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A história de amor e superação de Adriana Araújo e da filha: “Me transformou"

Giovanna nasceu com uma condição ortopédica rara. A mãe se esforçou para que a vida da filha fosse a mais natural possível. Hoje, Giovanna cursa medicina, e a mãe é só orgulho. Em entrevista ao Band.com.br, Adriana Araújo conta sua história repleta de amor, perseverança e cumplicidade

Gisele Alquas

Adriana Araújo e a filha, Giovanna Reprodução/Instagram
Adriana Araújo e a filha, Giovanna
Reprodução/Instagram

Adriana Araújo e a filha, Giovanna, vivem uma relação de cumplicidade, amor e superação. A jornalista sempre quis ser mãe de menina e quando descobriu que estava grávida, aos 25 anos, embora não tenha sido planejada, foi uma grata surpresa. Em meio a alegria, uma notícia não esperada: a menina teria diferenças ortopédicas significativas, o que foi confirmado nas primeiras horas de vida do bebê. Giovanna nasceu com hemimelia fibular, uma síndrome congênita rara que a trouxe ao mundo sem um osso na perna e com apenas dois dedos na mão direito.

A partir do diagnóstico, Adriana, que na época morava em Belo Horizonte (MG), se esforçou para que a vida de Giovanna fosse a mais natural possível. Foram dez cirurgias o longo de 15 anos de tratamento para que a filha pudesse andar. A batalha foi difícil, mas elas venceram.  No livro “Sou a mãe dela”, lançado em 2020 pela editora Globo, a jornalista conta todo o processo de adaptação de Giovanna, as preocupações e vitórias. A obra é como um recado de esperança para as todas as mães: nunca desista! 

Com sete dias de vida, a Giovanna já estava no consultório para engessar as duas pernas e programar a primeira cirurgia, que foi com 3 meses de vida.  Estava preparada emocionalmente. Passei pelo processo de dor e, ao mesmo tempo, de entendimento

Neste dia especial, o Band.com.br conversou com a apresentadora do “Boa Tarde, São Paulo" e do “Entre Nós”, da rádio BandNews FM, que relembra sua história de força e fé. “A vantagem de descobrir [a condição] na gestação é que tive tempo de me preparar para o desafio que surgiria. A preparação foi prática e pragmática. Comecei a procurar médicos ortopedistas antes dela nascer. Com sete dias de vida, a Giovanna já estava no consultório para engessar as duas pernas e programar a primeira cirurgia, que foi com 3 meses de vida.  Estava preparada emocionalmente. Passei pelo processo de dor e, ao mesmo tempo, de entendimento”, diz.

A força de Giovanna

Giovanna precisou ser forte logo que nasceu. Adriana conta que ao longo do tratamento os médicos a alertaram sobre a possível resistência da paciente. “Foi uma sequência de cirurgias muito pesadas. Cirurgias de alongamento ósseos são muito difíceis porque colocam aquela ‘gaiolinha de metal’ ao redor da perna e exige muitos meses em uma cadeira de roda. Era desgastante. Os médicos falavam que alguns pacientes quando entram na adolescência, não querem mais, preferem ficar na condição em que estão, mancando, do que se submeter a mais cirurgias”.

A Giovanna sempre foi muito tranquila, forte, calma. Até os 9 anos ela fez cirurgias preparatórias. Depois, aos 9, ela se submeteu a primeira cirurgia de alongamento ósseo. Ela mesma se cuidava, assumiu a responsabilidade

Apesar de toda dificuldade, Giovanna nunca desistiu durante os 15 anos de tratamento entre cirurgias e fisioterapias. “Ela sempre foi muito tranquila, forte, calma. Até os 9 anos fez cirurgias preparatórias. Depois, aos 9, ela se submeteu a primeira cirurgia de alongamento ósseo. Ela mesma se cuidava, assumiu a responsabilidade”, lembra a jornalista.

Giovanna teve alta médica aos 18 anos. “Quando passou pela consulta para saber se estava tudo certo, o médico a examinou e disse que ela estava ótima e o tratamento havia sido concluído. Ele falou que Giovanna foi uma ótima paciente, que colaborou com ela mesma de uma forma muito amadurecida, muito consciente. E isso facilitou a jornada”. 

