A Baixada de Jacarepaguá, as Vargens Grande e Pequena e o sistema lagunar da Zona Oeste devem ser as aéreas mais afetadas em caso de avanço do mar no Rio de Janeiro, por causa das mudanças climáticas. A avaliação é da Prefeitura, que afirma que favelas como Rio das Pedras, na mesma região, também devem ser afetadas.
Na terça-feira, ONU divulgou um relatório com uma lista das 10 cidades costeiras do mundo que podem ser submersas até o fim do século em caso de agravamento do aquecimento global. Além da capital fluminense, a cidade de Santos, em São Paulo, também aparece no documento. O alerta é antigo e já havia sido feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que em 2011 previa esse cenário para o Rio.
Sem a presença, ao menos, de defesas costeiras, até 2100, 5% ou mais dos territórios dessas 10 cidades podem ficar permanentemente abaixo do nível do mar. Entre elas também estão Guayaquil, no Equador, Barranquilla, na Colômbia, Kingston, na Jamaica, Cotonou, em Benin, Kolkata, na India, e Perth, Newcastle e Sydney, na Australia.
A lista da Organização das Nações Unidas foi apresentada pouco antes do início da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP28, que vai ser realizada em Dubai, nos Emirados Árabes.
De acordo com o mapeamento, a extensão das inundações costeiras aumentou nos últimos 20 anos, como resultado da subida do nível do oceano.
Atualmente, 14 milhões de pessoas ao redor do mundo vivem em comunidades costeiras. A projeção é que esse número suba para 73 milhões de pessoas, caso as emissões de gases do efeito estufa continuem no ritmo atual.
Os dados também fazem projeção para 2050: quando centenas de cidades costeiras altamente povoadas já estarão com 5% do território exposto a um maior risco de inundações, do que o observado atualmente.
Segundo o relatório, cerca de 160 mil km quadrados de terras costeiras, o equivalente ao tamanho da Grécia ou Bangladesh, seriam inundados até o fim do século. Isso em um futuro sem alterações climáticas. Outras extensões de cidades costeiras incluídas estão Equador, Índia, Arábia Saudita, Vietname e Emirados Árabes Unidos, o anfitrião da COP28.
Para o geógrafo marinho e professor da UFF, Eduardo Bulhões, a cidade deixa a desejar na hora de identificar o problema e monitorar a situação. Bulhões afirma que medidas como rever a infraestrutura e proteger as áreas mais baixas, com barreiras artificiais, deveriam ser prontamente pensadas.
"No Brasil, temos dificuldade de conseguir identificar o problema, de conseguir convencer os tomadores de decisão que esse é um problema grave. Não temos cultura do planejamento, de identificar áreas vulneráveis e tomar medidas mitigadoras, que tendem a atenuar a situação".
Com o mesmo pensamento, o professor associado da UFF, Fábio Ferreira Dias, alega que, quando possível, as pessoas precisam ser realocadas para áreas mais seguras. Outra sugestão do professor é a construção de dunas com vegetação.
“Para cada concentração de CO2, nós vamos ter uma subida do nível do mar como reposta. Dessa forma, o que podemos fazer são intervenções nas praias, obras de areia, para proteção da faixa costeira, dunas recém construídas com vegetação, e até quando possível a realocação de pessoas e da área construída , para áreas mais seguras”.
Os dados foram coletados pela Human Climate Horizons, uma plataforma de dados que tem a parceria do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) com o Laboratório de Impacto Climático.
Questionada sobre o futuro, a Prefeitura do Rio disse que tem parcerias com universidades locais, para a elaboração de estudos, além de uma parceria com a NASA para melhor compreender, antecipar e monitorar os perigos ambientais.