Novas ameaças contra agentes de segurança devem fazer com que a cúpula da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) fique ainda mais isolada. O MP-SP (Ministério Público de São Paulo) deve incluir em processos contra 22 presos provas relacionadas a planos de ataque a autoridades.
Na madrugada da última quarta-feira (26), a equipe que faz a segurança do promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) de São Paulo, flagrou o sobrevoo de drone na região da residência do servidor.
Em bilhetes apreendidos em penitenciária na última semana, Gakiya voltou a ser ameaçado de morte. Em um deles, há anotações relacionadas ao uso de drones para levantamento de local. Em entrevista a José Luiz Datena, na Rádio Bandeirantes, o promotor disse que a referência indica que o plano da fação criminosa está em andamento.
“Planos para me matar novamente, no presídio de Avaré, em que citavam drones. Porque na madrugada de quarta-feira nós tivemos voo de drone, às 3 horas da manhã na minha casa. Foi acompanhado pela PM, estamos já com o equipamento para identificar o operador desse drone. Isso é levantamento de local, para saber se estou acompanhado 24 horas por dia mesmo”, sugere.
Bilhetes
Os dois novos bilhetes com mensagens para matar autoridades foram encontrados na Penitenciária de Avaré, no Interior de São Paulo. O presídio abriga presos integrantes do PCC.
“Nessas cartas que foram apreendidas tanto em Avaré, quanto aqui na Penitenciária II no ano passado, eles faziam essa referência de que estavam fazendo levantamento por drone. E nessa carta que foi apreendida em Avaré na semana passada existe uma anotação de contabilidade em que há anotação de despesa para drone e para aluguel de casa em Presidente Prudente, que é onde resido”, destacou o promotor.
Um bilhete já havia sido apreendido em 9 de setembro deste ano na cela 55, no Pavilhão A, habitada pelo prisioneiro Wesley Ferreira Sotero, 27, o Magrelo, e falava em matar um promotor de Justiça, delegados da Polícia Civil e agentes de presídios estaduais e federais.
No último dia 17, em revista realizada na cela 56, vizinha ao xadrez de Magrelo, agentes penitenciários encontraram mais dois bilhetes, dessa vez escondidos nos pertences do preso Carlos Alberto Damásio, 34, conhecido como Marlboro.
Um dos bilhetes encontrados na cela de Marlboro traz nomes de mais autoridades ameaçadas de morte pelo PCC. Tanto Magrelo quanto Marlboro já foram flagrados em outras ocasiões com bilhetes contendo ameaças a Lincoln Gakiya.
Situação de Marcola
Gakiya na entrevista à Rádio Bandeirantes que as ameaças ampliam as medidas de isolamento de integrantes da facção criminosa. Ele citou Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, atualmente preso na Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia.
“Essas ações fazem com que a situação do Marcola [Marcos Camacho] e dos demais líderes que eu mandei para o Sistema Penitenciário Federal em 2019 se complique ainda mais. É possível que esses líderes não retornem para São Paulo jamais. Porque a cada ameaça, a cada plano para matar uma autoridade ou policial, ou agente penitenciário, nós vamos acrescer isso aos processos desses 22 presos que foram transferidos”, garante.
O promotor afirma que o setor de inteligência do Estado monitora ordens das lideranças da facção. “A ordem sai da cúpula. E a cúpula está no sistema penitenciário federal. Então, que permaneçam lá”, destaca.
“Com relação a esse indivíduo [“Magrelo”], com quem foi pega a carta, possivelmente vai ser pedido contra ele a remoção para o sistema federal. E os outros que agirem da mesma maneira a mesma providência será tomada. Vai piorar a situação da violência”.
Marlboro tem condenação total de 11 anos e oito meses pelos crimes de tráfico de drogas e Magrelo é condenado a 23 anos, quatro meses e 28 dias por tráfico de drogas e roubos.
A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Carlos Alberto Damásio e Wesley Ferreira Sotero.
Em 2018, após pedido na Justiça de remoção, para presídios federais, da liderança do PCC recolhida na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP), Gakiya passou a ser alvo de ameaças. Segundo ele, já são cerca de dez processos abertos por esse motivo.
“Tenho oito ou dez processos em que eu sou vítima, desses planos para me matar. E em vários desses processos os indivíduos foram soltos ou não foi decretada a prisão preventiva deles. O que nos resta fazer é ficar indignados e recorrer”, conta.
Ônibus do PCC
O promotor revelou na entrevista com Datena que o presidente da Auto Viação Transcap (que teve origem na Unicoopers), Valter da Silva Bispo, acusado de extorsão contra demais dirigentes e proprietários de ônibus da empresa, utilizando suposta influência de membros da facção criminosa em suas ameaças, foi solto na semana passada.
“Um dos presidentes de uma das empresas de ônibus foi solta agora, no final da semana passada, que é o da Transcap. Te falo de antemão que ele foi solto e que nós estamos recorrendo dessa decisão, que achamos lamentável. Foi processado por quatro crimes graves, de ameaça, de extorsão, e está solto”, reclama.
Gakiya defendeu que as novas bancadas formadas no Congresso Nacional endureçam as leis para ampliar a retenção de criminosos perigosos. “Não são todos os criminosos que conseguem com que seus recursos cheguem ao Supremo Tribunal Federal. Isso custa dinheiro, precisa contratar grandes escritórios de advocacia. Não é uma coisa simples”, compara.
“Essas solturas normalmente são porque o indivíduo está lá, segundo o Poder Judiciário, com excesso de prazo para formação da culpa dele. Às vezes não é verdade. No caso do André do Rap, ele já tinha condenação em colegiado, pelo TRF (Tribunal Regional Federal), quer dizer, ele não estava ali indefinidamente em um calabouço esperando ser julgado”, aponta.