Os três remédios do coquetel para o tratamento da hanseníase estão em falta no SUS desde o 2º semestre do ano passado. As informações são da repórter Giovanna De Boer, da Rádio Bandeirantes, no Bora Brasil.
A filha da dona Maria José, Uiara Soares Oliveira, conta que desde então os sintomas da mãe voltaram e estão cada vez piores. “Infelizmente há três meses ela está sem medicamento. Todo o tratamento que ela fez foi perdido. Ela voltou a sentir dores, ter coceiras e inflamação nos nervos”, explicou Uiara. A hanseníase é doença bacteriana que pode levar à morte.
Além de inflamações da pele, outros sintomas são sensação de choque e fisgadas nas extremidades, caroços e inchaços no corpo, por exemplo.
Segundo o movimento nacional que representa os pacientes, mais de 18 estados sofrem com o desabastecimento das medicações.
Os três remédios do tratamento, chamado poliquimeoterapia, há 40 anos são doados pela Organização Mundial de Saúde para os países participantes do programa de combate à doença.
No entanto, no ano passado, problemas na produção na farmacêutica que fabrica os medicamentos, na Suíça, acabaram atrasando o envio do lote que seria destinado ao Brasil.
Situação crítica
A situação se tornou crítica a partir de agosto do ano passado, quando os estoques chegaram a zerar em São Paulo, Pernambuco e no Pará chegaram a zerar, afirma o presidente da Associação Brasileira de Hansenologia, Cláudio Salgado.
“Dezenove estados brasileiros têm problemas com a medicação. Não tem medicação para distribuir para os municípios. Três destes estados estão com o estoque zerado. É uma situação muito grave, pela qual muito de nós nunca passou. Essa crise relacionada ao tratamento é uma das mais graves que a hanseníase já passou nos tempos modernos”, disse.
Medicação importada
O Brasil não produz remédios para hanseníase, dependendo exclusivamente da importação. Desde 2019, a OMS vem alertando governos que dependem do envio pela organização, incluído o Brasil, a respeito do risco de falta dos medicamentos.
Depois de chegar ao Brasil, o coquetel é distribuído pela rede pública, e não é vendido nas farmácias.
No passado, mais de 30 mil novos casos de hanseníase foram registrados no Brasil, o que coloca o país na liderança do ranking mundial pelo número de habitantes.
Falta de saneamento básico e condições precárias de habitação então entre os fatores que facilitam a contaminação.
Mais de 40 mil brasileiros estão em tratamento da doença, segundo o Ministério da Saúde – número que só não é maior porque 90% é imune à doença por fatores genéticos.
Sobre a falta dos remédios para o tratamento, o Ministério da Saúde informou à Rádio Bandeirantes que o envio pela OMS estava previsto para outubro de 2020 e que, por enquanto, não há data prevista para a chegada.