Meu Amigo É o Bicho!
Juliana Finardi é jornalista e é mãe de pet. Já escreveu para o UOL e jornais impressos como Agora SP, Diário do Grande ABC e outros tantos entre reportagem e edição. Ainda acredita na humanidade, mas acha que pet é melhor que muita gente
Foi depois de 15 dias se equilibrando em cima de uma geladeira, passando fome, frio e medo, que um vira-lata caramelo ainda teve forças, sabe-se lá como, de abanar o rabinho e mostrar que se sentia muito feliz ao finalmente ser resgatado por uma equipe de voluntários embarcados pelas ruas alagadas do Rio Grande do Sul.
O doguinho foi retirado da casa, onde permanecia preso e sozinho, após os socorristas conseguirem abrir as travas do portão e acessarem o local onde ele se abrigava. Para se ter uma ideia da profundidade, em pé dentro da água, fora do barco, os humanos caminhavam com água até o tórax.
Ele é mais um dos milhares de animais que foram vítimas da maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul. Uma grande parte desses bichos, pasmem, foi abandonada à própria sorte pelos ‘tutores’ que não voltaram mais para resgatá-los.
No caso do vira-lata dessa história, porém, aquela linha tênue que separa o azar da sorte parece ter sido cruzada através das mãos de Wanderley Duarte de Oliveira, originalmente mecânico de automóveis e momentaneamente barqueiro de um dos grupos de resgate aos animais que precisam de salvamento. Junto com sua equipe, o moço já ajudou a socorrer cerca de 400 bichinhos.
Com o caramelinho, porém, a emoção tocou de forma diferente o coração do socorrista. “Todos os animais tocam o nosso coração ao serem resgatados, mas ele foi diferente pela demonstração de felicidade e alegria ao ser resgatado. Parece ter ficado agradecido e, mesmo diante da situação difícil em que ele estava, não parecia triste", contou Oliveira.
Ele também disse que o caso foi mais emocionante e comovente porque no momento do resgate e durante todo o tempo em que esperava por ajuda, o doguinho permaneceu equilibrando-se em cima de uma geladeira. “Era dentro de uma garagem e ele ficava escorregando porque a geladeira estava inclinada e molhada".
Essa condição, aliás, foi a inspiração para que o moço batizasse o cachorro com o nome de Pinguim. “Porque estava na geladeira”, diz. Veja como foi o resgate no vídeo abaixo.
Foi através de um rastreamento (passando de barco ou caiaque) em frente às casas e batendo palmas, que o grupo ouviu os latidos do doguinho simpático de perninhas curtas, que parecia implorar por ajuda.
Dali ao coração de Wanderley foi um pulo. Literalmente. Depois de resgatado por um dos integrantes da equipe e ser levado ao barco, onde estava o barqueiro/mecânico, o cãozinho seguiu por todo o caminho de volta rumo à terra firme devorando um total de 4 sachês (comida úmida especial para cães) que o pessoal tinha no barco.
Já foi no caminho que o moço decidiu que seria o novo pai do caramelo Pinguim. Mesmo já tendo quatro cães e cinco gatos em casa, não pensou duas vezes em adotá-lo e aumentar a família.
Foi a esposa de Wanderley, inclusive, quem o estimulou a ajudar nos resgates após ouvir os apelos de Andressa Cappellari, proprietária da Gattedo Store, loja especializada em bem-estar felino através da gatificação, que está à frente dos salvamentos de gatinhos na região. Ela pedia barcos e ajuda com o transporte até os locais de resgates, inclusive este blog contou a história da Andressa aqui.
Já há cinco dias morando na nova casa, o Pinguim caramelo vai muito bem no processo de adaptação e convivência com os demais animais da família. Anêmico e com algumas feridas pelo corpo, ele ainda precisa ser castrado e já está recebendo todos os cuidados necessários.
Em todas as fotos e vídeos, claramente o Wanderley é o humano que o Pinguim resolveu adotar. Os dois correndo e brincando juntos em momentos de felicidade inquestionável são cenas dignas de um verdadeiro final feliz para a dupla. Que todos nós, assim como o doguinho caramelo (que é melhor que muita gente!), possamos recuperar a fé na humanidade.