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Ayrton Senna na Minardi: a história que a Fórmula 1 poderia ter visto

Emanuel Colombari

Giancarlo Minardi e Ayrton Senna (Imagem: Minardi/Divulgação)
Giancarlo Minardi e Ayrton Senna (Imagem: Minardi/Divulgação)

A Minardi esteve presente no grid da Fórmula 1 entre 1985 e 2005, deixando saudades no público que torcia por alguma surpresa oriunda do fim do grid. Na primeira metade da década de 1990, quando o regulamento não era tão generoso na distribuição de pontos, viveu seu auge: foi sétima do Mundial de construtores de 1991 (seis pontos), depois oitava em 1993 (sete pontos) e décima em 1994 (cinco pontos).

O time de Faenza deixou o grid ao ser vendido para a Red Bull, dando origem à Toro Rosso – depois AlphaTauri e atualmente Racing Bulls. No currículo, um total de 340 corridas e alguns recordes: é a equipe com mais GPs sem uma pole position ou um pódio. De quebra, ocupa o segundo lugar na relação de equipes com mais provas sem uma vitória – a Arrows, com 383 GPs disputados sem chegar ao topo do pódio, ocupa o topo da lista.

Com esse currículo todo, é possível imaginar que a Minardi poderia ter contado com Ayrton Senna em seus carros? Acredite: a possibilidade existiu.

O começo desta história data de 1982, quando nem a Minardi e nem Ayrton Senna estavam na Fórmula 1. Na ocasião, Giancarlo Minardi dirigia a equipe que levava seu sobrenome na Fórmula 2 europeia. Presente no grid da categoria a partir de 1980, a Minardi conseguiu atrair nomes de destaque nos primeiros anos, como Michele Alboreto, Johnny Cecotto, Paolo Barilla e Miguel Ángel Guerra.

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Àquela altura, Ayrton Senna era um jovem começando a trocar os karts pelos monopostos na Europa. Em 1981, disputou pela primeira vez uma categoria de carros, e não decepcionou: foi campeão da temporada da Fórmula Ford 1600. Em 1982, ainda que a carreira não fosse uma unanimidade na família, correu os campeonatos britânico e europeu da Fórmula Ford 2000 – venceu ambos.

Foi nessa época que Giancarlo Minardi e Ayrton Senna se conheceram. Em 1981, o dirigente entrou em contato pela primeira vez com o brasileiro, depois de uma indicação de Paolo Barilla. No começo de abril de 1982, Senna foi recebido para um jantar na Alemanha.

“Ele foi visto por Paolo Barilla pilotando em corridas de kart, e durante o fim de semana em Hockenheim, convidou o jovem Senna para um jantar no hotel. Ofereci a ele até 50 milhões de liras (moeda italiana da época) para se juntar a nós na F2, mas Ayrton educadamente recusou”, descreveu o próprio Giancarlo Minardi, em texto publicado pelo site da Minardi em 2014.

“Ele me agradeceu muito gentilmente, pois fui o primeiro a oferecer a ele algum dinheiro para dirigir, em vez de pedir. Desde aquele dia, quando as corridas de Fórmula 2 e Fórmula Ford coincidiam, Senna voltava novamente a nosso motorhome para jantar, mantendo um bom relacionamento conosco.”

Ayrton Senna e Giancarlo Minardi (Imagem: Minardi/Divulgação)

Por caminhos separados, as duas partes chegariam à F1 nos anos seguintes. Ayrton Senna estreou em 1984 pela Toleman, passando três anos depois pela Lotus, antes de conquistar três títulos pela McLaren. A Minardi conseguiu sua vaga no grid a partir de 1985.

Mesmo durante este período na categoria principal, Ayrton Senna e Giancarlo Minardi mantiveram uma boa relação. Segundo o dirigente, o tricampeão chegou a cogitar deixar a McLaren em 1993, quando vivia uma péssima relação com a cúpula da equipe, para assumir um dos carros do time italiano.

“No início de 1993, devido a uma relação desgastada com a McLaren, ele havia decidido se juntar a nós e pilotar pela Minardi, mas eu o convenci a evitar uma escolha tão arriscada”, assegurava o dirigente, que alegava conversar muitas vezes por telefone com o piloto. “Depois desse episódio, ele assinou o famoso contrato de 1 milhão de dólares por corrida: talvez naquele ano tenha feito sua temporada mais bonita e feroz.”

Giancarlo Minardi (Imagem: Minardi/Divulgação)

Os dois conversaram pela última vez na segunda etapa da temporada 1994: o GP do Pacífico de 1994, em Aida (Japão). Na prova seguinte, o GP da San Marino, um acidente fatal tirou a vida de Ayrton Senna, então piloto da Williams, aos 34 anos.

“A última troca de ideias aconteceu em Aida, quinze dias antes do trágico acontecimento de Imola, quando ele me pediu opinião sobre alguns fatos e episódios que estavam ocorrendo em sua vida, dentro e fora do paddock”, lembra o dirigente italiano.

Senna ainda teria alguns anos pela frente na Fórmula 1, e é sabido que um futuro na Ferrari era uma possibilidade real - a escuderia de Maranello já demonstrava interesse pelo menos desde o começo da década de 1990. Mas Giancarlo Minardi conta com uma promessa feita pelo próprio Ayrton Senna (e revelada inicialmente pelo pai do piloto, Milton): correria pela Minardi depois de conquistar um quinto título de F1, igualando o feito de Juan Manuel Fangio.

“Depois do pentacampeonato mundial, Ayrton teria entrado para o time de Faenza. Infelizmente, o destino o impediu de fazê-lo”, diz o antigo dono da Minardi. “Certamente, com Ayrton Senna em nossa equipe, as relações com diversos fornecedores técnicos teriam mudado... Com sua experiência e carisma, a equipe certamente poderia ter tido uma evolução imprevisível. Cada vez que nos encontrávamos, ele reafirmava sua vontade de se juntar a nós. Esse simples pensamento encheu meu coração de orgulho.”

Em 2001, vivendo uma situação financeiramente ruim, a Minardi foi vendida ao empresário australiano Paul Stoddart. Mesmo sob nova direção, a equipe foi responsável por um momento de destaque no GP de San Marino de 2004, que marcava os dez anos do acidente fatal do brasileiro. Na ocasião, os carros do time ganharam a bandeira do Brasil com a palavra “saudade” em destaque.

Minardi no GP de San Marino de 2004 (Imagem: Minardi/Divulgação)

Emanuel Colombari

Emanuel Colombari é jornalista com experiência em redações desde 2006, com passagens por Gazeta Esportiva, Agora São Paulo, Terra e UOL. Já cobriu kart, Fórmula 3, GT3, Dakar, Sertões, Indy, Stock Car e Fórmula 1. Aqui, compartilha um olhar diferente sobre o que rola na F-1.