Jornal da Band

Independência do Brasil: Leopoldina teve um papel fundamental

Por Giba Smaniotto

Monumento à Independência em São Paulo e a Igreja da Lapa, no Porto. Mais de 8 mil quilômetros separam estes dois lugares. Apesar da distância, eles estão mais próximos do que nunca.

Os restos mortais de Dom Pedro primeiro foram trazidos para o Riacho Ipiranga, onde ele proclamou a Independência do Brasil. A urna foi depositada na Cripta Imperial, mas tem um detalhe: o coração de Dom Pedro, não veio para o Museu do Ipiranga. Ficou no país onde ele nasceu.

Para os brasileiros, Dom Pedro I. Para os portugueses, Dom Pedro IV. Um homem de dois mundos. Nasceu em Queluz, distrito de Sintra, e morreu aos 36 anos de idade de tuberculose. 

Horas antes de morrer, Dom Pedro, fez um pedido: que o coração dele fosse entregue à cidade do Porto, em reconhecimento ao esforço dos moradores.

Foi na cidade do Porto que Dom Pedro enfrentou uma disputa de poder com o irmão, Dom Miguel, logo após a morte do pai, Dom João VI. Durante as chamadas Guerras Liberais, Dom Pedro e os moradores derrotaram a tropa que sitiou a cidade. Por isso ele ficou conhecido como o Rei Soldado, o Liberal, o Libertador e Porto, como a cidade invicta. 

“O que é interessante pensar é que liberal no Brasil e em Portugal na época não tem o significado que nós conhecemos hoje. Liberal era o sujeito que defende a liberdade, é o sujeito que é contra a tirania, e o governo de um só, e isso que é um governo absolutista, um monarca que governa de acordo com sua vontade e por desígnio de Deus, e o liberal é aquele que defende a liberdade que é contra essa forma de tirania, e que no Brasil é também contra opressão colonial”, explica historiadora Heloisa Starling. 

O coração de Dom Pedro, que representa a liberdade para os portugueses, está dentro de um recipiente com formol e para chegar até ele são necessárias 5 chaves.

Em São Paulo, na Cripta Imperial, estão as ossadas do Imperador, e o que está escrito é "defensor perpétuo do Brasil", e também das mulheres dele: Amélia e Maria Leopoldina.

Pedro de Bragança e Carolina Josefa Leopoldina, arquiduquesa da Áustria, se casaram por procuração, sem nunca terem se visto antes. Ela em Viena. Ele no Rio de Janeiro. Foi um bom negócio, arranjado para fortalecer as cortes de Portugal e da Áustria. 

Leopoldina encarou uma viagem de três meses de navio até desembarcar aqui no Rio de Janeiro. Estudiosa, culta, trouxe na comitiva pintores, músicos, médicos, botânicos. Ela ficou encantada com as belezas naturais da cidade. 

“Leopoldina é da Casa de Habsburgo, né, uma casa europeia, nobre, de muita tradição, muito padrão cultural, ela vai elevar o padrão cultural da corte aqui no Rio de Janeiro”, conta o historiador Clóvis Bulcão.

Nas cartas que Leopoldina escrevia para o pai, o Imperador Francisco, da Áustria, um dos homens mais poderosos do mundo, ela esmiuçava os detalhes da nova família. Em uma delas, disse que João VI vivia uma relação de desconfiança com o filho Pedro e que a sogra, Carlota Joaquina, era insuportável. 

Dom Pedro, enquanto fazia a viagem que terminaria no Ipiranga, concedeu a mulher, Dona Leopoldina, o cargo de Regente Interina do Brasil. 

Entre as tantas cartas que Leopoldina costumava escrever, a endereçada ao marido, Pedro, foi fundamental para a independência. Mudou o destino do Brasil. 

Leopoldina escreveu para Dom Pedro depois de receber de Portugal a notícia de que Lisboa queria transferir de vez a sede do governo brasileiro.

“Desde 1808, a situação de colônia e metrópole tinha se invertido, a colônia tinha virado Portugal então os processos, um monte de coisa era tudo resolvido aqui no Brasil, e eles queriam esse retorno da corte para lá, ou seja, a capital desse Império ultramarino voltasse a Portugal, inclusive os tribunais, então você imagina toda essa burocracia que foi criada no Brasil com a vinda da corte, do dia para noite perdendo emprego”, diz o pesquisador e escritor Paulo Rezzuti. 

“Vamos dizer que a ruptura foi um processo, um processo que vinha vindo, vinha vindo de muito tempo. Porque foi com a vinda da corte em 1808 que a antiga colônia passa a ter um papel de metrópole. O Brasil é elevado, enfim, a capital, a sede de Reino Unido de Brasil e Algarves. A gente sabe que quem se acostuma com a liberdade não abre mão dela”, diz a historiadora Lilia Schwarcz.

Uma pintura no Museu Histórico Nacional, mostra Dona Leopoldina, reunida com o Conselho do Estado para tratar da Independência. Nela está José Bonifácio de Andrada e Silva, o ministro mais próximo do casal e o mais respeitado por eles também. Ele foi decisivo no processo de independência.

“José Bonifácio era um naturalista, formado na Europa, uma tradição do naturalismo, era um pensador, era também um intelectual de ideias muito avançadas, né? Ele era a favor da reforma agrária, ele era contra a escravidão, dizia que a escravidão corromperia o estado brasileiro de uma forma geral, e também era favor que o Brasil cuidasse do meio ambiente, problema que temos até os dias de hoje”, conta historiadora Lilia Schwarcz.

José Bonifácio nasceu em Santos no litoral paulista e ainda bem cedo ele foi pra Coimbra, Portugal, estudar direito, mas lá estudou também matemática, química, filosofia. Na França, mineralogia. O patriarca da independência como foi conhecido mais tarde era um gênio, diziam os amigos.

Para José Bonifácio, a decisão da corte portuguesa era uma declaração de guerra. Ele então aconselhou Leopoldina a fazer o que tinha de ser feito.

Dona Leopoldina assinou a independência no Rio de Janeiro antes do marido Pedro gritar pela independência lá em São Paulo.

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