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São Paulo tem Fórmula 1, Fórmula E e WEC. Agora, sonha com a MotoGP

Emanuel Colombari

(Imagem: Emanuel Colombari/Band)
(Imagem: Emanuel Colombari/Band)

A cada edição do Grande Prêmio de São Paulo, é comum ver o público presente ao Autódromo de Interlagos se empolgar e sonhar alto: se a Fórmula 1 vem ao Brasil, seria possível esperar também por provas da Fórmula 2 e da Fórmula 3?

A má notícia para o fã é que, publicamente, as duas categorias não estão nos planos da Prefeitura de São Paulo. Em contrapartida, a cidade sonha com a possibilidade de ter uma etapa internacional de motociclismo – em especial, da MotoGP.

“A gente está discutindo agora a questão das motocicletas. São Paulo tem 7 milhões de carros, mas nós temos 1,2 milhão de motos. Tem também uma paixão pela questão do motociclismo”, explicou o prefeito Ricardo Nunes (MDB) em entrevista coletiva de apresentação da etapa brasileira do WEC.

Com a chegada do Campeonato Mundial de Endurance, a cidade de São Paulo passou a abrigar provas das três mais importantes categorias da FIA (Federação Internacional de Automobilismo): Fórmula 1, Fórmula E e WEC.

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Entre as principais competições da entidade máxima do automobilismo mundial, o Grande Prêmio de Fórmula 1 é a prova mais longeva em São Paulo. Oficialmente disputada desde 1973, a corrida só ficou fora da cidade durante passagens pelo Rio de Janeiro (1978, depois 1981 a 1989).

Já a Fórmula E chegou ao Brasil com uma corrida de rua na região do Sambódromo do Anhembi em 2023. E, a partir de 2024, a WEC também correrá em Interlagos com a realização da Rolex 6 Horas de São Paulo.

A princípio, porém, uma prova de uma grande categoria do motociclismo em Interlagos ainda é tratada apenas como uma possibilidade que interessa - cenário semelhante, por exemplo, ao de uma possível volta da Fórmula Indy à cidade.

“Essas questões dependem muito de contrato, tem confidencialidade. É algo que a gente está vendo como uma possibilidade de trazer um grande público, de ter a cidade sendo repercutida positivamente em vários locais do mundo”, explicou Ricardo Nunes, que vê os grandes eventos esportivos como ferramentas de geração de renda e de divulgação de uma imagem positiva de São Paulo.

“Gera emprego, gera renda e põe a cidade no mundo positivamente? É algo em que a gente está se empenhando. Mas todas as áreas de automobilismo, a gente está desenvolvendo. (Ser) a única (cidade) do mundo que tem os três tipos de evento (da FIA) é motivo de orgulho. Mas a gente vai continuar atuando bastante nessa área do automobilismo e em outras áreas do esporte”, afirmou.

O prefeito não mencionou nominalmente o interesse específico na MotoGP. No entanto, questionado se o fã da categoria pode sonhar com uma prova em São Paulo, foi breve.

“A gente gostaria”, disse. “Estamos trabalhando para isso.”

Retrospecto negativo

Folha de S.Paulo, 23 de agosto de 1992 (Imagem: Reprodução)

A atual MotoGP passou apenas uma vez por Interlagos, em 1992. Na época, a prova do então Mundial de Motovelocidade deixou uma imagem ruim, especialmente diante do pouco público e das críticas de pilotos e equipes.

Aquela foi a última temporada organizada pela Two Wheels Promotions, empresa britânica pertencente a Bernie Ecclestone, então chefão da Fórmula 1. Não por acaso, diversas pistas apareciam nas duas competições, como Suzuka, Kyalami e Hungaroring.

(Um cenário que, aliás, pode se repetir a curto prazo - uma vez que a Liberty Media, empresa dona da Fórmula 1 desde 2017, anunciou a compra da Dorna Sports, detentora dos direitos comerciais de televisivos da MotoGP.)

