O risco de um atentado terrorista de motivação islamista na Alemanha aumentou "significativamente", alertou nesta quarta-feira (29/11) o Departamento Federal de Proteção da Constituição, órgão de inteligência responsável por coibir ameaças à segurança interna do país.
Os oficiais dizem ter detectado um maior risco para a comunidade judaica na Alemanha – cerca de 225 mil pessoas, segundo as estimativas mais recentes – e para o "Ocidente como um todo" após os ataques terroristas do Hamas contra Israel em 7 de outubro e a ofensiva militar na Faixa de Gaza deflagrada por Israel depois, em reação ao sequestro e massacre de centenas de civis.
O último grande atentado islamista na Alemanaha foi ao mercado de Natal de Breitscheidplatz em 2016, quando um terrorista invadiu com um caminhão a praça de Berlim onde ocorria o evento, matando 13 pessoas e ferindo gravemente outras 70.
Na terça, dia anterior à divulgação do relatório, a polícia deteve preventivamente dois adolescentes de 15 e 16 anos acusados de planejarem um ataque a uma sinagoga ou a um mercado de Natal na cidade de Colônia – não se sabe ao certo se eles de fato partiriam para a ação.
Os jovens anunciaram um atentado para o dia 1º de dezembro em um grupo de radicais islamistas no aplicativo Telegram. A dupla seria simpatizante do Estado Islâmico, e um dos jovens já havia sido monitorado pelas autoridades no passado por divulgar propaganda jihadista.
No início de outubro, um homem que já cumpriu pena por associação com o Estado Islâmico após passar uma temporada na região controlada pelos terroristas foi preso preventivamente em Duisburg sob suspeita de planejar um atentado em um evento pró-Israel.
O que diz o relatório
"Tenho repetidamente enfatizado que um ataque islamista pode ser executado na Alemanha a qualquer dia", afirma Thomas Haldenwang, diretor do serviço secreto interno alemão, no relatório divulgado nesta quarta.
Embora, segundo Haldenwang, a ameaça de um atentado paire sobre o país há algum tempo, o atual conflito no Oriente Médio e a escalada de violência em Israel e nos territórios palestinos fez aumentar os chamados a atentados vindos do "espectro jihadista".
Esse contexto, ainda segundo o diretor, pode levar à radicalização de indivíduos que agem sozinhos, com poucos recursos e mirando "alvos leves" – como, por exemplo, eventos públicos a céu aberto. "O perigo é real e tão alto como já não era por um longo tempo."
O relatório cita ainda preocupação com o envolvimento, cada vez maior, de outros grupos terroristas no conflito Israel-Hamas, como o Estado Islâmico e a Al Qaeda – que, apesar de terem diferenças ideológicas entre si, têm no antissemitismo um "denominador comum".
"A dimensão do ataque do Hamas e a publicidade internacional associada a ele estão motivando o EI e a Al-Qaeda a demonstrarem um apoio que antes parecia quase inconcebível", consta do documento, que cita ainda ações como a queima do Alcorão em praça pública na Suécia e a "avalanche de imagens nas redes sociais, muitas vezes acompanhada por fake news" como fatores adicionais de radicalização.
"O resultado é que o risco potencial de possíveis ataques terroristas contra pessoas judias e nacionais israelenses e instituições, bem como contra o 'Ocidente' como um todo, aumentou significativamente".
Riscos maiores em toda a Europa
O relatório do Departamento de Proteção da Constituição cita a ocorrência de ataques terroristas em alguns países europeus vizinhos nas últimas semanas – na Irlanda, Bélgica e França –, alguns perpetrados por pessoas que fizeram referências explícitas ao conflito israelo-palestino.
"Considerando este cenário, vários Estados-membros da União Europeia elevaram seus níveis de alerta nacional contra o terrorismo."
O governo alemão já anunciou que aumentou a segurança de judeus e instituições judaicas depois de 7 de outubro. No início do mês, uma pesquisa mostrou que a maioria dos alemães (59%) está preocupada que o conflito leve a atentados terroristas de grandes proporções em solo alemão.
Na Alemanha, a escalada de violência no Oriente Médio veio acompanhada de uma onda de antissemitismo. Uma pesquisa recente da Associação Federal de Departamentos de Pesquisa e Informação sobre o Antissemitismo (RIAS) revelou aumento de 320% no número de incidentes antissemitas entre 7 de outubro e 8 de novembro. Foram quase mil casos de agressão contra judeus – dentre ameaças, xingamentos, pichações, ataques online e físicos e propagação de mensagens antissemitas –, uma média de 29 por dia.
Como a guerra Israel-Hamas é percebida pela extrema direita
Ainda segundo o relatório do Departamento de Proteção da Constituição, não há uma visão única sobre o conflito israelo-palestino na cena dos radicais de extrema direita, com algumas organizações se mantendo neutras no conflito e outras advogando em favor de um lado ou outro. Em fóruns na internet, o assunto tem sido usado como pretexto para polemizar em cima de uma suposta "crescente dominação muçulmana" e advertir contra uma "'islamização' da sociedade" alemã, turbinando uma agenda contrária à imigração e às políticas de asilo.
Em anos recentes, alguns dos piores atentados registrados na Alemanha partiram da extrema direita, como os perpetrados em Halle (2019) e Hanau (2020).
ra/bl (DW, ots)