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Brawn surpreendeu F1 na pré-temporada de 2009; no fim, acabou campeã

Emanuel Colombari

Imagem: F1
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A cada ano, os testes de pré-temporada são momentos de expectativa na Fórmula 1. Ao mesmo tempo em que a programação aponta quem deve ter vantagem nas primeiras corridas, pode ser usado para algum blefe de equipes dispostas a assustar a concorrência.

Este cenário ambíguo foi visto em 2009, protagonizado pela Brawn GP. A equipe praticamente sumiu do mapa no fim de 2008, mas sobreviveu, surpreendeu e terminou a temporada consagrada – antes de, de fato, deixar a F1.

A história começa no fim de 2008. Depois de assumir a antiga BAR com um projeto que não decolou, a Honda anunciou que deixaria a Fórmula 1, culpando a crise global que atingia o mercado automotivo. Jenson Button, Rubens Barrichello e todo o staff do time japonês tinha destino incerto na categoria.

Mas a F1 queria a permanência da equipe, e a cúpula da antiga Honda recebeu um prazo para buscar alternativas – especialmente porque Bernie Ecclestone temia um efeito dominó que pudesse afetar gravemente o grid. Assim, Ross Brawn comprou o espólio do time por uma libra e deu a ele o próprio nome. Nascia a Brawn GP.

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Com a inscrição garantida, a Brawn GP correu para arrumar a casa. O Honda RA109 projetado para 2009 virou o modelo Brawn BGP 001. Sem os motores Honda, o time conseguiu motores Mercedes para equipar os carros. Jenson Button e Rubens Barrichello permaneceram como titulares, embora Bruno Senna tenha estado perto de assumir a vaga de Rubinho.

“Eu estava desempregado em 2008. A Honda estava encerrando a participação na F1 e falou: 'Acabou, obrigado. O Button vai ficar porque tem contrato'. Mas eu pensava comigo que não ia acabar. Mas aí o cara me ligou e falou: ‘Você consegue estar aqui na sexta-feira?'. E aí eu disse: ’Consigo'”, afirmou Rubinho em 2022 ao podcast Queimando a Largada.

Quando essas peças se juntaram e foram para as pistas, o que se viu deixou a Fórmula 1 com uma pulga atrás da orelha. A Brawn não apenas era melhor do que se esperava, como também era melhor que as principais concorrentes.

Na pré-temporada em Barcelona, entre 9 e 12 de março, Button andou na casa de 1:19, enquanto Rubinho marcou na casa de 1:18. Para efeito de comparação, a melhor volta do GP da Espanha de 2008 na mesma pista foi conquistada por Kimi Raikkonen, da Ferrari, com 1:21.670.

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“O Button deu as primeiras voltas. Eu olhei nos olhos dele, aí ele falou: ‘Vem aqui'. Aí eu fui e ele falou assim: ‘We are gonna be happy this year (seremos felizes nesse ano)’. Ali já deu aquela inspiração toda e já pensei: ‘Que maravilha’. Aí a tarde foi minha vez de guiar. E era um carro muito equilibrado com o motor, não pela potência, mas pela dirigibilidade. Era um foguete”, afirmou Rubinho.

Poderia ser um blefe? Não seria o primeiro. A categoria se acostumou a ver carros brilhando em outros testes de pré-temporada, correndo com tanques vazios e outras artimanhas. Com bons tempos, as equipes seriam capazes de atrair patrocinadores – o que a Brawn também buscava naquele momento.

Qualquer que fosse o cenário, a Brawn conseguiu o patrocínio da Virgin para o GP da Austrália que abriu a temporada 2009. Rivais como Ferrari, BMW-Sauber e Toyota apareciam entre as favoritas para o começo daquela temporada. O que esperar?

A resposta veio logo no GP da Austrália. Graças à eficiência do difusor duplo do projeto de 2009, a Brawn começou o ano sobrando. Button venceu em Melbourne, com Rubinho em segundo. O inglês venceu seis das sete primeiras corridas de 2009 e abriu 61 pontos, com 26 pontos de vantagem para o vice-líder – no caso, o próprio Rubinho.

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As outras equipes protestaram contra o difusor revolucionário, sem sucesso. Então, passaram a tentar copiar a peça. Tanto que, com mais ou menos sucesso, conseguiram conter a Brawn GP na segunda metade do ano.

A partir do GP da Inglaterra, a equipe conquistou apenas mais duas vitórias, nos GPs da Europa e da Itália – ambas com Rubens Barrichello, responsável até 2023 pelas mais recentes vitórias do Brasil na F1. Mas foi o suficiente: Button foi campeão entre os pilotos, e a Brawn foi campeã do Mundial de construtores.

Vendida à Mercedes, a equipe deu lugar à equipe da fabricante alemã a partir de 2010. Button foi para a McLaren, sendo vice-campeão em 2011, enquanto Rubinho foi para a Williams e se aposentou da F1 no fim de 2011.

Emanuel Colombari

Emanuel Colombari é jornalista com experiência em redações desde 2006, com passagens por Gazeta Esportiva, Agora São Paulo, Terra e UOL. Já cobriu kart, Fórmula 3, GT3, Dakar, Sertões, Indy, Stock Car e Fórmula 1. Aqui, compartilha um olhar diferente sobre o que rola na F-1.