Entenda como funcionam as buscas pelo escoteiro desaparecido no interior de SP

Polícia Civil iniciou uma nova busca pelo corpo do escoteiro Marco Aurélio após drones identificarem possíveis covas

Redação Band Vale

Entenda como funcionam as buscas pelo escoteiro desaparecido no interior de SP
Buscas ocorrem no Pico dos Marins, em Piquete
Grasiele Girondi/ TV Band Vale

A Polícia Civil iniciou na manhã desta terça-feira (19) o segundo dia das buscas pelo corpo do escoteiro Marco Aurélio, que desapareceu durante uma trilha, em 1985, no Pico dos Marins, em Piquete, interior de SP.

Segundo a Polícia Civil, as buscas foram retomadas após novas imagens de drones tecnológicos apontarem novos locais com características de covas, onde restos mortais do escoteiro poderiam estar encerrados.

Sobre as buscas

Ao todo, cinco pontos do pico já definidos serão vistoriados. Durante as buscas parte da trilha dos Marins estará interditada. A previsão é que a operação seja encerrada até a próxima sexta-feira (22). Os pontos foram escolhidos após os drones encontrarem possíveis covas, onde pode haver ossos enterrados.

Quem realiza as buscas pelo escoteiro desaparecido?

A operação está a cargo da Delegacia Seccional de Guaratinguetá, que além de policiais civis da região irá contar com peritos do Instituto de Criminalística do setor de arqueologia de São Paulo e do Corpo de Bombeiros.

Onde ocorrem as buscas?

O trabalho policial ocorre em cinco pontos de mata na montanha. Um deles fica perto da porteira de entrada da base do Pico dos Marins. Os outros quatro estão localizados na área de mata da região, após os drones encontrarem possíveis covas, onde a polícia acredita que estejam possíveis ossos enterrados.

Como drones podem ajudar?

Drones podem ser ferramentas valiosas para identificar e mapear locais com características suspeitas de covas ou sepulturas clandestinas, especialmente em situações de busca e investigação. Aqui estão algumas maneiras como um drone pode ser usado nesse contexto:

Fotografia aérea de alta resolução: Os drones podem ser equipados com câmeras de alta resolução que capturam imagens detalhadas do terreno. Essas imagens aéreas podem revelar irregularidades no solo, como áreas recém-detestadas, escavações recentes ou depressões que podem indicar a presença de uma cova.

Imagens termográficas: Alguns drones estão equipados com câmeras infravermelhas que podem detectar variações sutis de temperatura no solo. Isso pode ser útil para identificar diferenças de calor entre o solo e possíveis objetos enterrados, como corpos ou materiais de construção usados para ocultar uma cova.

Sensoriamento remoto: Além das câmeras visuais e infravermelhas, os drones podem transportar sensores específicos para detectar substâncias químicas ou gases liberados por decomposição orgânica. Esses sensores podem ser usados para identificar áreas onde pode haver uma atividade suspeita.

Mapeamento 3D: Drones também podem criar modelos tridimensionais do terreno usando técnicas de mapeamento por drones (fotogrametria). Isso permite uma análise mais detalhada da topografia e pode revelar padrões que não são visíveis em imagens 2D.

Acesso a áreas de difícil alcance: Em locais de difícil acesso, como florestas densas, terrenos montanhosos ou áreas alagadas, os drones podem sobrevoar e coletar dados sem a necessidade de equipes de busca no solo, tornando as operações mais seguras e eficientes.

O que foram coletados até o momento?

Os especialistas em arqueologia do Instituto de Criminalística (IC) estão atualmente conduzindo investigações nos locais apontados como possíveis locais de sepultamento de ossos humanos. Nesse processo, eles estão realizando uma minuciosa triagem do solo, devido à possibilidade de que os ossos possam ter se deteriorado ao longo dos anos de decomposição.

Dezenas de amostras foram coletadas e serão enviadas para a sede do IC na capital, onde passarão por análises para determinar se o material em questão é, de fato, de origem humana. Em caso afirmativo, serão realizados exames de DNA para confirmar se os ossos pertencem a Marco Aurélio.

