Reforma das Forças Armadas deve deixar Alemanha "pronta para guerra", diz ministro

País terá nova força de guerra cibernética ao lado de Exército, Aeronáutica e Marinha. Foco das tropas será reorientado para a defesa nacional e de países aliados da Otan.

Por Deutsche Welle

A Alemanha quer reformar suas Forças Armadas e deixá-las "prontas para a guerra" para que "ninguém pense em nos atacar como território da Otan", anunciou o ministro da Defesa Boris Pistorius nesta quinta-feira (04/04) em Berlim.

Os planos incluem, entre outros pontos, a criação de uma quarta força para além de Exército, Aeronáutica e Marinha. As tropas serão habilitadas para a guerra cibernética, travada por vias eletrônicas e informáticas, e cuidarão da ciberdefesa e da infraestrutura eletrônica do país, repelindo ameaças como campanhas desinformativas e ataques hackers.

A Alemanha e demais países europeus que integram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) têm acompanhado com apreensão as movimentações das tropas do presidente russo Vladimir Putin na Ucrânia.

A reforma das Forças Armadas é mais um ponto de virada na política de defesa de Berlim, que voltou a elevar seus gastos no setor e, recentemente, passou a apoiar a expansão de sua indústria bélica.

Quatro ramos militares sob um comando central

Com a mudança, as Forças Armadas deixarão para trás missões internacionais como as do Afeganistão, Mali, Kosovo e na região do Chifre da África, priorizando a defesa de seu próprio território nacional e de parceiros da Otan.

A reforma deve ainda desburocratizar as forças e centralizar seu planejamento e comando operacional em um só lugar – hoje, as missões nacionais e internacionais são coordenadas separadamente.

A ideia é aprovada até mesmo pela oposição: "A fusão do comando de operações [que atua no Exterior] com o comando territorial [de atuação doméstica] é absolutamente positiva", afirma o deputado do Bundestag e especialista em defesa Roderich Kiesewetter, do partido conservador CDU.

Nova estrutura para lidar com armas nucleares, químicas e biológicas

Também está prevista a criação de um comando de apoio médico e logístico, bem como para lidar com ataques de armas nucleares, químicas ou biológicas, que ficará à disposição de todos os ramos militares.

Altos postos também devem ser cortados, a fim de tornar a coordenação de tarefas mais central e eficaz.

Segundo Pistorius, a reforma deve tomar seis meses. Alguns especialistas militares como Thomas Wiegold, porém, veem esse cronograma com ceticismo: "Para mudanças estruturais no topo [das forças], seis meses poderiam bastar. Mas a aplicação [da reforma] nas tropas vai demorar muito mais tempo."

Obrigatoriedade do serviço militar

Diante da falta crônica de pessoal nas Forças Armadas, muitos observadores esperavam que o ministro apresentasse ideias para o eventual restabelecimento da obrigatoriedade do serviço militar. Pistorius, porém, limitou-se a dizer que o tema ainda está em avaliação.

Para Wiegold, o ministro deixou o assunto de fora da reforma porque sabe que não pode decidir sobre a questão sozinho. "Ele precisa de apoio na coalizão e no Parlamento", explica.

Kiesewetter, da CDU, diz ver falta de consenso dentro da coalizão sobre o tema.

No final de fevereiro, a Alemanha tinham 181,8 mil soldados à disposição. O número, que já chegou próximo dos 500 mil nos anos 1970 e 1980, vem caindo desde o início dos anos 1990, tendência agravada pelo fim do serviço militar compulsório em 2011. Segundo o ministro, até 2031 esse contingente deve chegar a pelo menos 203 mil.

A Defesa continua a estudar modelos de serviço militar obrigatório – como o da Suécia, por exemplo, que reintroduziu a prática em 2017 para homens e mulheres, registrando todos os cidadãos em idade de serviço e convocando uma fração deles para uma formação militar que dura entre nove e 15 meses.

Autor: Volker Witting

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