Milícia comanda mais da metade das áreas controladas por grupos armados no Rio

Segundo estudo, em 16 anos, as áreas dominadas pela milícia cresceram 387%

Felipe de Moura e Karol Neves*

Mapa das áreas comandadas por grupos armados. Divulgação
Mapa das áreas comandadas por grupos armados.
Divulgação

Um novo estudo revelou, nesta terça-feira (13), que milicianos dominam mais da metade das áreas controladas por grupos armados na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Segundo a pesquisa, em 16 anos, as áreas dominadas pelas milícias cresceram 387%. O Comando Vermelho (CV), uma das maiores organizações criminosas do Brasil, possui a maior concentração populacional entre os grupos armados, com mais de 2 milhões de habitantes vivendo em territórios controlados pelos traficantes.

No total, 63,1% dos 89.38 km² de expansão do Comando Vermelho nos últimos anos foram conquistados na Baixada Fluminense, onde a maior parte das conquistas pelo CV está concentrada.

O novo Mapa dos Grupos Armados, em uma parceria do Instituto Fogo Cruzado com o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense (GENI-UFF), mostrou que 10,0% de toda a área territorial do Grande Rio está sob domínio das milícias. Pelo menos 90,3% do crescimento das milícias se fez em novas áreas, onde não havia controle de nenhuma facção.

Na capital fluminense, os números são ainda mais alarmantes: 74,2% das áreas de grupos armados são dominadas pela milícia. Ou seja, praticamente 3 em cada 4 áreas controladas por criminosos no município está sob o domínio da milícia. Em relação ao território inteiro da cidade, 30% é controlado por algum grupo armado.

Portanto, as milícias são as principais responsáveis por esse aumento de áreas sob domínio de grupos armados e, por esse motivo, se tornaram a principal ameaça à segurança pública no território.

O levantamento também mostra que os grupos paramilitares se concentram na Zona Oeste do Rio, seguida pela Zona Norte. Na Zona Sul e no Centro, os números são tratados como “pouco expressivos” e “tendem a zero”.

“As bases econômicas da milícia e as bases da sustentação política têm a ver com a conivência e participação direta ou indireta de agentes públicos que favorecem as milícias. No caso da capital, a Zona Oeste é uma zona homogeneamente miliciana. Você tem um controle alto, constante e bastante consolidado. As milícias atuam criando corredores logísticos ali”, disse  Daniel Hirata, professor de sociologia e coordenador do Geni/UFF.

O levantamento analisou mais de 689.933 mil denúncias do portal do Disque Denúncia que mencionavam milícias ou tráfico de drogas entre 2006 e 2021 para fazer o mapa de avanço dos domínios territoriais.

*Sob supervisão de Natashi Franco