Método Wolbachia é expandido para mais três bairros do Rio

Tecnologia tem se mostrado eficaz na redução dos casos de dengue, zika e chikungunya.

Letícia Brazão e Priscila Xavier*

Método Wolbachia é expandido para mais três bairros do Rio
600 mil mosquitos com a bactéria serão liberados no Caju e no Centro do Rio.
Reprodução | TV Band

Em uma parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o World Mosquito Program Brasil (WMP Brasil) e a Secretaria Municipal de Saúde do Rio (SMS), o Método Wolbachia – tecnologia que tem se mostrado eficaz na redução dos casos de dengue, zika e chikungunya – chega a mais três bairros do Rio. 

A partir desta semana e até agosto, mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia (Wolbitos) serão liberados no Centro, Caju e Ilha de Paquetá. A bactéria impede que o inseto transmita os vírus das arboviroses e a tendência é que, com a reprodução natural, a população de Aedes aegypti nos locais seja gradativamente substituída por mosquitos incapazes de causar as doenças.

O trabalho com o Método Wolbachia é conduzido pela Fiocruz, em parceria com o WMP Brasil e governos locais, com financiamento do Ministério da Saúde. Atualmente, 29 bairros da Ilha do Governador e adjacências já têm a presença dos mosquitos com a Wolbachia. 

A liberação dos insetos nessas regiões ocorreu entre o final de 2016 e 2019, e até 2021 foram realizadas algumas liberações pontuais. Nessas localidades, é realizado o acompanhamento epidemiológico com dados do Sistema de Notificação Nacional (Sinan) para identificar o impacto do método sobre a transmissão das arboviroses.

A Wolbachia é uma bactéria encontrada naturalmente em cerca de 60% de todas as diferentes espécies de insetos. A tecnologia do Método Wolbachia consiste na introdução dessa bactéria nos mosquitos Aedes aegypti, tornando-os incapazes de transmitir a dengue e outros vírus. 

O segredo do sucesso deste método consiste em como Wolbachia manipula a reprodução dos insetos em que está presente. Ao longo de algumas gerações, o número de mosquitos com a bactéria aumenta rapidamente, até que ela esteja presente na maioria dos insetos  de uma população. Uma vez que os mosquitos já têm a Wolbachia, eles naturalmente a transmitem para seus descendentes.

“A Secretaria de Saúde espera, com essa expansão, fortalecer o Método Wolbachia na cidade e auxiliar no controle das arboviroses nos bairros. O Caju é um local com alta incidência de dengue e o Centro da cidade é uma área estratégica pela grande circulação de pessoas. Já Paquetá é uma ilha com uma distância considerável do litoral, o que cria condições específicas e que serão bem interessantes para serem analisadas neste trabalho com os Wolbitos”, diz o secretário municipal de Saúde do Rio, Daniel Soranz.

Além da capital, no estado do Rio os Wolbitos estão presentes também no município de Niterói, totalizando uma área de abrangência com uma população de mais de 1,3 milhão de habitantes.

 Outras cidades brasileiras onde a tecnologia é aplicada são Campo Grande (MS), Belo Horizonte (MG) e Petrolina (PE). As liberações nessas cidades foram concluídas no final de 2023. No momento, o World Mosquito Program Brasil, conduzido no País pela Fiocruz, está realizando um trabalho de monitoramento nesses três municípios para verificar o estabelecimento da Wolbachia.

Trabalhos com o Método Wolbachia iniciaram no Brasil em 2014

Os trabalhos de campo iniciaram em 2014, em Tubiacanga, na Ilha do Governador. Em 2015, a liberação de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia no território começou com uma ação piloto no bairro de Jurujuba, em Niterói. Em 2017, foi realizada a primeira expansão no município e em 2021 o método já cobria 75% da cidade. 

Neste ano, dados que mostraram a eficácia da proteção garantida pela Wolbachia foram divulgados pelo WMP Brasil. Os números apontam a redução de cerca de 70% dos casos de dengue, 60% de chikungunya e 40% de zika nas áreas onde houve a intervenção entomológica.

“Esses números estão publicados em artigo científico e corroboram os dados do WMP em outros países. Depois dos dados de 2021, a gente vem acompanhando ainda toda a série histórica da cidade, com os dados secundários do município, coletados do Sinan, tanto de dengue, como de zika e de chikungunya e outras análises foram realizadas recentemente, mostrando resultados ainda superiores na redução dos casos das arboviroses. A gente está fazendo a compilação desses dados, juntamente com o estabelecimento de Wolbachia nas localidades de Niterói, para publicar para a população e para a comunidade científica”, destaca o coordenador do programa no Brasil, Luciano Moreira.

Descoberta por cientistas da Monash University em Melbourne, na Austrália, e pelo coordenador do programa no Brasil, Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz, a tecnologia Wolbachia já foi introduzida em 14 países, alcançando quase 11 milhões de pessoas até o momento.

*Sob supervisão de Helena Vieira.