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Brasil corre para abandonar imagem de ameaça sanitária, ambiental e política

Com atuação pragmática, Itamaraty comandado por Carlos França está empenhado em reparar a credibilidade do Brasil como ator importante no cenário internacional

Por Talita Marchao

Apesar de o atual ministro de Relações Exteriores, Carlos Alberto França, estar empenhado em apagar os incêndios da política externa brasileira e reparar a deterioração da imagem do país no mundo, os danos causados pelo ex-chanceler Ernesto Araújo ainda estão distantes de serem contornados. 

Em seus seis meses no cargo, França deu estabilidade ao Itamaraty, mas o país ainda é visto não só como uma espécie de pária, mas também como uma ameaça sanitária, ambiental e política, justamente por causa da instabilidade provocada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ao ameaçar as instituições, afugentando investidores.

"A mudança de chanceler gerou algum tipo de estabilização. Mas o mundo ainda vê o Brasil na imagem e nas ações como o seu presidente Jair Bolsonaro”, avalia o colunista da BandNews TV Jamil Chade

“O que representa estar isolado: não é apenas uma questão de imagem e credibilidade. Política externa é política pública, e faz parte dos instrumentos do país para o seu próprio desenvolvimento. A repercussão disso é uma queda de investimentos no Brasil, uma hesitação da comunidade internacional em apostar no país. Quem paga o preço dessa imagem ruim no exterior não é apenas o governo, mas também a própria economia e, no fundo, a própria sociedade brasileira”, diz Jamil Chade.

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Para Dawisson Belém Lopes, diretor adjunto da escola de Relações Internacionais da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a perda de confiança no Brasil como ator internacional ainda é um dos principais desafios que França herdou de Araújo. 

“O Brasil tem uma economia trepidante hoje em dia. Os investimentos começam a sair do país, há uma percepção de risco político, e isso provoca a hesitação do investidor internacional. Além disso, fragilidades macroeconômicas como o desemprego alto, a volta de desigualdade, a fome, a miséria e a inflação acabam gerando dúvidas no mercado internacional, contribuindo muito pesadamente para essa deterioração da imagem do Brasil no cenário internacional”, explica Lopes.

Chade lembra que o Brasil ainda é visto como um país que não está comprometido com a questão ambiental, “que hoje está no centro de todas as políticas de todos os partidos de direita e de esquerda”. 

“Não há uma distinção, pelo menos na Europa, entre a direita e esquerda nos refere a preocupação ambiental. É óbvio que ambos têm ênfases diferentes, mas o tema ambiental faz parte hoje da agenda política internacional e não há como basicamente ignorar. Por isso, o Brasil também é visto como uma ameaça ambiental”, destaca o colunista da BandNews TV.

O especialista em Relações Internacionais Guilherme Casarões, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que sob o comando de Carlos França, as relações com a China também entraram num patamar de normalidade. “Tirar o Ernesto Araújo foi decisivo para que a gente pudesse manter uma boa relação com os chineses”, avalia.

Além da melhoria das relações com a China, o Itamaraty conseguiu manter relações cordiais com os EUA, iniciadas com o  alinhamento ao governo Trump e sob risco com a mudança para o governo Biden. “O governo dos EUA tem tratado o Brasil de maneira até muito é cordial, considerando a animosidade inicial que a gente achou que tinha o risco de evoluir para algo pior”, diz Casarões.

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“Além de reatar uma série de relações que Araújo tinha prejudicado, França chegou a mudar alguns votos brasileiros na ONU. Votos que, na gestão anterior, eram assumidamente anti-Cuba por um pretexto de combate ao comunismo, ou votos assumidamente anti-Palestina pela aproximação com Israel. Não foi uma reversão de 180 graus, mas o Brasil começou a se abster, indicando uma posição mais moderada sobre temas que eram muito ideologizados e politizados sobre a gestão Araújo”, afirma Casarões. 

Covid:19: vacinação tira imagem de pária sanitário

Com o início tardio da vacinação no país, os brasileiros têm a entrada bloqueada na maioria dos países do mundo, refletindo a preocupação da comunidade internacional com a condução da pandemia da Covid-19 internamente. 

Alguns países europeus anunciaram recentemente a reabertura para brasileiros que tenham completado o ciclo vacinal –tomando as duas doses da vacina. Mas a lista ainda é pequena quando comparada ao número de governos que impedem a entrada de cidadãos do Brasil.

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Para Guilherme Casarões, da FGV, ainda que tardia, a evolução da vacinação no Brasil está minimizando com a imagem de pária sanitário que que pautou a leitura sobre o Brasil no mundo.

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“Carlos França é muito mais pragmático do que o Ernesto Araújo. A gente percebeu isso já no discurso de posse dele, quando ele citou as três crises que sua gestão precisaria enfrentar da forma mais profissional possível: a ambiental, a econômica e a crise sanitária. Ao dizer isso, o chanceler já estava demarcando claramente uma diferença com relação ao Ernesto Araújo”, comenta Casarões.

Para Dawisson Belém Lopes, da UFMG, o Brasil ainda não conseguiu se recolocar internacionalmente, mas “vai deixando para trás, muito lentamente, o estágio mais duro da pandemia, ainda que se encontre afogado nos problemas epidemiológicos”.

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