Mulher é presa por injúria racial em restaurante em Botafogo

Uma das vítimas diz ter sido chamada de “macaquinha”

Felipe de Moura*

Entrada do restaurante/bar Mãe Joana TV Band
Entrada do restaurante/bar Mãe Joana
TV Band

Uma mulher, que não teve a identidade revelada, foi presa em flagrante por cometer injúria racial na noite do último domingo (18), no restaurante Mãe Joana, na rua Rodrigo de Brito, em Botafogo, na Zona Sul. A situação, que foi filmada por pessoas que estavam no local, gerou revolta entre os clientes.

O lugar é conhecido entre os moradores e clientes pela diversidade, porém, foi justamente nesse ambiente que duas funcionárias sofreram racismo por parte de uma cliente.

“Eu parei para comer, parei num canto do balcão, ela estava de frente para mim e para outra funcionária e ela começou a se incomodar que a gente (Lizandra e a colega) estava comendo na frente dela. Ela falou exatamente: ‘eu acho um absurdo vocês estarem comendo na minha frente e eu com fome. Ela já começou a agressividade por aí”, disse Lizandra Morie, funcionária do restaurante e vítima de injúria racial.

Segundo Lizandra, ela pegou a comida, foi pra  frente da agressora, e disse que ela poderia comer se estivesse com fome. O alimento em questão eram peças de hot filadélfia. Ainda de acordo com a vítima, ela pegou a peça e, em um tom agressivo, disse não saber se gosta da comida.

“Foi quando uma funcionária que passava pelo balcão, olhou para ela e questionou: ‘você tá tocando na comida da menina e nem vai comer’. Aí foi quando ela soltou: ‘A macaquinha me deu’. Na hora, eu não acreditei e repeti para ela: cara, foi isso que você falou? Você me chamou de ‘macaquinha’?”, disse Lizandra.

Na sequência, Lizandra começou a chorar e saiu de perto da confusão que a mulher começou. Segundo ela, as pessoas começaram a ficar alteradas e a mulher atacou outras funcionárias.

Depois da reação dos outros clientes terem reagido à ofensa, a Polícia Militar foi acionada e mulher foi presa em flagrante. Ela pagou fiança e vai responder ao processo em liberdade.

“Eu estava no estabelecimento no momento. Nosso bar é um local inclusivo, acolhedor. Infelizmente, pela primeira vez aconteceu esse episódio lamentável no Mãe Joana. Estou tomando todas as medidas cabíveis e dando todo o apoio para a funcionária”, falou José Oliveira, dono do restaurante Mãe Joana.

A Polícia Civil esteve no local nesta quarta-feira (21) para analisar imagens de câmeras de segurança e verificar se houve crime de injúria racial.

UM CASO QUE SE REPETE

Segundo dados do Instituto de Segurança Pública foram contabilizados, apenas em 2021, 1.365 ocorrências de injúria por preconceito em todo o estado do Rio, sendo 1.036 vítimas negras.

“Muitas pessoas ainda acreditam que não há racismo no Brasil, que são casos isolados. Quando você não reconhece o racismo, todas as manifestações que são evidentemente racistas, acabam sendo minimizadas, ou atribuindo a uma brincadeira”, comentou Wedencley Alves, professor de comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora e pesquisador de temas como discurso, mídia, saúde e violências.

O levantamento também mostra que 56% das vítimas de injúria de preconceito são mulheres negras, o que representa pelo menos uma vítima por dia durante todo o ano de 2021.

“Eu sei que não adianta pedir, as pessoas podem nem enxergar isso como preconceito, vão tentar justificar isso de qualquer forma. O recado maior fica para as pessoas que passam por isso, que elas denunciem. Isso é crime”, alertou Lizandra.

*Sob supervisão de Natashi Franco