Pesquisadores da UFRJ estão desenvolvendo uma nova vacina contra a leishmaniose visceral canina. Os casos dessa doença têm crescido no país e também pode acometer seres humanos. O imunizante é injetável pelas narinas dos filhotes de cães e já apresentou 90% de eficácia na redução de parasitas nas fases 1 e 2. A previsão é de que o imunizante esteja disponível dois anos depois da próxima etapa.
De acordo com a pesquisadora Bartira Bergmann, uma das desenvolvedoras da vacina, a injeção via nariz permite que as propriedades penetram mais facilmente na mucosa nasal para estimular a resposta imunológica sem provocar irritação local. Além disso, a tecnologia pode ajudar também no desenvolvimento de imunizantes contra alergias e doenças autoimunes.
A terceira etapa das pesquisas da Universidade Federal do Rio de Janeiro vai identificar quantos animais desenvolvem ou não a leishmaniose após serem imunizados com a NasoLeish. Apesar de ainda não ter sido aprovado para uso e comercialização, a tecnologia já foi patenteada e já há farmacêuticas interessadas na vacina.
Segundo o Ministério da Saúde, a leishmaniose visceral é endêmica em 76 países. Dos casos registrados na América Latina, 90% ocorrem no Brasil - afetando 2 a cada 100 mil habitantes do país. Nos cães, os números também são alarmantes. Em 2022, a IVISA-Rio divulgou um relatório que contabilizava 2.841 casos suspeitos de LVC.
Para humanos, há tratamento gratuito distribuído pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Já para os cães, o tratamento é longo, de alto custo e nem sempre eficaz contra a doença, provocando a morte do animal. Mas um dos maiores problemas para o tratamento dos animais é que a maioria são assintomáticos, ou apresentam apenas feridas na pele e febre.
A Organização Mundial da Saúde considera a leishmaniose visceral uma das cinco doenças negligenciadas e sua presença relaciona-se a fatores sociais e ambientais, que irão influenciar diretamente a epidemiologia da doença e ações de controle.
TENTATIVAS ANTIGAS
Essa não é a primeira vez que pesquisadores tentam criar um imunizante contra a leishmaniose visceral. Um outra vacina estava há mais de 10 anos no mercado, mas teve a fabricação e venda proibidas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária por irregularidades na formulação em maio deste ano.
A Leish-Tec era uma vacina injetável e chegou a apresentar 75% de redução de protozoários em cães com a doença. Mas uma fiscalização constatou que havia desvio conformidade do produto, que poderia ocasionar falta de eficácia da vacina, gerando risco à saúde animal e saúde humana.
*Sob supervisão de Helena Vieira