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“Prazer de comer está num extremo do Brasil, no outro está a fome”, diz chef Rodrigo Oliveira

Da redação

Rodrigo Oliveira, chef do Mocotó
Rodrigo Oliveira, chef do Mocotó
Reprodução/Instagram

Na abertura do HSM Expo NOW!, evento online e gratuito que vai reúne até quarta-feira, dia 11, lideranças de todo o mundo para discutir transformações no planeta, o chef Rodrigo Oliveira, do famoso restaurante Mocotó, de São Paulo, falou sobre a responsabilidade individual que cada brasileiro tem sobre o combate à fome no País e deu exemplos de como pequenas mudanças – no consumo e na alimentação – são capazes de transformar toda a cadeia econômico-social.  
 

“Parto da crença de que só está bom para a gente, se está bom para todo mundo. A exaltação do prazer de comer está num extremo, no outro está a fome – e no Brasil, ela está presente em todos os campos”, discursou o chef. Rodrigo citou o pesquisador José Raimundo Ribeiro para explicar o conceito da ‘fome invisível’ existente no País. “Você acha que pessoas famélicas se assemelham com aquelas imagens chocantes da África, que estão no nosso imaginário. Mas, no Brasil, a fome se expressa de muitas formas e, muitas vezes, está associada à obesidade (...). A fome está em nosso horizonte e, num sistema desigual, surge em todas as esquinas. Como escreveu Josué de Castro, ‘a fome é uma expressão biológica de um sistema social’”. 


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Para Rodrigo, consumo responsável e consciente dos alimentos são palavras-chaves para a transformação da sociedade e o combate à fome em um país. “Cada vez que você escolhe o que vai no seu prato existem implicações econômica, social, religiosa (para alguns) e até política. Facundo Guerra diz que ‘nosso cartão de crédito tem mais poder que título de eleitor’ e concordo. Normalmente, o que custa caro para o bolso, custa para o nosso organismo e meio ambiente”.
 

Outra importante atitude de transformação social, de acordo com o chef, é o comer bem. Para explicar o que é, de fato, comer bem, Rodrigo citou o autor Michael Pollan, em ‘O Dilema do Onívoro’.  “Para você comer melhor você precisa, primeiro, comer comida. Todo mundo já ouviu isso das avós, né? Nós comemos cada vez mais produtos ultra processados, então, cada vez que tem um produto, ou ingrediente, que sua avó não reconhece como comida, você está indo pelo caminho errado. Ou seja, mais comida e menos produto”, explicou. Rodrigo ainda completou o raciocínio com outras duas questões: 1) comer, principalmente vegetais e 2) não comer muito. “Não estou defendendo o vegetarianismo, mas uma coisa é certa: precisamos comer menos carne e melhor carne, com manejo responsável e sustentável dos animais, conduzindo bem as pastagens; e não muito. Comer principalmente vegetais, e não muito. Sei que o equilíbrio é fácil de entender, mas difícil de colocar em prática”, reforçou.


“Se cada um acolher e apoiar quem está a sua volta, chegamos ao mundo todo”

Desde o início da pandemia do coronavírus, em março deste ano, Rodrigo Oliveira toca o projeto social ‘Quebrada Alimentada’, com distribuição de marmitas e cestas variadas (que vão desde produtos orgânicos comprados de pequenos produtores, aos produtos de higiene). 


O chef e sua esposa Adriana, parceira na ação, já serviram mais de 40 mil refeições para moradores em situação de vulnerabilidade do bairro em que está o Mocotó, e cerca de 650 cestas. “Quando fechamos o restaurante, decidimos cozinhar pra nossa comunidade. Aí, vimos que ‘só’ isso não atenderia e junto com associações locais e parceiros comerciais, construímos uma rede poderosa para distribuição das cestas. Hoje, só dentro do restaurante, temos 250 famílias atendidas por mês e há uma lista de espera”.


Segundo Rodrigo, o projeto não tem data para acabar. “Corrigir o sistema não tem data para acabar. Essa ação tem alcance limitado, sabemos disso, mas se olharmos para o nosso entorno e cada um conseguir acolher e apoiar quem está à sua volta, chegamos ao mundo todo. Sem esquecer da responsabilidade do poder público, claro, e cobrar eles. Ter no Brasil pessoas passando fome é inaceitável. Admitir que quando estamos comendo e algum muito perto está passando fome é desconfortável. Esse problema é de cada um”.
 

Rodrigo finalizou sua participação no ‘HSM Expo NOW!’ ressignificando a conceito do restaurante. “Restaurante existe para restaurar. Fisicamente, emocionalmente e intelectualmente, nos fazendo questionar a origem da comida. Se o restaurante pode restaurar relações, relacionamentos, acredito que pode restaurar uma comunidade”.

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