Escoteiro desaparecido

O episódio teve início em 8 de junho de 1985, quando Marco Aurélio Bezerra Bosaja Simon, um jovem escoteiro de 15 anos, desapareceu durante uma excursão ao Pico dos Marins, no município de Piquete, São Paulo.

O escoteiro Marco Aurélio desapareceu aos 15 anos, em 1985.
(Arquivo Pessoal)

Para tentar encontrar o garoto, foi mobilizada uma das maiores equipes de buscas já vistas no Brasil. No entanto, apesar dos esforços incansáveis das autoridades e voluntários, Marco Aurélio nunca foi encontrado. O mistério só se aprofundou com o passar dos anos.

O caso ganhou notoriedade internacional quando a revista Go Outside o incluiu em sua lista dos dez maiores desaparecimentos do mundo, classificando-o como o terceiro mais intrigante. As investigações oficiais foram encerradas em 1990, com o arquivamento do caso, deixando a família de Marco Aurélio sem respostas.

Foi somente em 2005 que o jornalista investigativo Rodrigo Nunes decidiu reabrir o caso. Sua investigação resultou em dois livros, posteriormente compilados em um só volume em 2015. O trabalho de Nunes revelou inconsistências nos relatos dos garotos escoteiros, do líder deles e da investigação policial, bem como diversas teorias e entrevistas com testemunhas da época. Essas descobertas lançaram uma nova luz sobre o caso, aumentando ainda mais a perplexidade em torno do desaparecimento de Marco Aurélio.

A reviravolta mais recente aconteceu em 2021, quando o caso foi reaberto para investigação. Novas linhas de investigação foram traçadas, e a tecnologia entrou em cena com o uso de drones alemães de ponta que detectaram possíveis locais de ossadas no Pico dos Marins

Após a abertura das investigações, a Polícia Civil iniciou novas escavações em busca do corpo, imaginando que poderia estar enterrado dentro de uma casa em Piquete. Na época, circularam em grupos de WhatsApp, vídeos e áudios sobre um possível desfecho do caso. A informação era de que uma mulher, no leito de morte, teria informado que Marco Aurélio foi morto por seu irmão, que tinha problemas mentais. O pai deles teria enterrado o corpo do menino debaixo da cama do casal, para proteger o filho. Anos depois, foi construída no local uma capela, na antiga base do Pico dos Marins. A informação, no entanto, não é confirmada pela Polícia Civil.

Versão oficial do inquérito policial

A versão oficial do inquérito policial se baseia nos relatos do líder Juan Bernabeu Céspedes e dos escoteiros Osvaldo Lobeiro, Ricardo Salvione e Ramatis Rohm. Afonso Xavier, familiarizado com a região, forneceu abrigo ao grupo na base do Pico dos Marins. No entanto, os acontecimentos que se seguiram à separação de Marco Aurélio do grupo permanecem repletos de incerteza.

Juan Bernabeu Céspedes alegou que permitiu que Marco Aurélio retornasse sozinho ao acampamento, enquanto o grupo escalava o pico. Quinze minutos depois da separação, o garoto desapareceu completamente. Quando o grupo seguiu as marcas deixadas por Marco Aurélio, chegou a uma bifurcação, onde o desaparecido teria escolhido o lado esquerdo, apesar dos obstáculos. Juan optou pelo lado direito, em direção oposta, alegando que os caminhos se encontrariam mais à frente, o que nunca aconteceu.

As inconsistências nos relatos e as suspeitas em torno do inquérito original lançam uma sombra de dúvida sobre os eventos daquele fatídico dia. Entrevistas e depoimentos ao longo dos anos têm levantado sérias questões sobre a versão oficial dos acontecimentos.

O que irá ocorrer com os culpados?

Apesar da retomada das investigações, mesmo que seja descoberto quem foi o responsável pelo desaparecimento de Marco Aurélio, o crime já prescreveu, portanto, não haverá punição.

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