Boomerang X e o ioiô da Coca-Cola

Jogar Boomerang X me trouxe lembranças da infância, de quando eu brincava de ioiô

Eddy Venino - Equipe BANDx

Jogar Boomerang X me trouxe lembrâncias da infância Divulgação/Boomerang X
Jogar Boomerang X me trouxe lembrâncias da infância
Divulgação/Boomerang X

Jogamos para nos divertir. Jogamos para nos distrair. Jogamos para competir. Por diversos motivos, jogamos.

Temos uma diversidade infindável de títulos, gêneros e plataformas para experimentarmos. Jogos que propiciam momentos que ficam marcados no nosso imaginário. E pensar nesses momentos, enquanto jogava Boomerang X, me trouxe lembranças da infância, de quando eu brincava de ioiô.

Boomerang X foi desenvolvido pela DANG! e publicado pela Devolver Digital. Frenético e simples, são duas palavras que definem bem esse jogo. Não há uma história complexa aqui, o foco é a gameplay. É um FPS onde empunhamos um bumerangue ao invés de uma arma de fogo qualquer. Combatemos monstros sombrios que dizimaram uma população antiga de guerreiros gafanhotos, dos quais pegamos o bumerangue ancestral que adquire novas habilidades no decorrer da jogatina. Cada fase traz hordas de inimigos que devemos eliminar para progredir. Nova fase, novas habilidades, novos monstros e assim o jogo caminha. Não parece grande coisa, mas mergulhar na prática do bumerangue digital me fez refletir sobre o ioiô que citei mais acima.

“Mas o que uma coisa tem haver com outra, Eddy?!” - você me perguntaria.

Bora lá, porque a minha prática de ioiô quando criança tem mais pontos em comum com Boomerang X  e minha caminhada até aqui do que você pode imaginar.

Coquinhas geladas e Devolvetes

Criançada dos anos 90, se queria ser descolada, tinha que ter um ioiô da Coca-Cola. E não bastava ter um ou dois, a parada era correr atrás da coleção. E eles eram maneiros demais! Além de ter uma qualidade muito boa. Não sou uma pessoa nostálgica, mas as crianças da década de 90 e 2000, tinham “brindes” bem mais legais do que os atuais que as marcas disponibilizam. Claro, assim como as “promoções” que acontecem hoje, você teria que comprar X produtos, juntar tampinhas, códigos de barras e embalagens - e muitas vezes completar com um dinheirinho - para poder pegar o item da promoção.

Tínhamos à disposição tazos, albúns com figurinhas, geloucos, card games, miniaturas cabeçudas e até bolas de futebol comemorativas na época de Copas do Mundo. Mas o ioiô da Coca-Cola virou uma referência e um dos colecionáveis promocionais mais maneiros que já tive.

São poucos os itens colecionáveis que me chamam atenção hoje em dia. Por questões econômicas, fui desapegando disso.

O que isso agrega a minha vida?! - me questionava.

E assim fui largando essa prática. Não vou negar que eu gostava de certas coleções que eu fazia, principalmente as de revistas, mangás e HQ. Então acabei abandonando.

Mas percebi que isso voltou com os games. Em especial com os jogos da Devolver Digital.

Seu catálogo é diversificado e gosto da atitude da publicadora, tanto profissional, junto a seus desenvolvedores, quanto com seu público adotando uma abordagem descompromissada e muitas vezes satírica. Com isso, eu acabo sempre testando seus lançamentos. Quando eu não passo dias perdidos em algum título novo dela. Tenho apreço por várias outras publicadoras e desenvolvedoras, mas a Devolver Digital, seu conceito dentro do mercado e, principalmente seus jogos, me trazem de volta aquele pequeno Eddy e seu entusiasmo em jogar.

Desde de tardes girando loucamente um ioiô quando jovem até chegar a um controle na mão girando digitalmente um bumerangue hoje em dia, uma linha tênue vem sendo construída. É essa construção que me fez hoje escrever sobre games. Porque quero que todos também possam experimentar essa sensação de ligação com sua criança interior; mas sem esquecer que crescemos e o modo que devemos encarar essas experimentação também deve ser mais maduro.

