Quatro pessoas foram indiciadas, na tarde desta terça-feira (8), no inquérito da Polícia Federal que apurou maus tratos e irregularidade na importação de 18 girafas pelo BioParque do Rio. Três animais morreram durante o processo de vinda para o Brasil. O inquérito foi concluído cerca de 10 meses depois em que os animais foram encontrados mortos.
Entre os indiciados estão um servidor do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), um do Ibama e dois funcionários do BioParque. De acordo com a PF, os servidores do Ibama e do Inea respondem pelo crime de irregularidade no processo de importação, cuja a pena varia de um a três anos de prisão e multa. Já os funcionários do BioParque, vão responder 15 vezes pelo crime de maus tratos, em que a pena varia de três meses a um ano e multa, e pela morte das três girafas.
As investigações também apontam que houve falhas deliberadas de servidores do Ibama e do Inea. Ainda foi identificado que representantes do BioParque teriam praticado o crime de maus tratos, já que o manejo dos animais no Brasil teria seguido a preferência econômica da empresa e não o bem-estar e a segurança dos animais. Apesar da conclusão do inquérito da PF, outras pessoas envolvidas no processo podem ser responsabilizadas civilmente.
Em nota, o BioParque do Rio informou que “reitera o seu compromisso intransigente com o bem-estar dos animais sob sua gestão e não poupará esforços para esclarecer os fatos objeto do relatório da Polícia Federal. A empresa informa que acompanhou e colaborou com as investigações. O relatório final do inquérito contraria os laudos técnicos periciais elaborados por perito judicial e as conclusões de inúmeras diligências realizadas por outras autoridades no local, todas atestando o bem-estar das girafas”.
RELEMBRE O CASO
Ao todo, 18 girafas chegaram ao Rio de Janeiro, vindas da África, em novembro de 2021. No entanto, três delas morreram. Os animais chegaram à Capital Fluminense em novembro de 2021 e as girafas foram encontradas mortas em janeiro deste ano.
Os 18 animais chegaram ao Brasil e foram encaminhados para o Portobello Hotel e Resort, resort de luxo na Costa Verde Fluminense, onde as girafas passariam por uma quarentena. De acordo com a Polícia Federal, tanto o tamanho do local, como a forma como os animais deviam se alimentar e beber água apresentaram irregularidades.
Entre as 15 girafas sobreviventes, algumas apresentam lesões ao redor dos olhos, pernas e torsos. As condições do local estariam colocando em risco a vida dos animais. As outras três girafas acabaram morrendo durante uma tentativa de fuga.
A causa da morte das girafas foi identificada como "miopatia de captura". Os animais são mantidos em locais apertados e ficam estressados. As investigações apontam que as girafas estão em um local com pouca luz, alta umidade, pouca mobilidade e cercados de excrementos.
A empresa identificada como vendedora tem sede no Panamá e o valor da transação é superior a R$ 5 milhões. Os transportadores das girafas são uma empresa da África do Sul e o recolhimento dos animais aconteceu perto de Johanesburgo. A importação foi autorizada pelas autoridades brasileiras com o argumento do BioParque de estar montando um grande projeto sustentável. Os vendedores e os importadores também são investigados pelo tráfico de leões, golfinhos e macacos.
"A gente está falando de animais de mais de cinco, seis metros, então existe um sistema que tem que ser muito bem organizado para que você consiga fazer o transporte desses animais e conseguir ingressar ele de um país para o outro", comentou Mauricio Forlani, gerente de pesquisa da AMPARA Silvestre, Ong de defesa dos animais, que acompanha as investigações.
No documento, o agente responsável pelo caso, Fábio Eller de Oliveira, ainda afirma que as girafas são tiradas de uma vida livre na natureza africana e são aprisionadas no Brasil. O agente continua esclarecendo que esse é o maior tráfico de animais silvestres do Brasil e que a delegacia especializada em crimes contra o meio ambiente e patrimônio histórico da Polícia Federal (DELEMAPH) tentou achar lugares adequados para esses animais no país, mas não teve sucesso, em contraponto com os santuários em funcionamento em diversas regiões da África.
Em janeiro deste ano, o Bioparque alegou que a compra foi aprovada pelos governos do Brasil e da África do Sul e que as girafas fariam parte de um projeto de conservação da espécie.
*Sob supervisão de Natashi Franco