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Entenda como funcionava o esquema do PCC com empresas e agentes públicos

Funcionamento foi detalhado pelo Ministério Público na Operação Muditia, que prendeu 13 pessoas, incluindo três vereadores e o advogado do traficante André do Rap

Por Rodrigo HidalgoMaju Arruda Leite

Uma grande operação do Ministério Público e da Polícia Militar prendeu 13 pessoas nesta terça-feira (16), incluindo um advogado e três vereadores de cidades de São Paulo, acusadas de atender a interesses de empresas ligadas ao PCC para fraudar licitações com prefeituras.  

A Operação Muditia, segundo o MP-SP, revela como o crime organizado tem se infiltrado no poder público do estado mais rico do país.  

Um dos presos é Áureo Tupinambá de Oliveira Fausto Filho, advogado de André de Oliveira Macedo, o André do Rap, considerado um dos maiores traficantes do Brasil. Em imagens de 2020, ele aparece cumprimentando o criminoso logo depois que ele deixou a prisão, beneficiado por uma decisão do então ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello. A decisão foi revertida no dia seguinte, mas André do Rap segue foragido até hoje. A prisão do advogado tem relação com o fato de ele ser servidor comissionado da Câmara Municipal de Cubatão.  

Entre os presos estão ainda três vereadores de cidades da Grande SP e da Baixada Santista, suspeitos de receberem propina das empresas ligadas à facção: Flávio Batista de Souza (Podemos), de Ferraz de Vasconcelos, Luiz Carlos Alves Dias (MDB), de Santa Isabel, e Ricardo de Oliveira (PSD), de Cubatão.

Como funcionava o esquema

  • De acordo com o MP-SP, empresas ligadas ao PCC simulavam uma concorrência em licitações de serviços terceirizados de limpeza pública e vigilância;
  • Elas já sabiam qual delas iria vencer a concorrência: a vencedora era a indicada pela organização criminosa para atender aos próprios interesses;
  • O PCC, então, usava essas empresas não só para lavar o dinheiro do crime, mas também para lucrar com os contratos.

Em apenas uma dessas empresas, os valores chegam a R$ 200 milhões.

“São três núcleos bem distintos: empresários e funcionários das empresas que atuavam na parte operacional, com liderança vinculada à facção criminosa; advogados que atuavam para a operação; e agentes políticos e servidores públicos que facilitavam o serviço”, explicou o promotor Yuri Fisberg.

“O que essas operações deixam muito claro é que há sofisticação na atividade dessa organização criminosa. Pensar nessa facção como atrelada unicamente ao tráfico de drogas, roubos, crimes violentos, de longe não mais corresponde à verdade”, completou o promotor Frederico Silveira.

Sobre a operação

As equipes cumpriram 42 mandados de busca e apreensão e 15 de prisão temporária – todos expedidos pela 5ª Vara Criminal de Guarulhos, na Grande São Paulo – em 11 prédios públicos, 21 conjuntos residenciais e dez comerciais e recolheram quatro armas (de calibres 380, .40, 38 e 9 milímetros) mais de 200 munições, 22 celulares e notebooks, além de R$ 3,5 milhões em cheques, R$ 600 mil em espécie e quase 9 mil dólares.  

Participaram da operação 27 promotores, 22 servidores e 200 policiais militares.

Ônibus investigados em São Paulo

A Operação Muditia acontece uma semana após o Ministério Público revelar que empresários de duas empresas de ônibus agiam em benefício do PCC na cidade de São Paulo. De acordo com a investigação da Operação Fim da Linha, Transwolff e UPBus lavavam dinheiro da facção na prestação do serviço público essencial.

Nesta terça (16), um dos donos da UPBus foi preso na capital paulista. O mandado de prisão foi expedido como desdobramento da operação. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP), Silvio Luiz Ferreira, conhecido como “Cebola” e o outro dono da UpBus seguem foragidos desde a semana passada. 

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