A prática leva a diversão

“Dúvido você fazer ‘volta ao mundo’!”

“Manda um ‘passeando com o cachorrinho’ aí!”

Essas eram frases constantes ditas por meus amigos na época do ioiô. Nossas disputas eram diárias. Fazíamos campeonatos entre nós, seja na rua de casa ou na escola. 

Mais do que comparar quais ioiôs eram mais maneiros, nós competíamos para saber quem era o melhor. Os melhores reinavam, mesmo que por um curto período, até ser superado no dia seguinte.

Numa época sem internet, dependíamos da TV e revistas para aprender mais sobre ioiô. Novas manobras surgiam desta pesquisa ou de algum primo distante (e geralmente mais velho) que sabia alguns truques. E, com isso, sonhávamos com campeonatos mundiais. Bem, pelo menos eu sonhava. Acredito que minhas ambições desportistas surgiram aí.

Corta pra 25 anos depois.

Eu, jogando Boomerang X, pensando em quanto tempo um speedrunner poderia fechar aquela fase e me esforçando para terminá-la da melhor maneira possível. Sentado, em frente ao PC, às vezes frustrado por uma morte no jogo, às vezes feliz por uma execução primorosa na fase. Assim como o ioiô, a prática aqui me ajudou a melhorar. E devido ao meu início com ioiô e meu primeiro sonho, o de ser um “Campeão Mundial de ioiô”, acabei desenvolvendo a minha “práxis” de vida. Sou um sonhador nato e me aplico bastante para alcançar o que almejo. Mas tive que aprender a meçar minhas expectativas e regular a minha ansiedade. Nem lembrava desse ponto de partida, as coisas acabam ficando automáticas e acabamos esquecendo o porquê de fazer o que fazemos. E nossa mente e corpo precisam desta lembrança para nos conectarmos a certas questões do nosso desenvolvimento. E brincar com ioiô foi o meu início de jornada.

E, como ressaltou o podcast Regras do Jogo, no episódio ‘O problema da empatia nos videogames’: o jogo nos faz performar! 

Jogos, como um produto de mídia tão dinâmico, intencionalmente (boa parte das vezes) ou não, nos faz acreditar que somos aquele personagem. Os jogadores querem ter uma experiência de pertencimento e acabam “interpretando” certos papéis dentro dos games. E assim acham que “vivem” as experiências do protagonista daquele jogo. E, acredito que performar no jogo está ligado não só a “vivenciar” momentos, mas também em seu desempenho físico, apertando botões, tendo reflexos rápidos e capacidade de resolução de problemas. E muito disso, apesar de ser divertido e às vezes até emocionante, é artificial. Não amigo, você não é um atirador de elite, jogador profissional da NFL, um super piloto de corrida ou uma pessoas de gênero diferente. Mas interagir com esses jogos é um início para que você se aprofunde em diversos assuntos, bons e ruins.

Eu nunca vou ser um guerreiro implacável que combate as forças do mal com um bumerangue mágico. Mas o jogo me trouxe lembranças de como um dia o pequeno Eddy podia ter enveredado pelas disputas de ioiô mundo afora. Não foi o meu destino. Mas fez parte do meu crescimento. E performar, física e psicologicamente, com meu ioiô da Coca-Cola, fez o Eddy criança a criar apreciação estética, se envolver nas discussões da moda, praticar para se tornar bom em algo e traçar planos para alcançar seus objetivos.

Toda essa reflexão rolou em pouco mais de uma hora de jogatina de Boomerang X. Porque, seja brincando com um ioiô ou arremessando bumerangues em monstros, no real ou digital, o importante é como você lida com essas experiências e depois as aplica em sua vida. Usem os jogos para aprender e crescer.

Boomerang X está disponível para Nintendo Switch e PC via Steam.

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