Corpo de idoso levado ao banco para pegar empréstimo será enterrado neste sábado

Mais testemunhas do caso devem ser ouvidas na próxima semana.

João Pedro Obiler*

O corpo do idoso Paulo Roberto Braga, de 68 anos, que foi levado morto a uma agência bancária em Bangu, na Zona Oeste do Rio, vai ser sepultado neste sábado (19), no Cemitério de Campo Grande. O enterro vai ser gratuito, segundo a Secretaria de Assistência Social do Município do Rio.

O corpo de Paulo estava no Instituto Médico Legal desde terça-feira (16) e foi liberado por uma parente do interior. Os policiais aguardavam a documentação do idoso para que a liberação fosse feita.

Novas imagens de câmeras de segurança mostraram o momento em que Erika, prima e que se diz cuidadora do idoso, chegou na agência na terça-feira (16) para pegar um empréstimo de 17 mil reais. Nos vídeos, Paulo Roberto Braga aparece imóvel e com a cabeça caída para trás e Érika chega a segurar a nuca do idoso.

Funcionárias da agência bancária suspeitaram do estado de saúde do idoso e chamaram o SAMU, que constatou a morte. Logo depois Érika foi presa em flagrante. Na delegacia, ela declarou que estava desestabilizada e sob efeito de medicação de uso controlado.

Para o delegado Fabio Souza, responsável pelo caso, as imagens mostram que Paulo já chegou morto na agência. Ainda segundo ele, uma investigação paralela vai ser conduzida para apurar se Paulo Braga sofria maus-tratos por Erika.

O idoso morava na Vila Aliança, uma favela na Zona Oeste. Imagens do local mostram que ele vivia em uma espécie de garagem em condições insalubres.

Novas testemunhas devem prestar depoimento na semana que vem. Entre elas, filhos de Erika, que, segundo testemunhas, ajudaram a colocar o idoso no carro quando ele saiu de casa, e a funcionária de uma empresa de empréstimos que atendeu Érika e o idoso um dia antes dele ser levado até a agência bancária. Fábio Souza esclareceu a importância dos depoimentos.

“Nós estamos tentando saber quantos empréstimos ele fez nesse espaço de tempo, em cerca de dois meses, para saber se houve algum empréstimo recente quais tipos de vantagem financeira ela conseguiu, ou tentou conseguir, nesse período em que ele estava debilitado”, afirmou.

Nessa quinta-feira (18), a Justiça do Rio converteu em preventiva a prisão de Érika de Souza Vieira Nunes. A Juíza do caso, Rachel Assad da Cunha, apontou que, mesmo que o idoso ainda estivesse vivo, o comportamento da mulher era condenável. Uma vez que o idoso estava visivelmente em uma condição precária.

Em 8 de abril, Paulo chegou a ser internado em uma UPA por conta de uma pneumonia, mas recebeu alta sete dias depois. No dia seguinte, Érika levou Paulo em uma cadeira de rodas para passear pelas ruas de Bangu e depois foram novamente ao shopping, antes de ir a uma agência bancária tentar efetuar o empréstimo. Comerciantes do calçadão de Bangu e lojistas do shopping que viram o idoso afirmam que ele já parecia estar morto.

Uma jovem que trabalha no calçadão, a poucos metros do banco, ajudou a dupla, após Paulo ter quase caído da cadeira de rodas minutos antes de ser levado para a agência.

“Na hora que eles foram passar, o carrinho travou ali no bueiro. Aí eu tive que levantar, porque ele quase caiu da cadeira de rodas quando ele estava passando com ela na direção do banco”, contou Lorena Matias, ambulante de 25 anos.

Ela também afirmou que Érika parecia estar com pressa e que o idoso estava gelado e sem reação.

“A perna dele encostou nos meus braços. Ele estava gelado, boca aberta e bastante mole. Ela estava segurando ele sabe? Um ato de pressa”, disse.

Até o momento, seis pessoas já prestaram depoimento. O delegado Fábio Souza sinalizou que a Polícia Civil ainda está aguardando os resultados de laudos complementares.

“A gente vai aguardar o laudo complementar, que é o laudo de laboratório, para saber se havia alguma substância química no organismo dele e se essa substância poderia ter causado a morte. Esse é um laudo que demora bastante, mas pedimos prioridade e esperamos que até semana que vem a gente tenha uma resposta”.

Segundo o laudo da necropsia, Paulo morreu por ter broncoaspirado o conteúdo estomacal e por uma falência cardíaca.

*Sob supervisão de Christiano Pinho.