Notícias

Trinta anos após deixar a F1, Brabham segue viva nas pistas internacionais

Emanuel Colombari

Ron Tauranac e Jack Brabham (Imagem: F1)
Ron Tauranac e Jack Brabham (Imagem: F1)

O 11º lugar de Damon Hill no Grande Prêmio da Hungria de 1992 poderia ser uma nota de rodapé nos resultados do piloto britânico, campeão da temporada 1996 da Fórmula 1. Se não fosse por um detalhe: aquela foi a última corrida da Brabham na categoria.

Fundada em 1962 por Jack Brabham e Ron Tauranac, a equipe teve uma trajetória de 30 anos na F1, com importantes resultados. Foi com o time que levava seu sobrenome que Jack Brabham conquistou o terceiro de seus títulos mundiais em 1966 – ele ainda levou as temporadas de 1959 e 1960 pela Cooper. Um feito único.

Foi ainda pela Brabham que Denny Hulme foi campeão em 1967, e que Nelson Piquet faturou os títulos de 1981 e 1983. E foi ainda a casa de vários nomes consagrados nas pistas: Dan Gurney, Jochen Rindt, Jacky Ickx, Carlos Reutemann, Wilson Fittipaldi, Graham Hill, José Carlos Pace, Niki Lauda, Riccardo Patrese...

Denny Hulme em 1967 (Imagem: F1)

Mas a equipe também viu um forte e irremediável declínio a partir de 1987: Bernie Ecclestone, dono do time desde 1971, não conseguiu um acordo com uma fornecedora de motores para substituir a BMW e deixou o time fora da temporada 1988. No fim daquele ano, vendeu a escuderia para o investidor suíço Joachim Lüthi.

Com motores Judd e a dupla Martin Brundle e Stefano Modena, a Brabham voltou em 1989 oscilando: somou oito pontos na temporada, com destaque para um terceiro lugar de Modena em Mônaco. Mas a prisão de Lüthi no meio daquele ano jogou a escuderia em uma disputa de interessados. Melhor para a Middlebridge Racing, equipe japonesa que assumiu a Brabham a partir de 1990.

Mas o que se viu não empolgou. O time começou o ano com Stefano Modena e Gregor Foitek como titulares, mas o suíço perdeu o posto após duas corridas e foi substituído por David Brabham, o mais novo dos três filhos de Jack Brabham. Apesar do parentesco com o fundador, o piloto australiano já não tinha nenhuma relação familiar com a escuderia naquele momento.

Foram dois pontos em 1990, do quinto lugar de Modena no GP dos EUA que abriu a temporada. Em 1991, os britânicos Martin Brundle e Mark Blundell assumiram, fechando o ano com três pontos. Depois, em 1992, vieram o belga Eric van de Poele e a italiana Giovanna Amati. Ele durou dez corridas. Ela saiu depois de três e cedeu o lugar para Damon Hill. O resto desta história, você já sabe.

‘Foi triste’

Para quem viveu o declínio, a lembrança é triste. E para David Brabham, mesmo que já não fosse a equipe fundada pelo pai, não é diferente.

“Eu corri pela Brabham na Fórmula 1 em 1990 e o time já estava em declínio, então foi triste ver ele desaparecer em 1992”, contou o piloto australiano, em entrevista por e-mail ao blog.

Naquele ano de 1990, David Brabham disputou 14 corridas pela Brabham e completou apenas uma, com o 15º lugar na França. Abandonou outras sete e não se classificou em seis.

Imagem: @david_brabham/Instagram

David Brabham só retornaria à Fórmula 1 em 1994, pela Simtek. Nas 16 corridas do ano, teve como melhor desempenho o décimo lugar na Espanha, abandonando em dez ocasiões. Novamente não pontuou.

Um dos abandonos veio no GP de San Marino, no qual rodou na 27ª volta. Aquele fim de semana, porém, ficaria marcado por dois acidentes fatais: Roland Ratzenberger, companheiro de David Brabham na Simtek, e Ayrton Senna, na Williams.

