"Onde está o Amarildo?" Há dez anos, essa pergunta permanece sem resposta. A morte do pedreiro, que desapareceu depois de ser colocado em uma viatura da Polícia Militar na Rocinha, comunidade da Zona Sul do Rio, completa uma década nesta sexta-feira (14).
Amarildo seguia para fazer compras quando foi abordado por policiais militares. Ele foi conduzido até a base da unidade de polícia pacificadora e depois desapareceu.
Treze militares foram condenados. Um deles morreu antes da sentença. No entanto, o major Edson Raimundo dos Santos e o tenente Luiz Felipe de Medeiros continuam na corporação. Edson foi sentenciado a 13 anos de prisão em 2016, mas cumpre liberdade condicional desde 2019. O tenente foi absolvido por falta de provas.
Ao todo, 25 militares foram investigados pelos crimes de tortura, ocultação de cadáver, fraude processual e formação de quadrilha.
No ano seguinte ao desaparecimento, um laudo de exame de voz indicou que um soldado tentou se passar pelo criminoso Thiago da Silva Neris, conhecido como Catatau, na tentativa de responsabilizar o traficante pela morte de Amarildo.
Ainda em 2013, 70 policiais militares lotados na UPP da Rocinha foram substituídos por outros PMs. Quatro agentes chegaram a tentar subornar testemunhas do caso do desaparecimento do pedreiro.
Na ocasião, as câmeras de segurança instaladas na comunidade após a pacificação apresentaram falhas e foi constatado que o sistema de GPS das viaturas estava inoperante no dia do desaparecimento.
Em 2016, a Justiça concluiu que Amarildo foi torturado até a morte. O corpo nunca foi encontrado.
Dois anos depois, a Justiça do Rio determinou o pagamento de indenização de R$ 500 mil para a viúva e cada um dos seis filhos do pedreiro, além de R$ 100 mil para dois irmãos de Amarildo. Atualmente, Elizabeth Gomes da Silva, companheira do pedreiro, recebe uma pensão equivalente a um salário mínimo do estado.
Na quarta-feira (12), o Estado do Rio foi intimado a iniciar o pagamento da indenização aos familiares da vítima. A informação foi confirmada pelo advogado João Tancredo, que representa os parentes de Amarildo.
Elizabeth da Silva criticou a falta de apoio do Estado nos últimos anos e revelou que não consegue encontrar emprego em decorrência de mentiras espalhadas contra a família.
O filho mais velho do casal, Anderson Gomes, de 31 anos, relembrou a última vez que se encontrou com o pai em 2013.
O advogado João Tancredo explicou os trâmites judiciais ainda em curso.
Segundo dados do Instituto de Segurança Pública, 53.595 mil pessoas desapareceram no estado do Rio nos últimos dez anos. Por ano, em média, são cinco mil desaparecidos.
Na manhã de quinta-feira (13), a ONG Rio de Paz realizou uma manifestação com familiares de Amarildo em Copacabana, na Zona Sul do Rio, em alusão aos dez anos do desaparecimento. Dez manequins foram colocados na areia da praia em um tecido transparente simbolizando as vítimas. Já durante a noite, foi lançado o documentário ''Cadê Você?'', em Botafogo, na mesma região.
O fundador da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, comentou sobre as semelhanças entre famílias que ainda esperam reencontrar algum parente desaparecido e aquelas que não tem mais esperança.
Entre julho e outubro de 2022, o ex-soldado Jorge Luiz Gonçalves Coelho recebeu R$ 24 mil da Uerj. Ele foi contratado por um projeto de pesquisa. A universidade chegou a abrir uma sindicância para apurar o caso, que foi revelado pelo jornalista Ruben Berta, do UOL. O ex-militar foi condenado a dez anos de prisão pelo desaparecimento de Amarildo.
Questionado sobre a execução da indenização e sobre o caso Amarildo, o Estado se limitou apenas a dizer que o assunto ainda está pendente de julgamento de recurso especial pelo Superior Tribunal de Justiça.