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Investigação da PF detalha como execução de Marielle Franco foi planejada

O deputado federal Chiquinho Brazão e o conselheiro do TCE-RJ Domingos Brazão foram presos neste domingo (24), acusados de mandar matar a vereadora

Por Luanna BernardesMarcus LacerdaPedro DobalBruna NavarroMyllena Vianna

Chiquinho Brazão, Domingos Brazão e Rivaldo Barbosa estão presos
Chiquinho Brazão, Domingos Brazão e Rivaldo Barbosa estão presos
Reprodução

Documentos das investigações das mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes detalham como ocorreu o planejamento da execução da parlamentar.

A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes aponta que, no segundo semestre de 2017, os irmãos Brazão contrataram Edmilson Macalé, miliciano da área de Oswaldo Cruz, reduto eleitoral da família, e fizeram a proposta para o assassinato da parlamentar.

Macalé, por sua vez, contratou Ronnie Lessa para ser o executor. Os dois participaram de uma reunião com os políticos, por intermédio de Robson Calixto Fonseca, vulgo Peixe.

Ainda segundo a decisão, os irmãos Brazão infiltraram Laerte Silva de Lima nas fileiras do PSOL para levantamento interno de informações. Ele então descobriu que Marielle pediu para a população não aderir a novos loteamentos situados em áreas de milícia.

A partir daí, foi feita a proposta de execução. A única exigência seria que o crime não poderia se originar da Câmara dos Vereadores. De acordo com Domingos Brazão, essa solicitação seria do então diretor da Divisão de Homicídios, Rivaldo Barbosa, preso hoje acusado de atrapalhar as investigações.

O inquérito da Polícia Federal aponta que Ronnie Lessa passou a monitorar Marielle Franco, mas estava ficando impaciente com a exigência de Rivaldo Barbosa, diante da demora para a execução. Ele chegou a monitorar a parlamentar na saída da Câmara.

Os documentos citam ainda que o delegado Rivaldo Barbosa recebia vantagens indevidas da contravenção para não investigar determinados homicídios. Ele é investigado por associação criminosa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Segundo a Polícia Federal, Rivaldo Barbosa lucrava enquanto as organizações criminosas empilhavam corpos. A PF diz que o acusado instalou na diretoria da DH um "verdadeiro balcão de negócios". Os investigadores apontam que Rivaldo fez negócio com contraventores e milicianos.

De acordo com o inquérito, as receitas de empresas da esposa de Rivaldo cresceram bruscamente a partir do ano em que ele assumiu a DH. Érika Andrade de Almeida Araújo é acusada de lavar dinheiro para o marido.

O delegado foi um dos idealizadores do processo de unificação das investigações de homicídios do Rio de Janeiro. O inquérito aponta que, na condição de diretor das delegacias de homicídio, Rivaldo foi erguido a um patamar de destaque na Polícia Civil.

Toda essa trajetória ocorreu ocorreu durante o governo do então PMDB no Rio de Janeiro, iniciado em 2007 pelo governador Sérgio Cabral, até a saída de Luiz Fernando Pezão, em 2019.

Em 2018, ano do assassinato da vereadora Marielle Franco, Rivaldo Barbosa foi nomeado chefe da Polícia Civil por Richard Nunes, secretário de segurança nomeado por Walter Souza Braga Netto, que foi interventor federal da segurança pública no Rio durante a gestão de Michel Temer. Rivaldo assumiu o cargo um dia antes da morte da parlamentar.

Menos de doze horas depois da morte de Marielle, o então chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, nomeou o delegado Giniton Lages, pessoa de sua extrema confiança, para o cargo de delegado titular da Delegacia de Homicídios da capital, e consequentemente, responsável pela apuração do crime.

Segundo as investigações, Giniton foi responsável pela garantia da impunidade dos autores do delito. Inicialmente essa garantia se estendeu, inclusive, aos executores do crime, segundo o próprio Ronnie Lessa, que relatou os detalhes de uma última reunião com os irmãos Brazão, acusados de serem os mandantes do assassinato.

Nesse encontro, foi indicado que Rivaldo estaria promovendo o desvio da investigação. Nessa época, o crime chegou a ser imputado a Marcelo Siciliano, que foi apontado como mandante do Rio junto com Orlando Curicica, um dos maiores milicianos do Rio de Janeiro. Segundo as investigações, um policial militar fez as acusações através de um falso depoimento para confundir as autoridades.

Curicica foi ouvido e expôs outras situações que vão ao encontro do que delatou Ronnie Lessa. Segundo o miliciano, a DH recebia das milícias mensalmente cerca de R$60mil a R$80 mil. Do contraventor Rogério de Andrade, a especializada teria recebido cerca de R$300 mil para não investigar um assassinato.

O inquérito da PF sobre os mandantes da morte da vereadora Marielle Franco cita que a Polícia Civil, por meio da Divisão de Homicídios, assumiu o papel de garantir a impunidade do grupo, de modo que os crimes de homicídio vinculados à contravenção não fossem devidamente investigados.

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