“Não vamos pagar a dívida externa com a fome do povo” — disse o presidente eleito Tancredo Neves, na célebre entrevista coletiva pouco antes da posse que não houve. Eu — que estava naquela entrevista — me lembrei disso, agora, quando ouvi Lula dizer que não vai fazer “ajuste fiscal em cima dos pobres”.
Duas frases políticas fortes, de óbvio significado social — mas sem nenhum poder de afastar ou amenizar o desafio da realidade. Tancredo sabia disso e não teve tempo de agir. Lula sempre soube e vale lembrar que ele produziu superávites em seus dois mandatos anteriores.
Agora é maior e mais complexo o desafio de enfrentar a questão fiscal — passo essencial até para que haja condições de adotar políticas sociais eficientes — onde estão as grandes prioridades do país. É o velho — e hoje mais agudo — desajuste entre a disciplina fiscal e a preocupação social.
E ainda tendo que conviver com uma taxa de juros, que premia o rentismo e desaconselha o investimento. Lula, quando ataca os juros altos e ataca pessoalmente atitudes do presidente do BC, como acaba de fazer, tumultua mais o ambiente.
Não é um comportamento adequado, como não é também adequado o comportamento do presidente do BC, quando chega até a se confraternizar com adversário político do governo. Seu cargo sugere discrição. Mas é difícil — independentemente de avaliações politicas e de comportamentos… só observando os juros nas alturas — é difícil não ver razão no que Lula diz.