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"Olhar do professor é essencial", diz especialista sobre uso de IA na educação

Uso da inteligência artificial como uma das etapas no aprimoramento de materiais educacionais é alvo de questionamentos por parte de especialistas na área de educação

Da Redação

Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos)
Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos)
Ricardo Rimoli / Governo do Estado de SP

O projeto piloto da gestão Tarcício de Freitas para substituir os professores responsáveis por produzir os materiais didáticos digitais aos alunos pelo ChatGPT - ferramenta de inteligência artificial -, virou alvo de polêmica em São Paulo. O uso da inteligência artificial como uma das etapas no aprimoramento de materiais educacionais é alvo de questionamentos por parte de especialistas na área de educação.

Brenda Prata, especialista do Instituto Ayrton Senna, acredita que a IA não pode ser a principal ferramenta para aprimorar os indicadores educacionais. "O desafio da educação é sistêmico, é muito complexo. Melhorar com currículo e material deve fazer parte de estratégias mais amplas", disse. "É essencial que ele (professor) consiga trazer o olhar dele, trazer o olhar específico regional, local, para que ele consiga construir essa conexão com o estudante e desempenhar melhor o papel dele de levar essa aprendizagem".

Em entrevista à BandNews FM, Brenda ainda destacou a importância do educador na "relação humana" com o aluno. "O professor é o principal ator para mediar o consumo de conhecimento, para inspirar os estudantes. A relação humana que existe entre aluno e professor é o que caracteriza a aprendizagem. Existem muitas evidências de que os professores são a principal peça que pode causar mais impacto na transformação da educação dos estudantes. Está mais que comprovado que as competências emocionais, como amabilidade, engajamento com o outro, são fundamentais para que aconteça uma aprendizagem".

Outro ponto de atenção apontado por Brenda é a relação do professor com a IA no dia a dia que, em sua opinião, deve contribuir para a melhora do processo, e não sobrecarregar ainda mais o profissional. "É essencial também ofertar informações para habilitar os profissionais para o uso desta e de qualquer outra ferramenta que virá a ser implementada. Um ponto relevante sobre essa proposta é sobre a forma de uso que ela está sendo proposta pelos profissionais. Pedir para que os professores entreguem uma quantidade enorme de aulas a cada três dias, mesmo que com esse apoio do uso da inteligência artificial, é preocupante porque a chance de eles conseguirem revisar essas aulas, adequarem as mesmas à realidade de São Paulo com essa agilidade, pode ser muito desafiador".

Apesar de críticas ao projeto do governo paulista, Brenda acredita que a introdução da IA no ensino pode trazer importantes contribuições no processo de aprendizagem. "É um caminho que deve ser explorado porque tem muito potencial. Existem professores que já estão solicitando planos de aulas que consigam articular diferentes conteúdos. Tem professores de coordenação pedagógica que usam para correção de provas para ter retorno com mais agilidade para os estudantes. A gente não tem tempo a perder. Os alunos já estão usando esse material para fazer pesquisas, até um processo contrário, com os professores provocando-os a aprenderem a perguntar, como chegar a determinadas respostas. Tem um outro potencial enorme também que é a elaboração e correção de avaliações em larga escala, que são muito importantes para a melhoria de políticas públicas", afirma.

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