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Mães enfrentam a 'Síndrome da Mulher-Maravilha': ‘Muitos pratos para equilibrar'

Mulheres que se dividem entre trabalho, criação dos filhos e cuidados do lar podem desenvolver burnout e ter piora na saúde mental e física

Por Luiza Lemos

Karina Godoy entendeu que não era preciso ser perfeita em todos os ambientes da vida após um conselho do pediatra da filha, Maitê. A jornalista, que celebra o Dia das Mães neste domingo (14), conta que, com três meses de vida da pequena, hoje com cinco anos, desabafou com o médico da filha e disse estar exausta. “Ele foi muito sensato, eu disse que não conseguia nem almoçar direito, estava muito pesado. Então o pediatra disse: 'Calma, você não é a mulher-maravilha’", conta. 

O nome se tornou livro e gerou uma mudança radical no estilo de vida de Karina, que hoje dá palestras sobre o assunto e encoraja outras mães a se livrarem da ‘síndrome de mulher-maravilha’. O termo que relembra a heroína dos quadrinhos representa aquelas mães que se dividem entre trabalho, casa, filhos e estão exaustas desta vida que, nas palavras de Karina, “é difícil equilibrar, são muitos pratinhos”. 

Para a psicóloga Cláudia Melo, as mulheres que passam por essa ‘síndrome de mulher-maravilha’, sentem que precisam estar o tempo todo realizando mil tarefas. “Elas desejam ser reconhecidas, vistas, amadas. É importante pensarmos nisso porque as mulheres se colocam nesse lugar de forma inconsciente, porque há um desejo inconsciente de querer dominar, controlar”, explica. 

“A jornada dupla, tripla, acontece. E a mulher também fica nesse contexto de abraçar essa demanda que aparece para ela, e quando não aparece, elas buscam. É preciso olhar para isso como delicado, perigoso”, indica a psicóloga Cláudia Melo. 

E foi exatamente este desejo de controle que afetou a saúde de Karina Godoy. “No momento que desabafei com o pediatra, eu era controladora, queria dar conta de tudo, era perfeccionista, queria ser boa em casa, com as amigas. Me dei conta aí que não deveria carregar a culpa de falhar”, afirma a escritora. 

Segundo a psicóloga, as 'mulheres-maravilha' acumulam tarefas e no futuro, geram “muita ansiedade, exaustão, medo de não dar conta e a saúde mental acaba sofrendo prejuízos, porque algumas desenvolvem burnout e essa doença faz com que as mulheres abandonem as carreiras”. Por isso, Cláudia Melo cita que é preciso autoconhecimento para ter mais equilíbrio. "Ela não precisa ser super-mulher, perfeita, só precisa ser ela”, pontua. 

Karina cita que o autoconhecimento e autocrítica pode ajudar mulheres que passam por essa pressão de ser sempre a ‘mulher-maravilha’. “Se eu estou feliz, serei uma mãe mais feliz. É preciso lembrar o que deixamos para trás que precisamos agora. Um exercício, um momento com o companheiro, uma saída com os amigos, é super importante. Um momento à sós também é essencial para não se perder”, avalia. 

Autossabotagem é frequente em ‘mulheres-maravilha’

A autossabotagem, termo que designa quando a pessoa age contra si mesmo, é algo frequente em mães que se dividem em tantas tarefas. A pressão de dar conta de tudo é tanta, que muitas pensam que falhar não é aceitável. 

“Falhar faz parte do processo. Tem dias que seremos excelentes mães e em outros não, mas posso ser uma excelente amiga, esposa e o negócio vai equilibrando. Até entender isso, levou um bom tempo. A gente precisa ser mais gentil com a gente”, avalia Karina.

 Karina conta que durante as diversas palestras que ministra pelo Brasil, muitas mães a procuram para dizer que precisavam ouvir que elas podem falhar. “Chegam em mim e dizem que era o que precisavam ouvir. A gente sabe que tem que se cuidar, não vamos dar conta de tudo, mas quando outra pessoa fala, é até um alívio”, avalia. 

Companheiros são essenciais para as mães

Para minimizar o acúmulo de tarefas quando um bebê chega à família, os companheiros e companheiras são essenciais neste momento para as mamães. Cláudia Melocita que o suporte do parceiro pode evitar ou gerar uma sobrecarga. 

“Algumas mulheres dizem que não têm suporte do parceiro, ou parceira e vemos que ela acaba trazendo para a relação toda essa sobrecarga, a dificuldade de pedir ajuda, de colocar para o parceiro o que precisa para conseguir realizar uma tarefa”, afirma. Ela alerta que é preciso conversar com o parceiro. "Se você não verbaliza, vai pedir para o outro socorro, ou parar de admirar a pessoa, porque ela já não vive mais em conjunto”, indica.

Karina pontua que o pai pode auxiliar a mulher a retomar a própria personalidade, caso a mulher se perca em tantas tarefas. “Pai é pai. Meu marido sempre participou das tarefas, mas nesse processo, meu marido me deu muitos toques quando eu tinha crises. Ele já chegou a falar: ‘Se você morrer, a vida continua. A gente vai sofrer, mas só você vai sair prejudicada, respira!’", relembra. 

“Então ele sempre me colocou para cima sempre, me apoiou para trabalhar então acho que os pais precisam também dar esse apoio elogiar, né? Porque a gente fica com essa autoestima um pouco meio desequilibrada mesmo. Porque é uma jornada e criar filhos, não é uma jornada fácil, mas a gente tem alguém do nosso lado que apoia que tá junto fica mais fácil”, avalia Karina.

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