Uma carta assinada por centenas de professores universitários de Berlim em apoio aos acampamentos de manifestantes pró-palestinos gerou críticas no mundo político alemão e de organização judaicas.
Inicialmente divulgada na quarta-feira (08/05) com cerca de 100 assinaturas de professores, o documento já acumulava mais de 1.000 signatários nesta sexta-feira, entre eles mais de 300 docentes de instituições superiores de Berlim.
"Essa declaração dos professores das universidades de Berlim me deixa atônita”, disse a ministra da Educação alemã, a liberal Bettina Stark-Watzinger ao jornal Bild.
Segundo ela, em vez de os professores tomarem uma posição clara contra o ódio a Israel e aos judeus, "eles vitimizaram os ocupantes das universidades e a violência foi banalizada”. A ministra enfatizou que o fato dos protestos terem o apoio dos professores atingiu "um novo patamar”. "Eles, em particular, devem se basear na Lei Fundamental (Constituição da Alemanha)”. Em sua opinião, é "correto que a administração da universidade aja rapidamente e envolva a polícia em casos de antissemitismo e violência”.
Na quarta-feira (08/05), estudantes montaram um acampamento de protesto em um pátio da Universidade Livre de Berlim (FU). A universidade rapidamente chamou a polícia para liberar o local. As aulas foram praticamente suspensas durante todo o dia.
A polícia informou que durante a ação, 79 pessoas foram detidas temporariamente e que investigações criminais e processos de contravenção foram instaurados contra elas. Um grupo chamado "Coalizão Estudantil de Berlim" convocou as universidades berlinenses, entre outras ações, a fazer campanha por um cessar-fogo na Faixa de Gaza e a boicotar Israel "acadêmica e culturalmente”.
O grupo já havia feito um ato contra as ações militares de Israel na Universidade Humboldt na semana passada, também provocando uma operação policial por suspeita de "incitação ao ódio”.
Pelo direito a protestos pacíficos
As ações policiais levaram inicialmente cerca de 100 professores de várias universidades de Berlim a declararem apoio na quarta-feira aos protestos. "Independentemente de concordarmos ou não com as reivindicações específicas do acampamento de protesto, apoiamos nossos alunos e defendemos o direito ao protesto pacífico, que também inclui a ocupação dos terrenos da universidade”, diz o documento, chamado "Declaração dos professores das universidades de Berlim". Nos últimos dias, o documento recebeu apoio de mais 700 professores de outras instituições da Alemanha.
Os docentes também pediram à administração da FU que "se abstenha de colaborar com a polícia contra seus próprios alunos e evitar os processos criminais”. Na declaração, a "urgência das preocupações dos manifestantes” é justificada como "compreensível” devido às ações israelenses na Faixa de Gaza e à situação humanitária nos territórios palestinos. No entanto, o ataque de 7 de outubro lançado pelo grupo terrorista Hamas, que desencadeou a guerra na Faixa de Gaza, e os reféns israelenses sequestrados não são mencionados.
Críticas da prefeitura de Berlim
A carta também foi severamente criticada pelo prefeito de Berlim, Kai Wegner. "Não tenho absolutamente nenhuma simpatia pelos autores desse panfleto”, disse o político da conservadora União Democrata Cristã (CDU) ao jornal Bild. As universidades de Berlim são e continuarão sendo "locais abertos para o conhecimento, discurso crítico e intercâmbio cultural”. "No entanto, o antissemitismo e o ódio a Israel não são expressões de opinião, mas sim ofensas criminais”, enfatizou Wegner. Ele disse ainda que tem "plena confiança” de que a polícia de Berlim continuará a "tomar medidas contra esses delitos de acordo com o estado de direito".
A vice-presidente nacional da CDU, Karin Prien, também expressou críticas. Ela disse que estava "chocada com a forma como os acadêmicos se referem ao sofrimento humanitário em Gaza sem mencionar os reféns do Hamas em uma única sílaba”.
Andrea Lindholz, vice-líder do grupo parlamentar da CDU, descreveu a carta como um "ponto baixo para a ciência alemã”. Lindholz diz não ter "nenhuma compreensão para professores e acadêmicos que defendem uma multidão de antissemitas e odiadores de Israel”. A ligação da ciência e do ensino com o ativismo é "altamente perigosa para as universidades como instituições”, criticou a política.
O presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, Josef Schuster, expressou sua decepção com os signatários da carta. "Os ativistas estão menos preocupados com o sofrimento das pessoas em Gaza e mais movidos pelo ódio a Israel e aos judeus”, disse ele ao jornal Bild. "Eu esperava dos professores universitários, em particular, que pelo menos declarassem isso claramente, já que estão a favor dessa forma de protesto.”
Apelo à liberdade de expressão
O embaixador da Autoridade Palestina na Alemanha, Laith Arafeh, rejeitou as críticas aos protestos pró-palestinos. Ele declarou à agência de notícias alemã DPA que o espaço da liberdade de expressão e da liberdade acadêmica em relação a Israel e à guerra de Gaza vem se tornando cada vez mais limitado. "Condenamos todas as formas de fanatismo, inclusive o antissemitismo”, disse o embaixador. "Também condenamos o uso sistemático de falsas acusações de antissemitismo contra todas as vozes que pedem o fim da guerra.” O diplomata não quis se posicionar sobre os protestos estudantis, pois, segundo ele, isso seria uma interferência em assuntos internos. "Mas eu apoio o direito de todos à liberdade de expressão, à liberdade de opinião de todos, em qualquer lugar, a qualquer momento.”
lr/ (afp, dpa)