Fim da Linha: Policial da Deam preso na operação por receber propina é exonerado

Bruno Montes da Silva é acusado de integrar um esquema de corrupção da máfia do jogo do bicho

Felipe de Moura*

Bruno é acusado de integrar um esquema de corrupção da máfia do jogo do bicho. Reprodução
Bruno é acusado de integrar um esquema de corrupção da máfia do jogo do bicho.
Reprodução

O inspetor policial Bruno Montes da Silva foi exonerado pela Secretaria da Casa Civil nesta quinta-feira (1). Ele estava lotado desde 2020 na pasta. A decisão foi publicada em uma edição extra do Diário Oficial do Estado, ontem, no mesmo dia em que ele foi preso na operação Fim da Linha, do Ministério Público do Rio.

Bruno é acusado de integrar um esquema de corrupção da máfia do jogo do bicho e também cobrar propina para casas de prostituição. Além dele, durante a segunda fase da ação, outros três policiais civis, da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, foram presos.

De acordo com a denúncia do Ministério Público, o inspetor Bruno, também conhecido como Brunão, ao ser transferido à Deam, no Centro do Rio, repassou para os substitutos a lista de casas de prostituição e de jogos clandestinos que não deveriam ser fiscalizadas.

SEGUNDA FASE DA OPERAÇÃO

Nesta quinta-feira (01), o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) deflagrou a 2ª fase da Operação Fim da Linha, para combater crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro por conta da exploração de jogos de azar. O objetivo da ação é cumprir cinco mandados de prisão e sete de busca e apreensão contra integrantes de uma organização criminosa formada por policiais civis. Até o momento, quatro agentes já foram presos.

Alcino Luiz Costa Pereira, um dos policiais civis presos, agrediu pelo menos três cinegrafistas ao chegar à delegacia. Ele foi localizado em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e usava um carro oficial da 61ª DP (Caxias), que foi apreendido.

Em nota, o MPRJ afirmou que "os quatro presos na segunda fase da Operação Fim da Linha foram detidos sem algemas porque não apresentavam risco, já que, em nenhum momento, resistiram à prisão e à condução. O procedimento está em consonância com a Súmula Vinculante 11, do STF".

Inicialmente, a investigação foi instaurada para apurar crimes praticados por contraventores que exploram jogos de azar, após os agentes encontrarem um bingo clandestino que funcionava em Copacabana, na Zona Sul do Rio, com a permissão de policiais militares e civis. O MP, durante a investigação, identificou três grupos criminosos que utilizam diferentes modos de fraudar os resultados dos jogos, como: corrupção de policiais militares e civis e uso da violência para ganhar mais território. Os integrantes desses grupos foram alvo da 1ª fase da operação, que ocorreu na última terça-feira (29).

Além disso, foi identificada uma organização criminosa composta por policiais civis lotados na Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM), no Centro do Rio, a partir de 2020. Segundo o MP, o grupo se estruturou para viabilizar o esquema de corrupção, com cobrança de propina junto a proprietários de estabelecimentos de exploração de jogos de azar e casas de prostituição. Os agentes denunciados foram: Marcelo Flora Lemos, chamado de "Marcelão", Alcino Luiz Costa Pereira, Alair do Rosário Ribeiro dos Santos Junior, conhecido como "Bambam" ou "Junior Bambam", Pietro Conti Rodrigues e Bruno Montes da Silva.

ÁUDIOS MOSTRAM RELAÇÃO ENTRE OS CRIMINOSOS

Um dos operadores do esquema cita, em conversas interceptadas pela justiça, reuniões marcadas com policiais que receberiam propina para deixar o jogo continuar.

"Tá vendo aqui. Tá ligando para o tal do Rômulo, tá marcando com Figueiredo! Tá mexendo, ela tá de lá mexendo. "Ela (Denildes Palhano) já falou com ele aí ó. O tal do Rômulo ligou para ele, o Figueiredo ligou para ele. Aí ele fez contato com ela aqui, aí marcou comigo segunda", relata um dos envolvidos no áudio.

A advogada Denildes Palhano seria, de acordo com a denúncia, a principal interlocutora entre os bicheiros e os agentes da Polícia Militar. Com medo de ser preso por um novo agente da região, um dos denunciados recebeu uma ligação dela reafirmando que o esquema estava protegido.

"Parceiro, olha só, ele não vai te dar voz de prisão. Pode ficar tranquilo que ele não vai te dar voz de prisão. Você tá indo lá, po***, como meu amigo. Ele sabe que eu sou amiga do Figueiredo, sou amiga do Rômulo, entendeu? Não vai te dar voz de prisão", disse ela.

A máfia já chegou a entrar, de forma clandestina, em um batalhão da PM para roubar máquinas de jogos de azar que tinham sido apreendidas. O Ministério Público também aponta indícios de corrupção envolvendo policiais civis.

"Marquinho, não tô entendendo, Marquinho. Esses 15 mil é do pagamento da pizza, irmão. Que que você tá fazendo? Fala para mim. Esse, o dinheiro da delegacia, o dinheiro da segurança, você tem que pegar com o Carlinhos. Que que tá acontecendo? Fala comigo".

Na denúncia, escutas revelam a ligação do miliciano Marquinhos Catiri, um dos denunciados, e do contraventor Bernardo Bello, que segue foragido, com juízes. Segundo o MP, Marquinhos, num dos áudios, faz referência à juíza Tula Corrêa de Mello como amiga de um dos integrantes do bando.

"Tive que falar com o Marcelo Cupim...ficou muito estranho isso. A Tula (juíza) ser melhor amiga dele e não relaxar a sua prisão. Tá bom? E ele enrolou... Todas as conversas que ele teve com essas pessoas ele enrolava. Por que você sabe que ele é uma pessoa muito, muito, muito, muito inteligente, referente do meio que ele vive. Até mais...mais vivido do que eu, marquinho, entendeu, irmão?", falou Marquinho.

O miliciano Marquinho Catiri morreu no dia 19 desse mês em uma troca de tiros na comunidade da Guarda, em Del Castilho, na Zona Norte do Rio. Uma gravação obtida com autorização da Justiça mostrou uma suposta aliança entre o contraventor e Bernardo Bello.

"A gente firmou uma amizade. Eu também queria te agradecer pela confiança que você teve em mim, de me botar dentro da sua casa, da sua família, dentro do seu negócio", falou Catiri a Bello.

O áudio dura cerca de 30 minutos e foi enviado por Catiri quando Bello estava preso na Colômbia, entre janeiro e maio de 2022, pelo assassinato de Alcebíades Paes Garcia, o Bid.

"Eu já estou pagando, agradando, das delegacias... igual sempre fiz antigamente... que estão me dando informações corretas e certas do que eles tão fazendo", relata Catiri. Em outro momento da gravação, o miliciano disse ter sido ameaçado de morte.

"A minha cabeça já está valendo quatro milhões. Real, pessoas firmes que mandaram vir na minha direção. Pessoas que não são de conversa fiada. São pessoas muito firmes. Tive que reforçar a minha segurança, Bernardo. Eu não tinha segurança à noite. Hoje eu botei cinco pessoas para ficar comigo à noite, dormindo na orla da praia. Eu estou pulando de casa em casa, mas eu não posso deixar vazia a porta onde eu estou dormindo. Eles ficam um quilômetro de distância, mas ficam, são dois carros 24 horas. Você sabe qual o valor que eu pago para minha segurança, e à noite é polícia. Então, eu tô tendo uns gastos absurdos".

*Sob supervisão de Natashi Franco