Em comunicado divulgado pelo sindicato FutPro nesta sexta-feira (25), as jogadoras da seleção da Espanha anunciaram um boicote às próximas convocações enquanto os atuais dirigentes da federação do país permanecerem nos cargos.
Assinada por mais de 80 atletas, incluindo as 23 campeãs mundiais na Austrália, a nota começa reforçando o apoio a Jenni Hermoso, manifestando a firme e contundente condenação às condutas que vão contra a dignidade das mulheres.
Hermoso, inclusive, desmente o presidente da federação, Luis Rubiales, que disse mais cedo ter beijado a jogadora com a concordância dela. “Assim como foi visto nas imagens, em nenhum momento consenti no beijo que ele me deu e não busquei levantar o presidente. Não aceito que coloquem em dúvida minha palavra e, muito menos, que inventem palavras que eu não disse."
O sindicato afirma que as jogadoras espanholas esperam respostas contundentes do poder público para que as ações não fiquem impunes. Elas pedem mudanças reais na estrutura, que ajudem a seleção a crescer e passar o êxito às próximas gerações. “Enche-nos de tristeza que um acontecimento tão inaceitável consiga manchar o maior sucesso do futebol feminino espanhol”.
O comunicado é uma resposta às declarações de Luis Rubiales em assembleia extraordinária nesta sexta-feira (25). Além de não renunciar, o presidente disse que estava sofrendo um “assassinato social” por causa de um “falso feminismo”.
O Conselho Superior de Esportes da Espanha vai levar as quatro denúncias contra o dirigente ao Tribunal Administrativo do Esporte, para dar início ao processo de inabilitação de Rubiales. O Real Madrid se manifestou em nota dizendo que apoia o conselho.
Além desse comunicado do sindicato, Hermoso divulgou um outro nas redes sociais dela.
“Não quero interferir nos múltiplos processos em curso, mas me sinto obrigada a denunciar que as palavras de Rubiales são categoricamente falsas e partem da cultura manipuladora que ele tem gerado. Em nenhum momento houve a conversa que ele fez referência, e que, muito menos, o beijo foi consentido. Da mesma maneira, quero reiterar como já fiz em outro momento que não foi do meu agrado. A situação me provocou um choque pelo contexto da celebração, e com o passar do tempo aprofundando mais um pouco nessas primeiras sensações, sinto a necessidade de denunciar o ocorrido já que considero que nenhuma pessoa, seja em âmbito de trabalho, esportivo ou social deve ser vítima desse tipo de comportamento não consentido. Me senti vulnerável e vítima de uma agressão, um ato impulsivo, machista, fora de lugar e sem nenhum tipo de consentimento da minha parte. Sinceramente, não fui respeitada. Me pediram para realizar uma declaração conjunta para baixar a pressão sobre o presidente, mas a minha cabeça só tinha a ideia de comemorar o feito histórico alcançado junto com minhas companheiras de equipe. Por isso, a todo momento eu disse à federação e aos interlocutores, assim como imprensa e gente da minha confiança, que eu não faria nenhum tipo de declaração individual ou conjunta sobre o assunto, já que entendia que ao fazê-lo traria mais protagonismo ainda a um momento tão especial para mim e minhas companheiras. Apesar da minha decisão, devo afirmar que tenho estado sob contínua pressão para apresentar alguma declaração que possa justificar o ato do senhor Luis Rubiales. Não só isso, mas de diferentes maneiras e através de diferentes pessoas, a federação tem pressionado meu entorno (família, amigos, companheiras), para dar um testemunho que pouco ou nada tinha a ver com meus sentimentos. Não cabe a mim avaliar as práticas de comunicação e integridade, mas tenho certeza de que como seleção nacional campeã do mundo não merecemos uma cultura tão manipuladora, hostil e controladora. Esse tipo de incidente se une a uma grande lista de situações que nós temos denunciado nos últimos anos e, este acontecimento que estive envolvida, é apenas a gota d'água, mas atitudes como essa tem sido parte do dia a dia da nossa seleção durante anos. Por tudo isso, quero reforçar a posição que tomei desde o começo, considerando que não tenho que apoiar a pessoa que cometeu essa ação contrária à minha vontade, sem me respeitar, em um momento histórico para mim e para o esporte feminino do país. Em nenhum caso, pode ser minha responsabilidade assumir as consequências de transmitir algo que não acredito, razão pela qual resisti às pressões. TOLERÂNCIA ZERO com esses comportamentos. Quero encerrar deixando muito claro que, embora seja eu que expresse essas palavras, foram todas as jogadoras da Espanha e do mundo que me deram forças para fazer esse comunicado. Perante tamanha demonstração de desrespeito e incapacidade de reconhecer os próprios erros e assumir as consequências, tomei a decisão de não voltar a jogar pela seleção enquanto continuarem os mesmos dirigentes.”