Jornal da Band

Brasil deixou de ser monarquia em 1889

Jornal da Band mergulha na história da República no Brasil

Por Giba Smaniotto

Quase 70 anos depois da Independência, o Império estava perdendo fôlego. A Corte não entendia que era necessário modernizar o país. Para piorar, Dom Pedro II estava em conflito com a Igreja Católica e também com os militares, que exigiam melhorias salariais depois de vencerem a guerra do Paraguai.

Grandes ingredientes para quem estava insatisfeito e acreditava num projeto de República como uma alternativa para o desenvolvimento do Brasil. Foi aí que militares e grupos políticos sentiram que dava para derrubar de vez a Monarquia.

Era 15 de novembro de 1889. Dom Pedro II estava em Petrópolis, no Rio de Janeiro, quando o Marechal Deodoro da Fonseca, amigo pessoal dele, e militar mais respeitado do Império, proclamou a República. 

Dom Pedro não revidou. A família real teve que se mudar de volta para Portugal. Marechal Deodoro se tornava, assim, o primeiro presidente do Brasil, mas a vontade de ter em vários estados brasileiros um regime republicano veio antes.

Minas Gerais, (1789), Rio de Janeiro (1794), Bahia, (1798) e Pernambuco (1817). Um caldeirão de ideias fervilhava sem parar. Se pensava em independência, mas o projeto era ir bem mais longe.

Os interessados por mudanças se reuniam para calcular como romper com Portugal. Esses movimentos se inspiravam na independência dos Estados Unidos e no Iluminismo da Europa. Eram chamados de conjurações.

Na Bahia, a população ficou indignada com a transferência da capital para o Rio de Janeiro. É que o custo de vida e os impostos continuavam altos, mesmo sem movimento no comércio. A conjuração baiana foi uma revolta de pequenos comerciantes e artesãos, como os alfaiates. Além da República, eles queriam o fim da escravidão.

Em 1794, no Rio de Janeiro, a conjuração foi construída por intelectuais e escritores, que baseados nas ideias do iluminismo, defendiam a liberdade. Eles incomodavam a corte debatendo obras de figuras como Voltaire e Rousseau.

Em 1817, os pernambucanos, que sofriam com a queda na produção do açúcar e algodão, com a seca e a fome, foram os que mais se indignaram. A revolução pernambucana não ficou somente na fase conspiratória.

“São 74 dias de revolta. No final você tem aí um acordo, acontecem derrotas nestes 74 dias, mas você tem um acordo final, então dos três movimentos separatistas, ela realmente é a que tem mais êxito. 1817 é uma semente da independência”, explica o historiador Wesley Espinosa.

Em Minas Gerais, a produção do ouro já estava diminuindo muito, mas a corte, além de receber um quinto do ouro, exigia 100 arrobas a mais por ano. Todo mundo reclamava dos altos impostos, mas Dom João achava que estava sendo roubado.

Os principais pensadores da elite e muitos endividados queriam tornar Minas Gerais independente. A coisa piorou ainda mais porque a corte prometia executar a temida derrama: sem ouro suficiente, ia recolher o que a população tivesse de valor.

“O que me parece que a gente tem que considerar também é a importância das ideias de liberdade e de soberania que estão circulando nas Minas, através dos livros que chegaram aqui clandestinos, livro escondido, traficado clandestinamente, através dos poetas que estudaram em Coimbra e trouxeram na bagagem as ideias iluministas, pré-iluministas. Então você tem uma circulação de ideias e um desejo de liberdade que é próprio da conjuração mineira”, conta a historiadora Heloisa Starling.

Entre os que queriam se livrar de Portugal estava Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Os rebeldes eram militares, poetas, advogados, padres e entre eles, um traidor: Joaquim Silvério dos Reis, que dedurou os amigos em troca do perdão da dívida com a Corte.

O grupo inteiro foi condenado à morte, mas quase todos foram perdoados e receberam outras penas. Sobrou para Tiradentes, que acabou sendo enforcado e esquartejado. Anos depois, ele virou o mártir da Independência e sua história foi usada pela República como símbolo de um novo país.

“A República que Deodoro proclama, ela está vazia dos valores e dos princípios do republicanismo, que foram cultivados pelas três conjurações. Elas trazem o que eu chamei da tradição esquecida da república, né? Quer dizer, elas trazem os valores da República ligados à cidadania, a democracia, primeira vez na conjuração do Rio de Janeiro, pela primeira vez na história do Brasil a República e a democracia caminham juntas. Como é que a República vai enfrentar a questão da liberdade num lugar, no país, nas minas, que estão fundadas na escravidão? Essa a discussão do que que é o bem comum? O que que é que nós podemos fazer em comum para o nosso bem? É dessa tradição que o 15 de novembro está vazio” afirma Heloisa.

“A história do Brasil ela tem uma riqueza e muitos pontos que foram deixados de lado propositadamente. No século XVII e XIX você tem um movimento longo de revoltas, de inquietação, de situações difíceis, nós lutamos muito, o brasileiro lutou muito”, diz Wesley Espinosa.

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