Nos dias mais difíceis da pandemia, durante meses em isolamento, dona Maísa Cadernuto Santos e o marido Jesus Santos ressignificaram o valor do abraço. Casados há 55 anos, se envolviam um nos braços do outro diariamente pelos corredores de casa. Não eram abraços quaisquer, eram fortes, apertados e longos que aproximavam os corações. “É fácil isso quando a gente ama, o abraço é a coisa mais fácil que tem, já que ele aconchega”, conta Santos.
Já para Maísa os abraços ficaram frequentes para aliviar a saudade do filho, da neta e dos demais familiares. “Nós vivemos um tempo grande dentro de casa apenas nós dois, a falta do abraço dos familiares era muito grande. Nós nos abraçávamos muito mais, devido a falta do aconchego dos outros”, revela.
Nascidos em dezembro, com poucos dias de diferença, os idosos de 77 anos são companheiros e fazem tudo juntos. Neste ano, puderam ser vacinados no mesmo dia. Depois disso, o abraço veio com mais segurança. “O abraço fica mais leve, a gente tem a consciência que ainda temos que manter a distância, mas nos sentimos bem e o abraço fica melhor assim”, explica o idoso.
Como já dizia Mário Quintana, poeta brasileiro, “abraçar é dizer com as mãos o que a boca não consegue, porque nem sempre existe palavra para dizer tudo”. O abraço é lugar de encontros e aconchego. Foi o que Raphael Xavier, de 40 anos, precisou, logo após deixar a Santa Casa de São José dos Campos. Ele ficou internado por Covid-19, precisou de balão de oxigênio e chegou a ter parada respiratória. No período em que ficou no hospital, os abraços foram virtuais com a filha e a esposa. “A saudade é maior sentimento que a gente tem e é nessas horas que a gente vê como é difícil ficar longe das pessoas que amamos”, desabafa Xavier.
Depois de receber alta, Xavier conseguiu finalmente ter contato com a família. “O abraço representa tudo, quando você abraça você sente o pulsar o coração da outra pessoa. É o melhor gesto de carinho”, expressou ao falar do reencontro com a esposa e a filha.
Abraço com o olhar
O abraço é a manifestação mais universal de afeto. Pessoas de todas as culturas se abraçam para demonstrar estima, amizade, ternura. Dentro de um abraço, o mundo é quente, aconchegante. Mas com a pandemia e o distanciamento social, o abraço precisou ser substituído.
Pensando em um jeito de tocar o coração, o cantor e compositor, Rafael Gasparin, conhecido como Rafinha Acústico, começou a levar um aconchego musical para as pessoas. “A serenata surgiu com a necessidade de preencher o buraco de alguma forma. Quando eu faço as serenatas, eu vejo que as pessoas se sentem abraçadas de verdade. A serenata é uma forma de abraçar através da música”, conta.
O cantor ainda explica que quando alguém oferece a serenata como presente para a outra, é pura demonstração de carinho. “Tem muito olho no olho, amor envolvido. É um momento que mostra o que realmente importa”, diz.
Foi por isso, que a Maria Laura Salvador presenteou a mãe, Claudia, com uma serenata no dia das mães. “Eu queria um presente diferente que ela nunca tinha recebido. Foi a música em forma de abraço”, conta.