Jornal da Band

Princesa Isabel assinou a Lei Áurea sob pressão do povo e dos abolicionistas

Desacreditada para assumir o Império do Brasil, regente do trono recebeu título de 'A Redentora' após abolição

Por Giba Smaniotto

Conhecida como uma das principais figuras da abolição da escravatura, Princesa Isabel, responsável por assinar a Lei Áurea, vivia em um contexto social que culminou no fim da escravidão. A regente do Império do Brasil à época foi pressionada pelo povo, influenciada pelos abolicionistas e ainda era desacreditada para assumir o trono. 

Mas quem era Princesa Isabel? Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bourbon e Bragança, nascida da cidade do Rio de Janeiro, era filha do Imperador Dom Pedro II e passou a infância no Paço de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista. 

A princesa teve educação de alto nível, como explica o jornalista e escritor Paulo Rezutti. “Era uma criança que estudava de segunda a sábado, das 08h às 20h. A educação dela foi a melhor possível, dirigida pela Condessa de Barral, que trazia mestres em cada área para dar aula às princesas. Então o Imperador Dom Pedro II prepara as filhas efetivamente para governar”, conta. 

Aos 18 anos, o pai de Isabel, escolheu um marido para a filha. Foi o príncipe francês, Luís Felipe, o Conde D'Eu. Apesar de todo o preparo e o casamento, quem cercava a princesa duvidada do jogo de cintura para governar. Um deles era André Rebouças, um dos abolicionistas mais próximos da família real. 

“Ele não confiava na Princesa Isabel. Ele achava que ela não tinha nenhuma visão política, sobretudo de uma perspectiva mais universal. Principalmente porque ela era carola, muito católica, então ele não tinha essa perspectiva de governo”, explica Paulo Rezutti. 

Princesa Isabel regeu o Império sob pressão

O país estava em convulsão pelo fim da escravatura. Militares se negavam a prender escravizados que fugiam para os quilombos, defensores da escravidão, por sua vez, cobravam medidas da princesa. Nos últimos meses antes da assinatura da Lei Áurea, ela dava sinais que já tinha escolhido um lado. 

“A Princesa Isabel recebia buquês do Quilombo das Camélias e, o fato dela receber estes buquês e dela saber de onde vinham, apontam uma certa cumplicidade com este quilombo”, indica a historiadora Ynaê Lopes dos Santos. O tal quilombo era no Leblon, palco fundamental para o movimento abolicionista no Brasil e onde eram cultivadas as flores. 

Em meio à pressão, a princesa, que aos 41 anos estava na terceira regência, tirou do comando do Congresso os conservadores, conhecidos como ‘emperrados’, contrários à abolição. Ela colocou na chefia do gabinete conservadores moderados. A lei que acabava com a escravidão então começou a andar mais rapidamente. Ela foi aprovada com 46 votos a favor e apenas seis contrários. 

A luta [pela abolição] é, sobretudo, negra e popular, e Isabel representa o elemento jurídico da assinatura do fim desse regime - historiador Higor Figueira Ferreira. 

A influência dos abolicionistas ao lado da princesa, então, aumentou. Ao assinar a Lei Áurea, ela recebeu de José do Patrocínio o título de ‘A Redentora’. Mas para o historiador Higor Figueira Ferreira, apesar da importância, a Lei Áurea não pode ser o principal fator da abolição. 

“É um marco de um fim de um sistema que durou mais de 300 anos no nosso país, mas, ao mesmo tempo, não se pode reduzir o processo de abolição a essa data. Ela, na verdade, reproduz na lei a culminância de todo um projeto social a favor da abolição”, afirma. 

Assista ao primeiro episódio da série especial sobre a abolição da escravatura:

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