O presidente Vladimir Putin precisou de 19 horas para falar cinco minutos aos russos sobre o atentado com 133 mortos em Moscou. Nada disse sobre o EI-K, o Estado Islâmico de Khorasan que reivindicou o ataque. Insinuou que foram “os nazis”, que “outrora massacraram nos territórios ocupados” — a linguagem por ele usada contra a Ucrânia desde que a invadiu há dois anos.
A apresentadora da TV estatal, Olga Skabeyeva, saiu-se com esta frase ao falar dos quatro suspeitos presos pelo atentado: “Parecem com o EI. Mas não são o EI.” A Ucrânia negou repetidas vezes qualquer envolvimento. O governo americano apressou-se a rebater as informações russas de que o ataque seria ucraniano, feitas logo nos primeiros minutos confusos dos disparos no Crocus City Hall, onde seis mil pessoas tinham esgotado os ingressos para o show da banda de rock Piknik.
Para Putin, melhor seria se os terroristas não fossem jihadistas islâmicos. Pois ele tinha recebido um alerta do serviço secreto dos EUA, em 7 de março, sobre a iminência de um atentado do EI-K em algum evento com grande aglomeração de pessoas, talvez um “concerto”, e o ignorou inteiramente. Mas não só: ele também o denunciou como uma provocação: “Parece uma verdadeira chantagem para desestabilizar a sociedade russa”.
Eleito para o quinto mandato como o único russo capaz de defender a Rússia, eis que bastaram poucos dias para sofrer uma “clara humilhação”, como comentou o cientista político russo Aleksandr Kynev, citado pelo jornal New York Times.
“O nosso dever comum agora”, declarou Putin em seus cinco minutos à nação, “é estarmos juntos numa só formação — os nossos camaradas na frente, todos os cidadãos do país”.
O EI-K foi o grupo que atacou a embaixada russa e paquistanesa em Kabul, em 2022. Foi também o autor da explosão de duas bombas no cemitério iraniano em que era homenageado o general Qassim Suleimani, assassinado por um drone dos EUA em 3 /1/2020. A Rússia se tornou um alvo preferencial desde que interveio na Síria, onde o Estado Islâmico construía o seu Califado, e foi derrotado.
Khorasan, o K do EI, é a Terra do Sol, como batizada por uma dinastia iraniana, Sasanian, que o governou entre os anos 224 e 651. Hoje está espalhado pelo Irã, Turcomenistão e Afeganistão, e abriga vários grupos étnicos, entre eles curdos e mongóis. Também conhecido como Grande Coração, cultiva cereais, tabaco, açafrão, e exporta terrorismo.