Denildes Palhano) já falou com ele aí ó. O tal do Rômulo ligou para ele, o Figueiredo ligou para ele. Aí ele fez contato com ela aqui, aí marcou comigo segunda", relata um dos envolvidos no áudio.

A advogada Denildes Palhano seria, de acordo com a denúncia, a principal interlocutora entre os bicheiros e os agentes da Polícia Militar. Com medo de ser preso por um novo agente da região, um dos denunciados recebeu uma ligação dela reafirmando que o esquema estava protegido.

"Parceiro, olha só, ele não vai te dar voz de prisão. Pode ficar tranquilo que ele não vai te dar voz de prisão. Você tá indo lá, po***, como meu amigo. Ele sabe que eu sou amiga do Figueiredo, sou amiga do Rômulo, entendeu? Não vai te dar voz de prisão", disse ela.

*Sob supervisão de Natashi Franco