Band Vale

2023: Produtores da região sofreram impactos com ano mais quente da história

Altas temperaturas e baixo volume de chuvas causam prejuízos e reduzem safra de grãos e frutas, afetando produtores rurais do Vale do Paraíba.

Por Laboratório da Notícia

Colheita do Capim na fazendo do produtor rural Carlos Renato Datti
Colheita do Capim na fazendo do produtor rural Carlos Renato Datti
Divulgação / Arquivo Pessoal

Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia, o INMET, o ano de 2023 foi marcado por altas temperaturas em todo o país. E vem mais calor por ai. Em janeiro, as temperaturas globais foram as mais altas já registradas para esse mês, divulgou o Serviço Copernicus de Mudança Climática (C3S), o programa de observação da Terra da União Europeia (UE). Os efeitos do clima quente e seco foram sentidos pelos produtores rurais na região do Vale do Paraíba. 

A média anual das temperaturas em 2023 ficou em 24,92ºC, 0,69°C acima da média histórica de 1991/2020. Esse aumento nas temperaturas foi influenciado pelo fenômeno El Niño, que teve intensidade muito forte, semelhante ao registrado em outros anos historicamente quentes no país.

O produtor rural Carlos Renato Datti, tem uma fazenda no município de Monteiro Lobato. Por lá, ele e a família plantam capim e sorgo (uma espécie de planta usada de alimento pro gado). Ele conta os desafios enfrentados: 

“A planta precisa de um equilíbrio, nem de muita chuva e nem de muito sol. Na minha visão e da minha família, o sol prejudica ainda mais quem planta milho, sorgo e principalmente o capim, que usamos para produzir silagem para alimentar vacas, cavalos e outros meios de criação animal”.

Ele plantava milho e com as altas temperaturas, observou como a evolução das plantas são afetadas, 

"as espigas de milho ficam murchas, tomates que não chegam no ponto de maturação e a laranja, que é muito afetada pelo calor", explica.

Em entrevista à Band Vale, o economista e especialista em finanças e agronegócio, Felipe Prince, explicou que no período de 2023-24, a safra de soja foi fortemente impactada pelo fenômeno El Niño, que causou altas temperaturas e baixo volume de chuvas. Nas principais regiões produtoras do Brasil, como Mato Grosso, Goiás e parte da Bahia, o resultado foi uma quebra de 20 milhões de toneladas e um prejuízo de 3 bilhões de reais. Enquanto isso, o excesso de chuvas na região sul provocou aumento da incidência de pragas nas lavouras, afetando a produtividade.

O economista, Felipe Prince, ainda destacou os impactos do El Niño na safra de 2023-24, 

“O agronegócio brasileiro, setor responsável por 26% do PIB do país e por 50% das exportações. O Brasil é líder mundial na exportação de diversos produtos agrícolas, como soja, milho, café, carne bovina, suína, celulose, tabaco e açúcar”. 

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a safra de grãos deste ano deve ser de 300 milhões de toneladas, em comparação com as 320 milhões de toneladas do ano anterior. Felipe Prince, contou os reflexos desse cenário: “problemas de crédito, caixa e demissões, impactam toda a cadeia produtiva do agronegócio, desde a produção até a distribuição e exportação dos produtos. Houve uma queda de 2,5% na produção de laranja em relação à safra anterior, devido às altas temperaturas e menor índice de chuvas. Além disso, estima-se que a safra de cana-de-açúcar, outra cultura importante em São Paulo, também passe por uma redução de 4% a 5% devido ao mesmo motivo. 

O que esperar do ano de 2024? 

Cientistas dos EUA afirmam que há uma chance de 2024 ser ainda mais quente do que o ano anterior, e 99% de chance de ser classificado entre os cinco anos mais quentes já registrados. Mesmo com o enfraquecimento do fenômeno El Niño e a possível transição para o La Niña, as temperaturas médias globais da superfície do mar continuam elevadas.

As projeções do IBGE para a safra de 2024 indicam uma queda de 3,2% na produção em relação ao ano anterior. A produção de milho deve ter uma redução significativa, com uma estimativa de 118,6 milhões de toneladas, uma queda de 9,5% em relação à safra colhida em 2023. Para a soja, a estimativa é de um novo recorde na série histórica, totalizando 152,5 milhões de toneladas, com alta de 0,6% ante 2023. Já a produção de sorgo deve ter uma queda de 10,9% em relação a 2023, com estimativa de 3,8 milhões de toneladas.

Felipe Prince acredita que esses problemas climáticos do El Niño devem impactar a colheita ao longo do ano. Mas para a safra 2024-25, se o El Niño se dissipar como indicado pelo Inmet, a expectativa é que a produção de cana-de-açúcar e laranja seja normalizada no estado de São Paulo.

Por Sara Teixeira
Estagiária* - projeto sob a supervisão de Nelson Gazolla - MTb: 74.409/SP
Direção de Conteúdo - Cláudio Nicolini

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