Mais de 80.000 pessoas fugiram da cidade de Rafah, no sul de Gaza, desde o início da semana, segundo informou a ONU nesta quinta-feira (09/05), enquanto tanques israelenses se aproximam da área, que vem sendo alvo de bombardeios constantes. A operação na região começou na segunda-feira, quando Tel Aviv ordenou que cerca de 100 mil pessoas saíssem da parte leste de Rafah, no que foi interpretado como um prenúncio da invasão terrestre.
A ONU também alertou que alimentos e combustível estão se esgotando na região, que concentra mais de 1 milhão de palestinos, a grande maioria refugiados de outras áreas do norte de Gaza destruídas no conflito. Segundo Martin Griffiths, coordenador de ajuda emergencial da ONU, militares israelenses não vêm permitindo que nada entre ou saia da área após a tomada de passagens de fronteira com o Egito. De acordo com a ONU, nenhum caminhão com ajuda humanitária entrou em Gaza entre segunda e quarta.
"O fechamento das passagens significa que não há combustível. Significa que não há caminhões, geradores, água, eletricidade e movimento de pessoas ou mercadorias. Isso significa que não há ajuda", escreveu Griffiths na rede X.
"Os civis em Gaza estão passando fome e sendo mortos e nós somos impedidos de ajudá-los. Essa é a Gaza de hoje, mesmo depois de sete meses de horrores", completou.
EUA voltam a advertir Israel contra operação em Rafah
O governo dos Estados Unidos advertiu nesta quinta-feira Israel que uma entrada militar em Rafah pode fortalecer o grupo islâmico palestino Hamas. A Casa Branca também reforçou sua decisão de não fornecer armas ofensivas ao governo de Israel se a ofensiva contra a cidade prosseguir.
"Qualquer tipo de grande operação em Rafah beneficiaria o Hamas na mesa de negociações, e não Israel", disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby.
Em sua opinião, as vítimas civis que resultariam deste tipo de incursão apenas reforçariam os argumentos do grupo na sua "narrativa distorcida".
Kirby acrescentou que tal ofensiva em Gaza não promoveria o objetivo de Israel de alcançar uma derrota duradoura contra o Hamas.
A declaração surge um dia após o presidente americano, Joe Biden, ter ameaçado pela primeira vez parar de fornecer a Israel certos armamentos ofensivos, que ele reconheceu terem sido usados para matar civis em Gaza, se o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prosseguir com a invasão de Rafah.
"Israel ainda não lançou tal operação. (Biden) estava falando sobre o que aconteceria no futuro se o fizesse. Essa é uma escolha que Israel tem que fazer", acrescentou Kirby nesta quinta-feira, destacando que o argumento de que os EUA estão de alguma forma distantes de Israel não se ajusta aos fatos.
O porta-voz destacou que o diálogo entre os dois governos continua: "Estamos em contato. Eles conhecem a nossa posição sobre o assunto. E terão de tomar as suas próprias decisões".
Na quarta-feira, no entanto, um alto funcionário do governo americano confirmou, sob a condição de anonimato, que os EUA já suspenderam o envio de 3.500 bombas pesadas para Israel.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reagiu às declarações, afirmando que seu país enfrentará o Hamas sozinho, se necessário.
"Digo aos líderes do mundo que nenhuma pressão, nenhuma decisão de qualquer fórum internacional impedirá Israel de se defender (...) Se Israel for forçada a permanecer sozinho, Israel permanecerá sozinho", disse Netanyahu.
"Inúmeras pessoas decentes em todo o mundo apoiam a nossa causa justa (...) Derrotaremos os nossos inimigos genocidas", completou o primeiro-ministro.
O principal porta-voz das Forças Armadas de Israel, Daniel Hagari, também disse nesta quinta-feira que o Exército do país tem munição suficiente para invadir Rafah e realizar "outras operações já planejadas".
jps (EFE, Lusa, Reuters, AFP)