Polícia Civil investiga empresa acusada de estelionato

Eleva Gestão Empresarial e Marketing é acusada de oferecer rentabilidade acima do mercado e praticar calote no pagamento de clientes

Por Carlos BriggsJoão Boueri

O sócio-administrador, Carlos Fareh, também ministra cultos em igreja na Zona Oeste do Rio Reprodução/Redes Sociais
O sócio-administrador, Carlos Fareh, também ministra cultos em igreja na Zona Oeste do Rio
Reprodução/Redes Sociais

A Polícia Civil investiga uma empresa que oferece rentabilidade acima do mercado e deixou de pagar os clientes, que denunciaram o crime de estelionato. Os pagamentos foram suspensos em maio deste ano. Em troca do porcentual mensal, a Eleva Gestão Empresarial e Marketing pedia um aporte inicial que variava de acordo com a situação financeira do potencial cliente. 

A primeira justificativa da empresa foi o bloqueio da conta pelo banco, fazendo com que os pagamentos não pudessem ser realizados. Em junho, a empresa disse que não realizaria mais os serviços previstos em contratos e enviou distratos aos clientes. No entanto, não havia sequer citação a quantia a ser devolvida. No mês seguinte, um grupo de mensagens foi criado pela Eleva Gestão Empresarial e Marketing em aplicativos de conversa. A empresa disse também que um novo grupo assumiria os contratos para honrar os pagamentos. Depois de prazos e promessas vencidas, os clientes perderam as esperanças.

Os contratos de consultoria, gestão financeira e intermediação na locação de moedas digitais com aplicação de dinheiro brasileiro no mercado financeiro de moedas criptografadas, conhecidas como bitcoin e altcoins, eram firmados por 12, 24 ou 36 meses. O porcentual mensal de rentabilidade variava entre 10% e 17% do valor disponibilizado pelo cliente inicialmente. Ao final do contrato, a promessa era de que o valor inicial investido seria reembolsado. No entanto, os pagamentos não estão sendo realizados. 

O sócio-administrador da empresa se chama Carlos Antônio Ribeiro Pereira, conhecido também por pastor Carlos Fareh. Ele ministra na Igreja Internacional Novo Deus, em Campo Grande, na Zona Oeste, na qual ele também é o dono.

A BandNews FM conversou com alguns clientes que tiveram prejuízos que variam entre R$ 10 mil; R$ 50 mil; R$ 200 mil e R$ 380 mil.

''O pastor ia pelas igrejas se apresentava como dono da empresa e levava as pessoas a investirem na empresa e eu caí no golpe. Ele usou a figura de pastor para ganhar a confiança de todos. Muitos membros da igreja caíram nesse investimento. Ele pagou até quatro parcelas e parou de pagar. Ele prometeu que iria pagar, mas isso não foi feito'', disse um dos clientes da empresa. 

Outro membro da igreja que firmou contrato com a empresa também afirma que teve prejuízo financeiro. 

“Muitos na igreja utilizaram as últimas reservas que tinham para entrar na empresa do pastor. Depois que todo mundo entrou, ele começou a andar com carros novos, seguranças armados e destratou a gente. Ele é um mentiroso. Nos decepcionou e ainda deixou a gente endividado'', relata o ouvinte da BandNews FM que teve a identidade preservada. 

Um homem que pediu para não ser identificado disse que está passando dificuldades depois do prejuízo financeiro. 

''Ele (o pastor) não é um homem de Deus. Eu sou mais uma vítima do Carlos Antônio. Ele faz uso da palavra de Deus para enganar as pessoas. Eu tive um prejuízo financeiro porque confiei no pastor. Estou passando muita dificuldade por conta disso. É uma pena essa situação',' lamentou outro cliente.

O capital social da Eleva Gestão Empresarial e Marketing é de R$ 1 milhão e 500 mil. No entanto, Carlos foi candidato a deputado federal nas eleições deste ano e não declarou nenhum tipo de bem ao Tribunal Superior Eleitoral. ((Os candidatos devem registrar todo patrimônio ao TSE, como imóveis, dinheiro em conta corrente, investimentos etc. Ele recebeu 372 votos e não foi eleito.

96% do dinheiro doado à campanha de Carlos Fareh foi da Direção Nacional do Patriota, o que equivale a R$ 50 mil de dinheiro público. Do total arrecadado, R$ 31 mil foi gasto com a empresa Beast Corporate, que possui como atividades principal consultoria em gestão empresarial e é sediada exatamente no mesmo endereço da Eleva Gestão Empresarial. Uma das sócias da Beast é a mãe de Carlos. A campanha ainda não publicou as notas fiscais referentes à contratação da empresa. O prazo termina no dia 1 de novembro. 

O fato do sócio da empresa ser identificado como pastor atraiu muitos clientes, inclusive evangélicos, que acreditaram na rentabilidade prometida e investiram valores que juntaram ao longo de toda a vida.

Em nota, a defesa da Eleva Gestão Empresarial e Marketing e de Carlos Pereira disseram que a empresa está sem operar desde maio devido a problemas de força maior, após queda acentuada do mercado, que derrubaram os valores dos ativos. A empresa alega que os clientes assinaram contrato cientes dos riscos. Apesar disso, a Eleva afirma estar acertando as contas aos poucos com todos os clientes, honrando os compromissos estabelecidos. 

Sobre a declaração de contas ao TSE, a empresa diz que o capital social é da pessoa jurídica e não tem relação direta com a pessoa física do pastor. Em relação à contratação da empresa da mãe de Carlos durante a campanha, a defesa de Carlos disse que as atividades comerciais e os negócios da mãe do Sr. Carlos Antônio Ribeiro Pereira em nada têm a ver com a vida pessoal ou empresarial do mesmo. Logo, a única ligação é a coincidência familiar. 

A nota ainda segue ao dizer que foi feito orçamento com outras empresas, mas a agência da mãe de Carlos ofereceu o melhor serviço pelo melhor preço. Além disso, a defesa afirma ainda que a empresa contratada na campanha eleitoral e a Eleva Gestão Empresarial possuem o mesmo jurídico e que é comum empresas colocarem o endereço do advogado no contrato social.

O TSE disse que tem que ser provocado para fazer análise de possíveis irregularidades relacionadas. O órgão afirma que recebimentos de denúncias ou investigações de irregularidades de candidaturas eleitorais ficam a critério do Ministério Público Eleitoral (MPE).

A BandNews FM procurou o Ministério Público do Estado do Rio, o Ministério Público Federal e Eleitoral, mas ainda não obteve retorno. 

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