Após um navio à deriva ter colidido com a Ponte Rio-Niterói e ter causado o fechamento da via por cerca de quatro horas, uma ONG dedicada à preservação da Baía de Guanabara volta a alertar sobre os riscos causados pelo alto número de embarcações abandonadas ou fundeadas na região.
Durante reunião em janeiro deste ano com o Instituto Estadual do Meio Ambiente, o Movimento Baía Viva estimou 68 navios e barcos nessa situação apenas no trecho do canal São Lourenço, próximo à Ilha da Conceição, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio.
No entanto, ainda não há um consenso sobre o número exato de navios abandonados no chamado Cemitério de Embarcações. Em 2002, o Plano Direção Costeira da Baía de Guanabara contabilizou 250 nos trechos de Gradim, em São Gonçalo, do Canal do São Lourenço até o Ponto de Niterói, da Ponta do Caju, do Canal do Cunha e também no entorno da Ilha do Governador.
Em 2016, uma estimativa do Inea apontou entre 150 e 200 embarcação apenas na altura de São Lourenço, em Niterói.
Em 2021, o mais recente estudo, um mapeamento da Escola de Engenharia Industrial Metalúrgica de Volta Redonda da Universidade Federal Fluminense contabilizou cerca de 58 embarcações abandonadas do Porto de Niterói até a Ilha de Paquetá. O projeto se propôs a identificar o quantitativo de embarcações abandonadas, as condições em que se encontram, para viabilizar a reciclagem em estaleiros localizados em Niterói.
O coordenador do Projeto, Prof. Dr. Newton Narciso Pereira, alerta para os riscos das embarcações e cascos abandonados e afundados, e fala sobre os benefícios da remoção delas, por questões sanitárias e de poluição ambiental.
Para o fundador do Baía Viva, Sérgio Ricardo Verde, entre os principais problemas causados pelo abandono estão aumento das taxas de assoreamento e riscos de danos para fauna e flora, além das possibilidades de acidentes. Ele ainda destaca que a situação impede o funcionamento do Terminal Pesqueiro de Niterói, inaugurado em 2013.
Em nota, o INEA disse que o controle das embarcações ancoradas na Baía de Guanabara e abandonadas é atribuição da Marinha do Brasil, e que atua apenas em casos de acidentes envolvendo derramamento de óleo ou de produtos nocivos, que resultem em dano ambiental.
Procuradas, a Capitania dos Portos, a Fundação Estadual de Engenharia e Meio Ambiente, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, responsáveis pelo Plano de Direção Costeira da Baía de Guanabara, ainda não se posicionaram sobre o assunto.
Nota do Governo do Rio de Janeiro
O Governo do Rio segue, com os técnicos do Instituto Estadual do Ambiente, monitorando e avaliando todas as informações relativas ao acidente envolvendo o graneleiro que colidiu com a Ponte Rio-Niterói. O órgão, assim como todo o efetivo do Estado, permanece à disposição para contribuir no que for necessário para a solução dos impasses envolvendo as embarcações abandonadas, que devem ser monitoradas e controladas pela Marinha do Brasil.
Além disso, o Estado vem trabalhando pela recuperação dos recursos naturais e despoluição de bacias, lagoas e da Baia de Guanabara. O maior exemplo é a realização, em 2021, da concessão dos serviços de saneamento, o maior projeto socioambiental da América Latina. A iniciativa prevê que as novas concessionárias façam um investimento de cerca de R$ 6 bilhões em projetos de despoluição e revitalização ambiental. Entre eles, serão R$ 2,6 bilhões para a despoluição da Baía de Guanabara, além de R$ 250 milhões para a revitalização do Complexo Lagunar da Barra da Tijuca e R$ 2,5 bilhões para na Bacia do Rio Guandu.
A Secretaria do Ambiente, por meio do Programa de Saneamento Ambiental dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara (PSAM), trabalha para ampliar a cobertura e o tratamento de esgoto nas cidades localizadas ao redor da Baía de Guanabara.