Família acusa PM de balear e matar adolescente em Cordovil

Familiares organizaram protestos na manhã desta terça (5)

Pedro Cardoni (sob supervisão de Natashi Franco)

Familiares do Cauã fizeram uma manifestação com bloqueios na Estrada do Quitungo Francisco Vidal
Familiares do Cauã fizeram uma manifestação com bloqueios na Estrada do Quitungo
Francisco Vidal

Um adolescente de 17 anos foi baleado e morto na comunidade do Dourado, em Cordovil, Zona Norte do Rio de Janeiro, na noite da última segunda-feira (4). A família da vítima acusa policiais militares de terem atirado no jovem e jogado o corpo em um valão.

Cauã da Silva Santos participava de um evento de luta livre com outros jovens no momento do crime. O adolescente estava levando cinco crianças para casa, na Rua Antônio João, por volta das 22h30, quando foi atingido por disparos dos policiais. Segundo testemunhas, não havia criminosos no local e os policiais recolheram as cápsulas das balas do chão.

O corpo da vítima foi retirado por um pastor e levado por moradores até o Hospital Getúlio Vargas, na Penha, Zona Norte do Rio. O jovem já chegou morto no hospital.

Cauã fazia parte do projeto VemCer, uma iniciativa social que oferece aulas de luta para jovens da comunidade, onde ele fazia aulas de jiu-jitsu e grappling, um tipo de luta livre. A vítima estava se preparando para disputar o mundial de grappling no próximo domingo (10).

"Esse rapaz ajudava na distribuição de cestas básicas durante a pandemia, o rapaz participava de esporte. Nunca tivemos nenhuma informação de que em algum momento ele estivesse envolvido com a marginalidade. A Polícia errou. Ele era um jovem ativo nos trabalhos da comunidade", comentou Cláudia Vitalino, integrante da Frente Favela Brasil e presidenta da UNEGRO, união de negros e negras do estado do Rio de Janeiro.

A Polícia Militar afirmou que as equipes faziam uma patrulha na Rua Antônio João, quando foram atingidos por criminosos armados, houve um confronto e um dos suspeitos foi atingido. Os criminosos fugiram pulando em um valão próximo à região. Com eles, foram apreendidos um rádio comunicador, drogas, uma pistola e três carregadores. A PM abriu um procedimento para apurar as circunstâncias da operação e a morte de Cauã. A Polícia Civil também investiga o caso.

CRIME PROVOCOU REVOLTA EM MORADORES

Na manhã desta terça-feira (5), os familiares de Cauã fizeram uma manifestação com bloqueios na Estrada do Quitungo, na altura da Rua Oliveira Melo, em Brás de Pina, Zona Norte do Rio. Os manifestantes gritavam por justiça e incendiaram um ônibus. Houve confusão entre as pessoas que estavam no protesto e os policiais que tentaram conter os manifestantes.

"Ele era um bom aluno, um bom amigo, um bom filho, e pela expressão do que ta acontecendo no bairro, era muito querido por todos. Uma vida que foi ceifada gera muita revolta. É inaceitável. A sensação de toda a família e toda a comunidade é de revolta", lamentou Thiago Velasco, tio de Cauã e presidente da Associação de Moradores do Dourado.