Foram só três finais de semana de parceria entre Brabham e Ratzenberger, mas o australiano lamenta até hoje o que classificou como “um momento difícil para a Fórmula 1”. “Nós perdemos uma lenda e um piloto que estava apenas começando sua jornada na Fórmula 1. A Fórmula 1 mudou muito depois daquele final de semana.”

Imagem: @david_brabham/Instagram

Mas as temporadas de figuração na F1 não fizeram de David Brabham um piloto menos competitivo. Nos anos seguintes, ele venceu as 24 Horas de Le Mans (2009 na classificação geral, além de vitórias em 2007 e 2008 na classificação da categoria GT1), além de brilhar na ALMS (American Le Mans Series), com títulos em 2009 (categoria P1) e 2010 (categoria LMP).

“Embora a Fórmula 1 não tenha sido um sucesso como eu gostaria que tivesse sido, ajudou a construir as bases para uma longa e bem-sucedida carreira em carros esportivos, então não posso reclamar”, disse o piloto.

Volta à Fórmula 1?

Com 394 corridas disputadas em 30 anos de Fórmula 1, a Brabham é uma das 10 equipes que mais provas correram na categoria. Para muitos fãs da categoria, seria um nome muito bem-vindo em um retorno.

Isso quase aconteceu em 2010, quando a F1 anunciou um teto de gastos e abriu as portas para novos times. Na ocasião, um alemão chamado Franz Hilmer tentou inscrever um time chamado Brabham Grand Prix após comprar o espólio da Super Aguri em 2009. Hilmer não tinha qualquer vínculo com a equipe fundada por Jack Brabham.

Leia também:

Assim, a Brabham Enterprises Limited, empresa que ainda detinha o nome da marca da família, se mostrou surpresa e reagiu, dando início a uma batalha legal de anos. No fim, a família Brabham levou a melhor nos tribunais, que asseguraram à família que o nome não poderia ser utilizado por terceiros sem autorização. Franz Hilmer ficaria conhecido por fundar a equipe Hilmer Motorsport, que disputou a GP2 entre 2013 e 2015.

Em 2014, David Brabham anunciou os planos de tirar do papel uma nova Brabham Racing. A ideia era disputar o Mundial de Endurance de 2015, com participação nas 24 Horas de Le Mans, com o apoio de uma arrecadação junto a apoiadores. Falou-se até na possibilidade de uma inscrição do “Project Brabham” na Fórmula 1.

Na prática, o que se viu foi o lançamento em 2018 da Brabham Automotive, uma fabricante de carros esportivos, cujo primeiro lançamento foi o Brabham BT62. Curiosamente, o nome “sucede” o BT61, modelo que a Brabham planejava utilizar na temporada 1993 da Fórmula 1.

Imagem: Brabham Automotive/Divulgação

Em novembro de 2019, David Brabham e Will Powell pilotaram o Brabham BT62 em uma etapa do Britcar, o campeonato britânico de carros de endurance. E venceram a primeira das duas corridas do fim de semana em Brands Hatch, abandonando a segunda.

Em 2021, o modelo Brabham BT63 GT2 foi pilotado por David Brabham e Dennis Andersen no fim da temporada da GT2 European Series, com um 12º lugar em Paul Ricard (França). Pode parecer pouco, mas é o suficiente para manter vivo o nome da Brabham nas pistas.

“Sinto que é muito importante manter o legado da Brabham. Eu passei sete anos nos tribunais alemães para trazer o nome de volta ao controle da família”, destacou David Brabham no e-mail, indicando que não há planos para um retorno à Fórmula 1.

“O foco principal será fornecer o BT62 para corridas na Nova Zelândia e para a GT Cup na Europa, e o BT63 GT2 na Europa”, declarou.

Emanuel Colombari

Emanuel Colombari é jornalista com experiência em redações desde 2006, com passagens por Gazeta Esportiva, Agora São Paulo, Terra e UOL. Já cobriu kart, Fórmula 3, GT3, Dakar, Sertões, Indy, Stock Car e Fórmula 1. Aqui, compartilha um olhar diferente sobre o que rola na F-1.