Band Rio de Janeiro

Médico preso por estupro usou medicamentos incomuns em cesarianas

Propofol e Ketamina, utilizados por Giovanni para a sedação das pacientes, normalmente são usados quando acontece alguma falha da anestesia.

Felipe de Moura*

Em depoimento à Polícia Civil nesta segunda-feira (11), uma das técnicas de enfermagem que trabalhava com Giovanni Quintella Bezerra, preso por estupro de vulnerável, declarou que ele “sedou totalmente a paciente, utilizando Propofol e Ketamina”. De acordo com especialista, esses sedativos são incomuns em cesarianas.

No dia da prisão em flagrante do médico, a técnica de enfermagem, estava de plantão no Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Segundo ela, os dias de plantão “coincidem em algumas poucas vezes” com os dias do médico anestesista. Na segunda, ela e as colegas de enfermagem notaram atitudes estranhas de Giovani.

Com isso, a técnica de enfermagem se dirigiu à um colega de trabalho e pediu para ele “ficar de olho” no comportamento de Giovanni. Em um determinado momento, de acordo com o depoimento dela, a técnica entrou na sala de cirurgia e percebeu que a paciente estava “completamente sedada”. Esta seria a primeira cirurgia do dia.

“Tal sedação não era de comum realização entre os profissionais da anestesia, pois o hospital preza pelo parto humanizado, e orienta para que tão logo o procedimento cirúrgico termine, as pacientes já estejam prontas para receberem os recém-nascidos para a amamentação, e com a sedação, isso fica praticamente impossível”, disse a técnica em depoimento.

Quando ela viu que a paciente estava “apagada”, a mesma questionou Giovanni sobre a sedação, que respondeu em tom irônico e de forma grosseira: “Porquê? Você também quer?”. Depois disso, ela saiu da sala de cirurgia.

Segundo o depoimento, “A declarante viu, quando terminou o procedimento, que a paciente estava bastante sedada, tendo Giovanni utilizado um frasco de Propofol, quantidade a qual a declarante diz ser demasiada, tendo em vista o que outros anestesistas ministram”.

Na terceira cirurgia do dia, realizada na sala 3, onde as enfermeiras conseguiram esconder um celular atrás de um vidro fumê para gravar o estupro realizado pelo médico, o depoimento da técnica narra que “durante a cirurgia, todas (enfermeiras) ficaram bastante nervosas, pois deixaram o celular da declarante registrando tudo. Na cirurgia, Giovanni também sedou totalmente a paciente, utilizando Propofol e Ketamina. Seu colega guardou os frascos que Giovanni utilizou”.

Renato Sá, vice-presidente da Sociedade de Ginecologia e Obstetricía do Rio de Janeiro, relatou que os medicamentos utilizados pelo criminoso devem ser administrados apenas em casos de falhas da anestesia comum e em doses pequenas.

“Esses sedativos são usados quando você precisa complementar a anestesia, por exemplo, quando você tem uma falha de bloqueio no final da cesariana. A ideia é que essa sedação seja o mais leve possível, você aprofunda de acordo com a necessidade, sempre considerando que deve-se usar a menor quantidade de medicação possível, pelo menor tempo possível. O ideal é que a mãe se sinta sedada o mínimo possível para que ela possa cuidar do bebê nas próximas horas”, comentou Renato Sá.

“É UM CRIMINOSO EM SÉRIE”, diz delegada do caso

A delegada Bárbara Lomba, titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, disse que o médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra “é um criminoso em série”.

“Diante da repetição das ações criminosas e de uma característica de compulsividade que se observa, da possibilidade de várias vítimas terem sido feitas naquelas condições, nós podemos afirmar que se trata de um criminoso em série”, falou a delegada.

Em relação aos medicamentos utilizados por Giovanni, Bárbara Lomba disse que a sedação era “desnecessária”.

“Nós precisamos ter um parecer técnico de qual é essa droga, qual é a medicação, qual é a natureza e se ela era inadequada para aquele procedimento. Se também a medicação que foi apreendia corresponde ao que está no prontuário. E também a dosagem, se a dosagem era adequada, se era além. Nos parece, já, que a sedação era desnecessária”, complementou a delegada.

*Estagiária sob supervisão de Natashi Franco