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Carta aos Brasileiros e Brasileiras pela Democracia é lida na USP; veja aqui

Manifesto reuniu mais de 1 milhão de assinaturas de autoridades a artistas

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O texto defende o Estado Democrático de Direito.
O texto defende o Estado Democrático de Direito.
Foto: Faculdade de Direito da USP

O manifesto "Carta aos Brasileiros e Brasileiras pela Democracia" ultrapassa a marca de um milhão de assinaturas nesta quinta-feira (11). A leitura do documento é organizada pela Faculdade de Direito da USP, que limitou o acesso à universidade para pouco mais de 1.200 convidados.

O evento é realizado pouco mais de 45 anos depois da leitura da "Carta aos Brasileiros", redigida por Goffredo da Silva Telles Junior e lida no mesmo local, no dia 8 de agosto de 1977, em repúdio às repressões da ditadura militar.

A carta de 2022 recebeu o apoio de candidatos ao Palácio do Planalto, como Lula (PT), Ciro Gomes (PSD) e Simone Tebet (MDB), além de outros políticos, empresários, banqueiros, artistas, juristas e integrantes da sociedade civil. O presidente Jair Bolsonaro não assinou o manifesto.

O texto defende o Estado Democrático de Direito, as urnas eletrônicas e o resultado das eleições de outubro.

Um grupo de 42 artistas, incluindo Fernanda Montenegro, Anitta, Lázaro Ramos, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa e Chico Buarque divulgou um vídeo com a leitura de trechos na internet.

Atos em apoio ao documento estão previstos nos 26 estados e no Distrito Federal. Em São Paulo, a Secretaria de Segurança Pública aumentou o efetivo nas ruas e linhas de ônibus foram desviadas na região central da capital paulista por causa das manifestações.

Acompanhe a carta: 

"Em agosto de 1977, em meio às comemorações do sesquicentenário de fundação dos Cursos Jurídicos no País, o professor Goffredo da Silva Telles Junior, mestre de todos nós, no território livre do Largo de São Francisco, leu a Carta aos Brasileiros, na qual denunciava a ilegitimidade do então governo militar e o estado de exceção em que vivíamos. Conclamava também o restabelecimento do estado de direito e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.

 A semente plantada rendeu frutos. O Brasil superou a ditadura militar. A Assembleia Nacional Constituinte resgatou a legitimidade de nossas instituições, restabelecendo o estado democrático de direito com a prevalência do respeito aos direitos fundamentais.

 Temos os poderes da República, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, todos independentes, autônomos e com o compromisso de respeitar e zelar pela observância do pacto maior, a Constituição Federal.

 Sob o manto da Constituição Federal de 1988, prestes a completar seu 34º aniversário, passamos por eleições livres e periódicas, nas quais o debate político sobre os projetos para país sempre foi democrático, cabendo a decisão final à soberania popular.

 A lição de Goffredo está estampada em nossa Constituição “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.

 Nossas eleições com o processo eletrônico de apuração têm servido de exemplo no mundo. Tivemos várias alternâncias de poder com respeito aos resultados das urnas e transição republicana de governo. As urnas eletrônicas revelaram-se seguras e confiáveis, assim como a Justiça Eleitoral.

 Nossa democracia cresceu e amadureceu, mas muito ainda há de ser feito. Vivemos em país de profundas desigualdades sociais, com carências em serviços públicos essenciais, como saúde, educação, habitação e segurança pública. Temos muito a caminhar no desenvolvimento das nossas potencialidades econômicas de forma sustentável. O Estado apresenta-se ineficiente diante dos seus inúmeros desafios. Pleitos por maior respeito e igualdade de condições em matéria de raça, gênero e orientação sexual ainda estão longe de ser atendidos com a devida plenitude.

Nos próximos dias, em meio a estes desafios, teremos o início da campanha eleitoral para a renovação dos mandatos dos legislativos e executivos estaduais e federais. Neste momento, deveríamos ter o ápice da democracia com a disputa entre os vários projetos políticos visando convencer o eleitorado da melhor proposta para os rumos do país nos próximos anos.

Ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições.

Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o estado democrático de direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional.

Assistimos recentemente a desvarios autoritários que puseram em risco a secular democracia norte-americana. Lá as tentativas de desestabilizar a democracia e a confiança do povo na lisura das eleições não tiveram êxito, aqui também não terão.

Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia. Sabemos deixar ao lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática.

Imbuídos do espírito cívico que lastreou a Carta aos Brasileiros de 1977 e reunidos no mesmo território livre do Largo de São Francisco, independentemente da preferência eleitoral ou partidária de cada um, clamamos as brasileiras e brasileiros a ficarem alertas na defesa da democracia e do respeito ao resultado das eleições.

No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições.

Em vigília cívica contra as tentativas de rupturas, bradamos de forma uníssona:

Estado Democrático de Direito Sempre!!!!"

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