Roberto Jefferson passa primeira noite em Complexo Penitenciário

O ex-deputado dormiu sozinho, em cela separada

Karol Neves*

Em cela separada, o ex-deputado federal passou a primeira noite na prisão. Reprodução
Em cela separada, o ex-deputado federal passou a primeira noite na prisão.
Reprodução

O ex-deputado Roberto Jefferson passou a primeira noite na Cadeia Pública Pedro Werling de Oliveira, conhecida como Bangu 8, no Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste do Rio, na segunda-feira (24). Na noite de ontem, ele passou pela audiência de custódia em Benfica, na Zona Norte, e, por determinação da Justiça, a prisão foi mantida. Na primeira noite no presídio, Jefferson dormiu sozinho, em cela separada.

Roberto Jefferson apresenta problemas de saúde e, conforme prescrição médica, faz tratamento de câncer, hipertensão e diabetes na prisão. A primeira refeição do ex-deputado detido foi o almoço. Ele comeu arroz, feijão, fígado e batata doce. No jantar, o cardápio foi arroz, feijão, purê de abóbora e bife bovino. De acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária, Jefferson chegou tranquilo e passou a noite bem.

ATAQUE A POLÍCIA FEDERAL

Roberto Jefferson resistiu à prisão no último domingo (23) e usou um fuzil para atirar contra policiais federais que cumpriam a ordem emitida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. O ex-deputado também chegou a lançar granadas. Em depoimento, Jefferson afirmou que disparou aproximadamente 50 tiros, sem intenção de ferir os agentes, e lançou três granadas.

"Eles atiraram em mim, eu atirei neles. Tô dentro de casa, mas eles estão me cercando. Vai piorar, vai piorar muito, mas eu não me entrego" disse o ex-deputado em vídeo publicado momentos depois do ataque, ainda no domingo.

O caso aconteceu na tarde do último domingo (23), no município de Comendador Levy Gasparian, no Sul do estado do Rio de Janeiro. O Supremo Tribunal Federal revogou a prisão domiciliar do ex-deputado depois que ele descumpriu diversas medidas cautelares. Na última sexta-feira (21), Jefferson publicou um vídeo ofendendo a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lucia, através da rede social da filha dele, Christiane Brasil, algo que estava proibido pelas cautelares da prisão domiciliar.

JORNALISTA AGREDIDO

Depois do ataque à PF, foram cerca de oito horas de negociação até que o ex-deputado se entregasse à polícia. Durante a tarde, a casa foi cercada por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e houve confusão com a imprensa. Um repórter cinematográfico da Rede Globo foi agredido e levado ao hospital.

Em nota, a afiliada da Globo, InterTv, afirmou que "a agressão covarde ao cinegrafista Rogério de Paula é um atentado ao direito democrático de informar" e disse que está dando total apoio ao profissional.

Rogério de Paula chegou a ser internado no Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Três Rio. Segundo a Polícia Civil, ele foi ouvido na unidade médica. O repórter cinematográfico recebeu alta na segunda-feira (24).

Diogo Resende, apoiador do político que agrediu o cinegrafista, é assessor do vereador de Três Rios, Robson Souza (PSDB). Depois da agressão, a Câmara de Vereadores do município afirmou, em nota, que a exoneração de Diogo Resende foi encaminhada à presidência da Casa. No comunicado, a Câmara ainda repudiou as atitudes do assessor parlamentar e acrescentou não compactuar com qualquer tipo de violência e desrespeito, sobretudo, com um jornalista no exercício das funções.

AGENTES DA PF FERIDOS

A viatura, que ficou com dezenas de marcas de estilhaços e tiros, foi escoltada para a perícia. Dois agentes da Polícia Federal ficaram feridos e foram levados ao hospital. A policial Karina Lino Miranda de Oliveira foi atingida por estilhaços na bacia, testa e braços. Em depoimento, ela afirmou que o ex-deputado iniciou a agressão contra a equipe da PF, atacando os agentes com granadas e tiros de fuzil, e, em nenhum momento, quis conversar.

O delegado da Polícia Federal Marcelo André Cortes Villela, responsável por coordenar a ação, afirmou que não há dúvidas de que Roberto Jefferson tinha intenção de matar os policiais que tentavam cumprir os mandados de prisão e busca e apreensão contra ele. Segundo o delegado, ex-deputado federal aguardava os agentes e agiu de forma premeditada. Marcelo ficou ferido na cabeça e chegou a ter a visão do olho direito prejudicada pelo sangue que escorria. Ele estava atrás da viatura que foi fuzilada pelo político.

Por ordem do presidente Bolsonaro, o ministro da Justiça, Anderson Torres, participou da negociação para que Jefferson se rendesse. O candidato à presidência Padre Kelmon, pelo PTB, partido de Jefferson, foi até a residência e entregou as armas do ex-deputado à polícia.

PRISÃO EM FLAGRANTE

Depois do ataque aos agentes da Polícia Federal, Alexandre de Moraes expediu um novo mandado de prisão e pediu que Jefferson fosse preso em flagrante. Após cerca de 8 horas de negociação, Roberto Jefferson se entregou à Polícia Federal. Ele foi conduzido para a sede da PF, no Centro do Rio, passou por exames de corpo e delito e começou a cumprir novamente a pena em regime fechado. A Polícia também fez buscas e apreensão na casa do ex-deputado.

OUTROS CRIMES

Roberto Jefferson foi preso em agosto de 2021, durante uma operação da PF. Ele é investigado no inquérito que apura uma suposta organização de milícias digitais para atacar a democracia.

No mês de junho, o ex-deputado se tornou réu sob acusação de calúnia, incitação ao crime de dano contra o patrimônio público e homofobia. Em janeiro de 2022, ele foi autorizado a cumprir a pena em casa, com diversas medidas impostas, entre elas, não participar de qualquer rede social.

MINISTRO DA JUSTIÇA

O ministro da Justiça, Anderson Torres, esteve no Rio na tarde de segunda-feira (24), mas pelas redes sociais, negou que estivesse tratando do caso de Roberto Jefferson. Ele afirmou que aproveitou o desfecho do ocorrido para se encontrar com a direção do Arquivo Nacional na capital fluminense. Em relação ao diretor geral da Polícia Federal, que também veio ao Rio, o ministro afirmou que ele "aproveitou a oportunidade no RJ para visitar a Superintendência local, e cumprimentar os policiais que participaram das negociações no episódio, tendo sido decisivos para o bom andamento do caso".

*Sob supervisão de Natashi Franco