Giovanna completa 25 anos em outubro e cursa o quinto ano de medicina. Para exercer o ofício, ela usa luvas sob medidas. 

Tadinha não!

Adriana Araújo se blindou com a armadura de mãe para conter os comentários que surgiriam. Na maioria das vezes eram perguntas inconvenientes, mas a jornalista diz que Giovanna nunca enfrentou preconceito e bullying que a desestabilizasse. Desde cedo, Adriana determinou um mantra: “tadinha não”.  

“Sempre ensinei que ela não era uma coitadinha. Ensinei a dizer ‘não’ e a levar uma vida com as escolhas que quisesse. Na escola eu pedia para as professoras não a tratarem de forma diferente, nem para mais, nem para menos. Igual. Sempre funcionou. A piedade pela pessoa com deficiência não ajuda em nada".

A ensinei entender que nascer com deficiência não significa não ter possibilidades, não significa estar em dívida e que ela deveria tentar tudo que quisesse

“Só quando vive a situação você tem a noção do peso dessas palavras. Era nesse lugar que eu colocaria minha filha? Ouvindo isso? Quando você faz essa reflexão, você entende que a piedade condena. A ensinei entender que nascer com deficiência não significa não ter possibilidades, não significa estar em dívida e que ela deveria tentar tudo que quisesse”.

Giovanna seguiu os ensinamentos da mãe. Cresceu praticando atividades físicas dentro de seu limite. Lutou judô com diferença de 5 cm entre as pernas. "Ela cambaleava no tatâmi, mas concluía a aula. Fez balé e dançou do jeito que pode, fez aulas de natação. Nunca conseguiu efetivamente ter velocidade, mas teve a chance de fazer. A jornada de confiança e de autoestima foi mais importante do que a jornada cirúrgica. O tratamento lhe deu a possibilidade de andar e de ter as pernas do mesmo tamanho, mas também a independência emocional”.

O pai do coração

Adriana Araújo se separou do pai biológico de Giovanna dois anos após o nascimento da menina. O pai biológico escolheu se afastar, mas a jornalista contou com a rede de apoio da família e amigos.

Em junho de 2002, Adriana se mudou para Brasília para trabalhar como repórter. A apresentadora chegou a São Paulo quando Giovanna tinha 9 anos e se casou com o jornalista Chico Zaidan Mendez. Os dois estão juntos há 15 anos. “Acabei encontrando um marido, e a Giovanna encontrou um pai do coração”. 

A estudante ainda está indecisa sobre qual especialidade quer seguir na medicina. Atualmente Giovanna estagia na ala de pediatria. “Ela chega contando sobre as crianças que atendeu, como foi o dia. Eu me emociono porque está fazendo as escolhas dela. A maior herança que uma mãe pode deixar para seu filho é o respeito, a confiança e o amor. Minha filha sabe que estou aqui para ela. E eu sei que ela está aqui para mim, sempre”, emociona-se. 

Desde que lançou o livro “Sou a mãe dela”, Adriana recebe muitos relatos de pais que têm filhos com alguma deficiência. Eles compartilham as angústias, aflições e esperanças que lhes unem. Giovanna também interage com esses pais, que de alguma forma veem esperança em uma jovem que venceu a sua luta. 

A Giovanna é calma, amorosa e resiliente. Ela transformou a minha vida. Eu não seria a pessoa que sou se minha filha não tivesse entrado na minha história. Foi um encontro de amor e de almas

“Quando falo de maternidade, as pessoas tiram a conclusão: 'nossa, que sorte da sua filha ter uma mãe maravilhosa como você’. E eu penso: ‘que sorte a minha ter uma filha maravilhosa como ela’. A Giovanna é calma, amorosa e resiliente. Ela transformou a minha vida. Eu não seria a pessoa que sou se minha filha não tivesse entrado na minha história. Foi um encontro maravilhoso de amor e de almas”, enfatiza.

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