Fórmula 1

Há 35 anos, Senna venceu GP do Japão, mas desclassificação deu título a Prost

Prova foi marcada por batida entre companheiros de McLaren e decisão controversa de dirigentes

Da redação

Prova foi marcada por batida entre companheiros de McLaren e decisão controversa
Prova foi marcada por batida entre companheiros de McLaren e decisão controversa
@F1/Twitter

Ayrton Senna foi campeão da Fórmula 1 em 1988 e poderia conquistar o bicampeonato em 1989. Para isso, precisaria superar o próprio companheiro de equipe na McLaren, Alain Prost, que buscava o tricampeonato após se consagrar em 1985 e 1986.

Você provavelmente conhece essa história e sabe como ela terminou: os dois protagonizaram um acidente histórico no Grande Prêmio do Japão, que acabou garantindo o título para Prost. Mas você sabe em detalhes tudo que aconteceu naquela corrida de 22 de outubro de 1989?

Comecemos pela prova anterior. No Grande Prêmio da Espanha, Senna foi o primeiro e Prost foi o terceiro. Assim, após a prova em Jerez de la Frontera, a diferença entre eles na classificação era de 16 pontos (76 a 60). Nos bastidores, ambos vinham se estranhando, especialmente diante das queixas do bicampeão a respeito do excesso de arrojo do brasileiro nas disputas por posição.

Para conquistar o título, Senna precisaria vencer as duas corridas que fechariam o ano: Japão e Austrália. Prost poderia somar no máximo dois pontos. Neste caso, ambos teriam 78 pontos, com vantagem brasileira no número de vitórias.

A batida: Senna tenta, Prost fecha

No GP do Japão, o brasileiro ainda largou na pole position, mas perdeu a liderança para Prost logo na largada. Começou ali uma perseguição que durou várias voltas: Senna se aproximava, mas não conseguia o bote certeiro para retomar o primeiro lugar. A concorrência já havia ficado para trás.

Até que veio a volta 46. Senna saiu da curva 130R em um ritmo forte, do lado direita da pista, com a preferência para entrar na chicane que fecha a volta. Prost vinha pela esquerda, à frente, mas antecipou a tomada para a direita na tentativa de fechar a porta.

As duas McLaren se enroscaram e pararam.

“Aquele era o único lugar onde eu poderia fazer uma ultrapassagem. Alguém que não deveria estar lá simplesmente fechou a porta e causou o choque”, acusou Senna após a prova, segundo publicou à época o jornal Folha de S. Paulo.

“Senna está acostumado a que eu abra a porta facilmente. Ele pensou que desta vez seria o mesmo, só que eu já havia decidido diferente”, rebateu Prost.

Senna de volta à pista

Com sete voltas para o fim, Prost tirava as chances do único rival ainda na briga pelo título. Soltou o cinto, levantou-se do carro e foi embora.

Senna, por sua vez, gesticulava de dentro do cockpit para que a pista fosse liberada. Conseguiu, e ainda teve o carro empurrado pelos agentes de segurança. Passou por fora do traçado, voltou à pista e seguiu acelerando, recebendo uma ovação do público.

Ainda líder, Senna parou nos boxes para trocar a asa dianteira, que havia sido avariada na batida e atrapalhava toda a aerodinâmica do carro. Trocou e voltou atrás da Benetton de Alessandro Nannini, que herdou a primeira posição a cinco voltas para o fim.

Naquele momento, em segundo, o brasileiro já não tinha chances de título – o resultado daria o título a Prost. Então, Senna acelerou para alcançar Alessandro Nannini.

Não demorou. No fim da volta 51, Senna botou pela direita para entrar na mesma chicane do acidente e atacou; Nannini travou os freios, mas evitou o choque e perdeu a liderança. A partir daí, Senna manteve o ritmo forte cruzou a linha de chegada em primeiro lugar, tendo a Benetton do italiano a 2.297s. Riccardo Patrese, da Williams, foi terceiro.

Senna venceu, mas Nannini venceu

Com o resultado, Senna embarcaria para a Austrália com uma desvantagem de sete pontos (76 a 69) para Prost. No entanto, ainda no decorrer da corrida, era sabido que a volta do brasileiro à pista após o acidente da volta 46 precisaria ser analisado para que o resultado se tornasse oficial.

Com os carros já nos boxes, apreensão e expectativa. E após longa espera, Alessandro Nannini foi ao pódio para receber o troféu pela primeira vitória da carreira na F1. As duas Williams completaram a premiação, com Riccardo Patrese em segundo e Thierry Boutsen em terceiro.

Ayrton Senna havia sido desclassificado após uma denúncia da Benetton, que alegou que o brasileiro levou vantagem ao cortar a chicane por fora após o enrosco com Prost. Os comissário avaliaram o caso e desqualificaram o piloto com base no artigo 56 do código disciplinar da F1, que alegava um piloto parado na pista pode ser removido para um local mais seguro, mas só pode voltar à pista se conseguir fazer o motor do carro funcionar e se não cometer uma irregularidade.

A irregularidade, no caso, teria sido o fato de cortar a chicane e voltar pela área de escape. De quebra, o presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), Jean-Marie Balestre, considerou que o brasileiro conseguiu fazer o motor pegar contando com o empurrão dos agentes de segurança.

“Senna foi empurrado para colocar seu motor em funcionamento e estacionar o carro seguro, e não para voltar à pista”, afirmou Balestre, francês como Prost. Anos depois, em 1996, o dirigente admitiu ter usado sua autoridade para desclassificar Senna, garantindo o tricampeonato ao compatriota.

No fim, Nannini venceu, Senna não pontuou e Prost ficou com o título. Ambos abandonaram o GP da Austrália, e terminaram com a mesma pontuação conquistada no GP da Espanha: 76 a 60.

Em 1990, o troco

Prost deixou a McLaren e foi para a Ferrari. Em 1990, ambos chegaram ao Japão para uma decisão do título, desta vez com Senna tendo nove pontos de vantagem (78 a 69) e Prost precisando vencer para forçar o adiamento da decisão.

Na largada, Prost passou Senna. Na curva 1, o brasileiro botou por dentro e os dois se enroscaram. A Benetton venceu com uma dobradinha brasileira: Nelson Piquet em primeiro, Roberto Pupo Moreno em segundo.

Com nove pontos de desvantagem, em uma época em que a vitória rendia nove pontos, Prost no máximo poderia alcançar a pontuação de Senna caso vencesse na Austrália e o rival zerasse. No entanto, os dois teriam a mesma quantidade de vitórias (seis) e de segundos lugares (dois).

O desempate viria na quantidade de terceiros lugares, na qual Senna tinha três e Prost tinha um. Curiosamente, o francês foi terceiro em Adelaide, prova na qual Senna não chegou ao fim.

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