O "mar de Minas" está secando. Em algumas regiões banhadas pelo lago de Furnas, o nível da água desceu tanto que apareceram estruturas inundadas há mais de 60 anos.
A região foi alagada na década de 60 com o represamento das águas do Rio Grande para geração de energia na usina. Formou-se um reservatório com 3.500 km de orla ao longo de 34 municípios - quase metade da costa brasileira. A mudança no cenário é visível.
Na margem quase seca, a pescaria corre solta. O papo entre Marcelo do Prado, que tem casa as margens do lago, e José Gabriel Ribeiro, que viu a represa se formar, não poderia ser outro: o que está diante dos olhos.
“Cada 24 horas, desce um palmo, está baixando. Tristeza né, porque o que anima a cidade, traz turista e a água estar cheia”, explica seu José.
Do alto, é possível ter a dimensão do estrago. A represa tem atualmente menos de 20% do volume útil. Em alguns pontos, o recuo da agua foi de mais de 10 quilômetros. A vegetação toma de áreas onde não parecia haver água por ali.
O que resta nesses locais onde a água desapareceu são ribeirões de água cristalina de antes da barragem de Furnas. Cursos d’água que alimentam a represa e a esperança que esse local possa ser tomado pelas águas novamente.
Esperança que vem nas fotos que mostram cenário bem diferente do atual, com um lago cheio. A geração de energia voltou ao centro do debate, mas o motivo agora é o alerta do governo para a situação hídrica: a pior seca dos últimos 90 anos.
Nos pontos onde ainda há agua, a navegação é o desafio. Antônio Mendonça, oficial da Marinha aposentado, vive há 10 anos na região e acompanhou a reportagem por um passeio pelo lago.
“Nessa região, quando ela foi inundada, os perigos que passaram a existir são as árvores que não foram cortadas, as estruturas dos municípios, as pontes. E isso faz com que não se tendo a localização exata desses perigos na navegação às embarcações faz com que reduza esse tráfego aquaviário”, explica o consultor náutico.
Florestas que surgem todos os dias. Uma quantidade impressionante de arvores, que não são mais pontos perdidos no meio da imensidão de água.
Um grupo de árvores na região de Fama (MG) está quase 10 metros fora da água. Quando o lago está cheio aparece apenas a ponta de cada uma delas. É possível ainda notar a marcação de como a agua baixou nesses últimos meses.
O futuro ainda é incerto, mas para um povo que já viu tantas mudanças por aqui, é preciso viver um dia de cada vez.