33 milhões de pessoas passam fome no Brasil em 2022. É o que revelou a pesquisa divulgada nesta quarta-feira (8), pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) em parceria com ONGs e Institutos do país.
Além disso, 58,7% dos brasileiros convivem com a insegurança alimentar em algum grau - leve (quando há receio de passar fome em um futuro próximo), moderado (quando há restrição na quantidade de alimentos que é consumida) ou grave (quando há escassez de comida para toda a família). Diante dos dados, o Brasil chegou a um patamar equivalente ao da década de 1990.
"A gente se encontra numa situação muito difícil. Para eu conseguir ter meu próprio alimento, minha própria comida, está muito difícil. Meus filhos comem na escola, é o que salva. E também outras pessoas que ajudam me mandando cesta básica. É muito complicado sobreviver nessa situação. Eu consigo algum trocado com a reciclagem que eu faço e consigo comer salsicha e ovo final de semana, mas nada é certo", disse Simone Maria Cordeiro, desempregada.
Em pouco mais de um ano, a fome dobrou nas famílias com crianças menores de 10 anos - de 9,4% em 2020 para 18,1% em 2022. Nas casas em que a mulher é a principal fonte de renda, que é o caso da Simone, a fome passou de 11,2% para 19,3%.
Mesmo com tantas adversidades, a mãe de dois filhos, que sofre com insegurança alimentar grave, tem o pensamento positivo e acredita em um futuro melhor.
"Roupa, sapato, eu uso só as que recebo de doação. É o que eu visto. Isso eu nem penso. Eu penso no alimento, no pão de cada dia, que é o principal hoje. Eu voltei a estudar, vi a necessidade de voltar a estudar para poder voltar ao mercado de trabalho. Eu penso que vou dar a volta, vou estudar, me formar e trabalhar", comentou Simone.
A pesquisa também mostra que, em pouco mais de um ano, cerca de 14 milhões de cidadãos a mais chegaram à situação de fome no país.
"14 milhões de pessoas é praticamente o estado inteiro de São Paulo sendo colocado diretamente em situação de fome. São dados nunca antes vistos, é o pior momento da história do combate à fome no Brasil. A gente volta à década de 90 e esses dados foram um espanto para a sociedade na época. Esses de hoje também são um espanto, mas a gente vem alertando à sociedade desde 2016. O cerne dessa questão da fome, que é o maior problema do Brasil, é a falta de políticas públicas", afirmou "Kiko" Afonso, diretor executivo da ONG "Ação da Cidadania".
*Estagiário sob supervisão de Natashi Franco