O Autódromo de Interlagos já vinha sendo avaliado pela motovelocidade desde 1991. No início daquele ano, o norte-americano Kevin Schwantz (vice-campeão das 500 cc em 1990) visitou a pista e não gostou do que viu. Mesmo assim, a organização levou o plano adiante, e realizou a prova apenas com pequenas mudanças no traçado.

Meses antes da etapa, que aconteceu em agosto, a realização foi aprovada. Pilotos como Michael Doohan, Eddie Lawson e o próprio Kevin Schwantz propuseram um boicote em decorrência da falta de segurança da pista - o movimento, entretanto, não ganhou força.

No fim, as provas das três categorias previstas foram realizadas. Nas 500 cc, Wayne Rainey (Roberts Yamaha) levou a melhor, em um pódio todo norte-americano – John Kocinski (Roberts Yamaha) foi segundo com Doug Chandler (Suzuki) em terceiro.

Folha de S.Paulo, 23 de agosto de 1992 (Imagem: Reprodução)

Nas 250 cc, a Itália ocupou as três primeiras posições, com Luca Cadalora (Honda) em primeiro, Max Biaggi (Aprilia) em segundo e Loris Reggiani (Aprilia) em terceiro. Nas 125 cc, vitória do alemão Dirk Raudies (Honda), com o espanhol Jorge Martínez (Honda) em segundo e o italiano Alessandro Gramigni (Aprilia) em terceiro.

“O circuito é muito perigoso, ondulado demais. Só é bom para surfar”, ironizou Reggiani, um dos principais críticos de Interlagos na ocasião, em declarações após a prova publicadas pelo jornal Folha de S. Paulo.

Folha de S.Paulo, 23 de agosto de 1992 (Imagem: Reprodução)

Vale destacar que o Mundial de motovelocidade havia passado pelo Brasil também na década de 1980, mas com provas em Goiânia entre 1987 e 1989. Além disso, apenas as categorias 125 cc e 250 cc foram realizadas.

Aposta no esporte

Os grandes eventos têm se tornado uma aposta de São Paulo para fomentar a economia da cidade. Não apenas do automobilismo, mas também do esporte – em setembro, a Neo Química Arena receberá um jogo da NFL, a liga de futebol americano dos Estados Unidos. Além disso, os paulistanos ainda têm se acostumado a grandes festivais de música, como o Lollapalooza e o The Town.

Para o prefeito, o impacto na economia da cidade justifica os eventos. “A gente gera emprego, gera renda com os grandes eventos do mundo do automobilismo”, destacou Ricardo Nunes, reforçando a expectativa pela imagem internacional da cidade.

“Para ver ideia, a Fórmula 1 é transmitida para 190 países. A WEC, que a gente terá, serão seis horas de prova - ela vai ser transmitida para 150 países e gera milhares de empregos, muita renda.”

De acordo com um levantamento da SPTuris (São Paulo Turismo S/A, empresa de promoção de atividades e eventos turísticos na cidade de São Paulo) divulgado em novembro, a realização de grandes eventos injetou R$ 7,6 bilhões na economia paulistana ao longo de 2023. Até setembro, foram criados 24.955 empregos formais em decorrência de competições e shows internacionais na cidade.

“Você vai ver os taxistas e os motoristas de aplicativo trabalhando mais, os hotéis mais cheios, os restaurantes, os espaços culturais. Vem muita gente de fora. A cidade de São Paulo vai se consolidando como um grande polo de desenvolvimento econômico. E a gente não pode ficar de fora daquilo que tem repercussão no mundo. Em tudo aquilo que a gente tem de coisas positivas no mundo para poder colocar a cidade em um patamar positivo e poder gerar emprego e renda, a cidade está trabalhando”, afirmou Nunes.

Emanuel Colombari

Emanuel Colombari é jornalista com experiência em redações desde 2006, com passagens por Gazeta Esportiva, Agora São Paulo, Terra e UOL. Já cobriu kart, Fórmula 3, GT3, Dakar, Sertões, Indy, Stock Car e Fórmula 1. Aqui, compartilha um olhar diferente sobre o que rola na F-1.